Ana Sofia Martins, 28 anos, cresceu no problemático bairro da Outurela, em Lisboa, mas, aos 14 anos, saltou os muros dos preconceitos para desfilar pelas mais conceituadas passerelles mundiais. Depois de se ter estreado como apresentadora de televisão, em 2014, prepara-se, agora, para concretizar outro sonho: ser atriz.

Vai estrear-se como atriz na próxima novela da TVI “A Única Mulher”. Como encarou este desafio?
Sou uma pessoa que mergulha de cabeça e a minha vida tem sido toda assim. Depois de entrar nas coisas é que me apercebo da responsabilidade que isso acarreta e faz-se o clique. No entanto, é esse clique me faz ser perfecionista e não me deixa estagnar. Desde que regressei a Portugal, há dois anos, a vida tem-me corrido lindamente. Comecei com a MTV, fui um bocadinho à SIC Mulher (“A minha vida dava um blog”) e agora estou na TVI.

Além do mais, a Ana Sofia entra nesta novela como uma das protagonistas. Isso traz-lhe algum receio?
Não diria receio… Quando a minha agente me ligou e disse que ia entrar na novela, achei que era para um papel secundário. Quando ela me disse que ia ser protagonista, pensei “Ai! E agora?”. Ora, agora, é trabalhar, porque se eu aceitei este desafio tenho que provar às pessoas que acreditaram em mim que estou à altura. E julgo que estou, porque com trabalho tudo se consegue. Os meus colegas têm sido muito generosos comigo e espero que as pessoas também sejam e percebam que esta é a minha estreia na representação. Se virem algum episódio e não gostarem, vejam mais dois ou três para terem a certeza! (risos).

Está preparada para as críticas?
Criticar com critério é uma coisa muito importante e julgo que os portugueses poderiam ser um bocadinho melhores nisso. Às vezes deixamo-nos influenciar pela opinião dos outros.

Mas costuma deixar-se influenciar pelas críticas?
Não, porque já sou criticada desde os 14 anos. Ou porque não sou alta o suficiente, ou porque me falta rabiosque, ou porque não tenho maminhas, ou porque andei mal no desfile… A minha profissão como modelo ajudou-me a ter um calo para a vida que me permite lidar bem com isso. Gosto de críticas construtivas e estou a trabalhar para que esta novela seja um sucesso e para estar à altura do meu “co-star” (Lourenço Ortigão).

E o tem feito para se preparar?
Tenho feito muito ‘coaching’, comecei logo no verão, mal soube que ia entrar na novela. Além disso, o Lourenço é um ator super-generoso e acho que não me podia ter calhado um colega melhor.

A história da sua personagem em “A Única Mulher” gira em torno do preconceito e do racismo. A Ana Sofia alguma vez se sentiu discriminada?
Já, na minha profissão, mas eu relativizo sempre. O racismo, para mim, é um sentimento ignorante e só posso sentir compaixão e pena por essas pessoas. Espero que esta novela ajude a curar essas mazelas que alguma gente tem. O racismo cura-se no coração e é isso que as pessoas têm de perceber.

Sendo esta a primeira novela a abordar esses temas, isso traz-lhe uma responsabilidade acrescida?
Há um peso na responsabilidade de ser a primeira, portanto, tem de sair bem. Temos de começar a desmistificar alguns preconceitos que existem em relação aos negros e brancos e esta novela quer ajudar.

Entrando na novela, como vão ficar os seus restantes projetos profissionais, como o blogue, o programa na SIC, a moda?
O programa na SIC acabou, o meu blog mantém-se e a MTV deixou-me a porta aberta, porque temos uma relação muito próxima. Agora estou cem por cento dedicada a este projeto da TVI.

Como irá ser a sua personagem?
Será a “Mara Venâncio”, 25 anos, enfermeira, uma mulher de personalidade muito forte que vai lutar por um grande amor e deparar-se com muitos obstáculos, a começar pela cor da pele. A cor continua a ser uma barreira. Espero que a cumplicidade e a química entre a minha personagem e a do Lourenço passe lá para casa, porque nós gostamos mesmo muito um do outro.

No fundo, vai interpretar muitos dos aspetos da sua vida real…
Em algumas coisas sim, noutras não. A “Mara” quando tem algum problema fica agarrada a ele, e eu não. Tenho que ultrapassar os problemas, porque penso que se ficarmos presos no passado, a nossa vida nunca vai evoluir. Já tive tantos problemas na minha vida, quer a nível familiar, quer no meu percurso, que se tivesse ficado presa naquilo não estaria aqui hoje a ser protagonista de uma novela. Isso emociona-me.

Sente que pode ser um exemplo?
Venho de um meio que não é cor-de-rosa e acho que há muitas meninas que olham para mim como uma inspiração. Julgo que este projeto vai fazê-las sonhar, vai fazê-las acreditar que também é possível acontecer com elas o que aconteceu comigo. Estou aqui como a Ana Sofia, mas também como a Maria, a Cristina, a Neuza… todas as meninas que olham para mim e me vêem como inspiração e que estão nos seus bairros, como eu já estive, a pensar: ‘Será que um dia eu vou conseguir?”. Vão conseguir! A sorte existe, mas também é trabalhada.

Como tem sido a reação da sua família e do seu namorado?
Tenho recebido apoio de todos, da minha família especialmente do meu irmão, que é ator, e do meu namorado. O Tomás (namorado) está super-contente por mim, ajuda-me a ensaiar lá em casa, embora descambe sempre em gargalhadas, porque ele começa a ler como se fosse poesia. Mas é bom, porque isso acalma-me. Todos me têm ajudado e gostava que vocês conseguissem transmitir como estou mesmo feliz. Os sonhos realizam-se e eu sou a prova disso!