Aos 57 anos, o fadista António Pinto Basto vive sozinho, em Alcochete, num pequeno mas sofisticado apartamento em frente ao estuário do Tejo. Um refúgio "sobretudo acolhedor", nas palavras do anfitrião.

A casa está repleta de troféus e galardões, móveis rústicos, quadros, pratos e porcelanas, arte africana, objectos de família e provenientes das mil e uma viagens que o artista tem feito um pouco por todo o mundo. É, enfim, um apartamento cheio de memórias.

Divorciado e pai de cinco filhos, António Pinto Basto escolheu Alcochete para viver, logo que se separou. Gostou da tranquilidade da zona, da beleza do estuário, do preço das casas (mais baratas do que em Lisboa) e da proximidade da capital.

O escritório é o local propício quando o fadista se sente inspirado para cantar, "amadurecendo e interiorizando o Fado". É nessa divisão da casa que passa "mais tempo, agarrado ao computador, a ler e-mails". E até já aderiu às redes sociais: "Estou há um ano no Facebook, faz parte...".

Uma pequena sala (um segundo hall), contígua ao escritório, expõe discos de prata, ouro e platina que o fadista amealhou. São 40 anos ligados ao Fado e mais de 20 como profissional. Em lugar de destaque está o álbum "Rosa Branca", que o catapultou para a ribalta em finais dos anos 80 e o fez largar a profissão de engenheiro.

A viver sozinho, António Pinto Basto também passa algum tempo na cozinha, agarrado aos tachos. "Com a ajuda dos novos robôs, destas novas tecnologias, fui-me dedicando mais à cozinha. Sou um homem do petisco, faço umas receitas de polvo muito boas, adoro os petiscos à alentejana, a açorda, a poejada [prato de feijão com bacalhau e poejo] e a dourada ao sal, que fica muito bem embora não seja uma coisa propriamente portuguesa", desfia, assumindo-se apreciador de vinhos, sobretudo tintos, "alentejanos e do Douro".

Não passa muito tempo na sala. "Vejo muito pouca televisão", embora ouça "alguma música". Mas de vez em quando, este espaço enche-se de alegria. São as visitas dos filhos: cinco! Pinto Basto apresenta-os: "O Egas é o mais velho, tem 21 anos, estuda Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico e, tendo uma voz muito bonita, gosta muito de cantar. O segundo mais velho é o Gustavo, com 19. É estudante de Veterinária e dá aulas de viola, tocando muito melhor do que eu! (risos). Tem alma artística, tanto é assim que toca, compõe e faz letras. Já fez três faixas para mim, duas delas já gravadas e que entram no meu próximo CD. A Maria Amélia tem 17 e quer seguir Gestão e Investigação Criminal. Depois, há os mais novos: a Carlota, com três anos e meio, e o António, com dois".

O fadista orgulha-se de manter uma "ligação a 100%" com os seus cinco filhos, passando algum tempo com eles, "em separado e, algumas vezes, todos juntos". Uma família feliz, com uma casa com vista para o estuário do Tejo, que se reúne quando a vida o permite.(Texto: Nuno Trinta de Sá)  

(Fotos: Bruno Raposo/SapoFama)