Leonor Noronha é uma exceção num país onde fazer voluntariado ainda está longe de fazer parte das prioridades sociais da maioria, como a Confederação Portuguesa do Voluntariado confirma. Apesar da vida agitada, todas as semanas, dedica duas horas ao projeto Re-food, em Alfragide, nos arredores de Lisboa. Prepara e embala comida para distribuir por quem precisa. «Dar sem compromisso é uma das maiores dádivas da vida», considera.

«Proporcionar felicidade e harmonia a quem mais necessita é o melhor que o voluntariado já me trouxe», refere mesmo. Apesar de residir na Amadora, em 20 anos, o voluntariado já a levou até ao Porto para um projeto do Bairro do Amor - Associação de Solidariedade Social que melhorou a vida de um grupo de crianças e jovens residentes num lar. «Comprámos camas, colchões, estrados, lençóis, edredãos e cortinados», conta.

«Fizemos almofadas e tapetes. Ilustradores voluntariaram-se e criaram quadros para as paredes. Entrámos num lar frio e deixámos paredes coloridas, quartos mais aconchegados e personalizados. Cada menina escolheu o seu edredão, as suas almofadas e as suas ilustrações. Perceber naquelas caras a importância de poder escolher algo, ao seu gosto, foi mágico. Foram sorrisos e lágrimas, de alegria, que nunca vou esquecer», assegura.

«Quando entramos numa loja e escolhemos aquilo que queremos comprar, de forma livre e espontânea, não temos a mínima noção da nossa sorte e, sobretudo, do privilégio [que temos]. Foi das experiências mais gratificantes da minha vida», admite. Os que fazem do voluntariado um modo de vida regular dizem o mesmo. O problema é que muitos só se lembram dos outros nos momentos em que a solidariedade é mais mediatizada.

«Os portugueses mobilizam-se bastante de forma livre por causas momentâneas e isso é maravilhoso. É uma das características fantásticas que temos. Mas precisávamos de ir mais além. Estas manifestações deviam ser mais estruturadas e continuadas no tempo. Faz falta que as pessoas se mobilizem de forma sistemática», disse à Rádio Renascença Susana Queiroga, membro da Confederação Portuguesa do Voluntariado.

Instituições e causas que precisam de voluntários

Para fazer a ponte entre os que querem ajudar e os que precisam de ser ajudados, foi criada a Bolsa do Voluntariado. Depois de efetuarem o registo, os interessados têm acesso a oportunidades de voluntariado nas mais diversas áreas, da solidariedade social à saúde, passando pela educação, pela cidadania, pelos direitos e pelo ambiente. Vanda Gonçalves, mergulhadora, por exemplo, preferiu ajudar animais em vez de pessoas.

E é entre eles, na Baía dos Golfinhos do Jardim Zoológico de Lisboa, enquanto limpa a piscina e os mima, que vive momentos únicos. «Mais do que ajudar, foi um enorme divertimento», escreveu nas redes sociais, depois de publicar uma fotografia com os mamíferos. Anualmente, a 5 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional do Voluntariado. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1985.

Texto: Luis Batista Gonçalves