Que balanço faz da sua experiência como apresentadora de “Peso Pesado”?
Entrei para a Herdade com o espírito aberto. Decidi que iria deixar as coisas fluir, até para me descobrir a mim própria enquanto apresentadora no formato de um programa em que estamos o dia todo com os concorrentes. Comecei com as provas e com os desafios e depois com as pesagens, mantendo sempre muito presente o respeito por estas pessoas que têm a coragem de mudar de vida.

Uma experiência que envolveu muito sofrimento?
Todos os que passaram por ali tiveram uma experiência muito dura porque cortar com hábitos alimentares, começar com uma educação física totalmente diferente e superar-se o tempo inteiro, mudando radicalmente os hábitos de vida, envolve muito sofrimento.

Lidar com a superação desses limites também não deve ter sido nada fácil…
O que eu senti, a partir de uma determinada altura, é que o “Peso Pesado” também existe enquanto jogo. Ou seja, eles próprios, para se manterem na Herdade, vão jogando, vão usando estratégias, dão-se melhor com uns do que com outros, têm alianças sub-reptícias, daí, nas pesagens, eu falar em alianças virtuais que eles diziam não existirem. O que é certo é que vivi com eles as vitórias que eles conquistaram e as derrotam que foram acontecendo.

Restam os melhores?
Restam os que foram resistindo passo a passo, os que se foram ultrapassando, pessoas que a partir de agora vão ter uma vida realmente diferente.

Todos os concorrentes?
Não todos, mas a grande maioria sim. Não tenho a menor dúvida. E quando falo de vitórias, de estar com eles nas vitórias, falo no sentido das pequenas conquistas: traçar a perna, apertar os sapatos, pegar num filho ao colo, levar outro à escola, tudo isso é saúde, é vida, são pequenas vitórias que acabam por ter uma grande dimensão.

Já alguma vez se comoveu com os concorrentes?
Já. Tantas! No “Peso Pesado”, quando estou na pesagem, que é quando estamos ali cara a cara com cada um, adoto tudo o que fui aprendendo sobre eles, mas adoto também o ponto de vista do espetador, ou seja, estou sempre do lado do espectador. Aliás, nunca olho para a câmara, os meus olhos estão sempre nos concorrentes.

Nunca tinha reparado…
É verdade. Desde que o programa começa até que acaba nunca olho para a câmara, a não ser na ação de solidariedade que acabámos de fazer para a Associação CASA, em que distribuímos comida aos sem-abrigo. De resto a minha presença no programa é sempre de alguém que lhes troca as voltas e que lhes propõe os desafios.

O “Peso Pesado” é muito humano. Gostou dessa faceta do programa?
Tem uma carga humana muito grande e, por vezes, não foi fácil para eles. Claro que o início é sempre mais difícil, a adaptação nem sempre é fácil, mas, de facto, o ser humano adapta-se e sobrevive a tudo. Anda para a frente e eu vi-os a começar a andar para a frente! E isso, a todos os que acompanharam o “Peso Pesado”, ninguém tira.

O programa está a servir de motivação aos obesos portugueses?
Está e isso é muito interessante porque estamos a falar de uma doença, de pessoas que têm excesso de peso, e, graças ao programa, estão determinadas a perder os quilos que têm a mais. As pessoas estão motivadas para se educarem e mudar os seus hábitos de vida.

Que tipo de hábitos é que as pessoas estão a mudar?
Começaram a andar a pé. Há pessoas que atravessam a cidade inteira a pé para ir ver o rio ou para levar as crianças ao Jardim Zoológico. Isto é maravilhoso. E quando lhes pergunto como adquiriram estes novos hábitos, respondem-me sem hesitar: “Com o Peso Pesado!”

Como vai ser o seu Natal este ano?
Vai ser em família, como sempre, e também está a ser nas inúmeras ações de solidariedade em que participo nesta altura do ano. E não só, ao longo do ano também me chamam para as mais diversas atividades de caráter social. E eu participo sempre com muito gosto e empenho. Claro que na altura do Natal a densidade é maior porque há uma multiplicação de ações muito grande.

Para si o Natal começa sempre mais cedo?
Começa com este turbilhão de ações na época natalícia. Para mim, distribuir refeições aos sem-abrigo ou vender pequenos presentes para angariar fundos para a Unicef já faz parte do Natal.

(Texto: Palmira Correia)