O Fama ao Minuto esteve à conversa com Gustavo Santos, na qual, além do seu percurso profissional, também se abordou a sua vida pessoal. Atualmente num relacionamento com Sofia Lima, foi ao lado da engenheira do ambiente que construiu uma família da qual se orgulha. O nascimento do primeiro filho de ambos, Salvador, a 3 de dezembro de 2016, foi um reforço de peso para o conceito de amor que o entrevistado faz questão de alimentar a cada momento.
Ser pai era um objetivo ou um sonho?
Nem uma coisa, nem outra. Andei 37 anos da minha vida a negar a paternidade.
Porquê?
Dizia "não quero isto, não tenho paciência para putos, choram muito, criam muita dependência", etc. Depois encontras a mulher certa e tudo faz sentido. É curioso porque a mulher com quem estou também andou 30 anos da vida dela a negar a maternidade. O Salvador já tem três meses e nós estamos juntos há quase um ano e meio.
Foi o meu cão que me ensinou a ser pai
De que forma o Salvador contribuiu para a sua mudança?
Surpreendo-me a mim próprio todos os dias. Porque 37 anos a negar uma coisa e de repente estar a lidar com ela é um teste, uma experiência absolutamente fascinante. Também já necessitei que me tratassem desta maneira. Para já é um mestre, seguramente, porque qualquer alma, qualquer pessoa que venha trabalhar em nós processos de amor incondicional é um mestre. Assim como o meu cão, para mim é um mestre há sete anos.
Já tive uma conversa com o meu filho, embora ele não entenda. Disse: "Este que está aqui [o cão] foi o que ensinou o pai a ser pai". Isso emociona-me porque o meu cão ensinou-me mesmo a trabalhar processos em mim que precisava para crescer e para agora estar preparado para abraçar o meu filho de forma incondicional. Foi o meu cão que me ensinou a ser pai. O meu filho está agora a usufruir disso.
Quais os aspetos que mais valoriza na educação do Salvador?
Há duas questões para mim no meu filho que são fundamentais: primeiro, liberdade. Nunca lhe vou dizer que ele tem de seguir isto, ou tem de seguir aquilo. Só tem de me arranjar uma justificação para fazer um caminho qualquer. Não é, não quero ir à escola porque não, isso não faz sentido. Agora se quiser desistir de um curso superior, ou não ir para a faculdade porque o caminho é por ali, então liberdade.
O meu filho terá sempre de mim liberdade, mas com responsabilidade. E como sou um homem extremamente exigente, a responsabilidade é um dos valores que vem logo acima nos valores humanos. Segunda: condições, de todo o tip. Afetivas, amor incondicional, financeiras, para que nunca falte nada em casa e para que possa ter uma base sustentável como nunca tive. Quero viver a família como nunca percebi que a minha poderia ser. A minha era completamente desajustada, desafinada e é por isso que para mim o conceito de família não fazia sentido nenhum.
O filho jamais poderá ser a coisa mais importante da vida de uma mãe
De todas as falhas que sentiu enquanto filho, qual a que pretende evitar cometer com o Salvador?
Uma coisa importante que vai existir com o meu filho é a não cobrança. Quando uma mãe chega e diz que o filho é a coisa mais importante da vida dela é porque quando ele nasceu não tinha vida própria. O filho jamais poderá ser a coisa mais importante da vida de uma mãe. Não vai ter a capacidade de o ajudar porque está a sofrer ao lado dele.
Mesmo com um filho, continuo a ser a pessoa mais importante da minha vida. Essa é a forma de o educar para quando ele crescer também ser a pessoa mais importante da vida dele. O amor só cresce se o semearmos primeiramente em nós. A cobrança surge porque ponho o outro à minha frente, faço tudo por ele, depois quando ele não faz por mim, cobro. É horrível! A grande parte das famílias relaciona-se assim. O relacionamento deles não é de amor é de medo. É à condição. Isso não é amor.
Entre o meu filho e a minha mulher, a minha mulher vem sempre em primeiro lugar
É mais difícil ser pai ou ser marido?
Uma coisa é certa, entre o meu filho e a minha mulher, a minha mulher vem sempre em primeiro lugar. Isso não há hipótese, para mim é 'clarinho'.
Mas há casais que se afastam com a chegada dos filhos...
Porque já estavam afastados. É como se o filho fosse a rutura, mas não, a rutura já havia. O filho não é a rutura, é o compromisso de família. É a união, o laço, a aliança. Agora, quando se tem um filho para ver se se salva o casamento, claro que isso não vai acontecer. Um filho tem de nascer em amor. É exigente? É. Há momentos de cansaço? Imensos. Mas continuo a passear com a minha mulher com a mesma frequência, só que ele vem connosco.
Quando deixar de viver do leite materno, a primeira coisa que vamos fazer é colocá-lo nos avós e fazer uma viagem os dois. A única forma de a família se dar é o pai viver a vida do pai, a mãe viver a vida da mãe, o filho viver a vida do filho. A minha mulher poderá sempre dizer o que quiser ao meu filho, o meu filho não pode dizer tudo o que quer à mãe, jamais!
Às vezes é um amor que até fico a pensar: ‘Não sei se esta vida chega para eu viver tudo contigo’
O que é a que sua mulher tem de especial?
O que tem de especial? Mais do que um reencontro de almas, tem uma candura, uma doçura, uma ingenuidade, uma pureza dentro dela absolutamente extraordinária. É uma mulher muito ligada também ao cuidar dos outros, mas não um cuidar que seja um descuido para ela. É uma pessoa que se ama, que se respeita, que vive a sua paixão e a partir daí leva a força aos outros de uma forma muito bonita. É a mulher da minha vida. É um amor muito bonito que nós estamos a viver. Às vezes é um amor que até fico a pensar: ‘Não sei se esta vida chega para eu viver tudo contigo’.
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