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We Trend for Shoes (WTF Shoes)

, uma comunidade pro bono, nasceu para divulgar o calçado português, fazendo dele tendência, dentro e fora de portas. O projeto surgiu pelas mãos de Patrícia Valério, uma apaixonada por sapatos que, aproveitando uma situação de desemprego, procurou fazer algo útil e que contribuísse para tirar o país da crise em que se encontra.
“Quando olham para o nome, muitos podem pensar no jargão anglo-saxónico que pode ser associado a WTF Shoes, mas pensem mesmo, porque é esse tipo de reação que queremos provocar. O tipo de reação que vamos provocar. Porque são tendências, vamos criar tendências de calçado português para portugueses e para os cidadãos do mundo”, afirma Patrícia.
O calçado português sempre foi muito associado a um design mais rude mas confortável. No entanto, nos últimos anos esta concepção sofreu uma viragem. Para Patrícia Valério “o calçado português é neste momento definido como um mash up de design jovem e inovador, com a qualidade artesanal dos nossos anciãos”.
Começaram a sair das faculdades novos designers que quiseram apostar nas suas marcas próprias. “Aqui acontece um fenómeno interessante de muito valor acrescentado”, refere Patrícia, “que é vermos novos talentos a trabalharem com as fábricas de sempre, onde já existe o know how e conhecimento do artesãos, que vem de há muitas gerações. Tem também havido aposta em novos materiais, como a cortiça, que anteriormente era apenas utilizada como componente de calçado”.
A WTF Shoes já identificou mais de 150 marcas nacionais e diariamente entra em contacto com várias empresas que se dedicam exclusivamente à exportação e comercialização fora de Portugal. “Há marcas que exportam 100% da sua produção, e que só muito recentemente apostam em criar a sua própria marca, quando apenas fabricavam para private labels”, indica Patrícia.
O relatório World of Footwear Yearbook 2012, da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), revela que Portugal está no top 10 dos exportadores de calçado mundiais em quase todas as categorias de calçado. As exportações cresceram 21% em valor, nomeadamente numa altura em que se fala de uma crise global. Portugal apresenta também o valor mais alto por par exportado - cerca de 32 dólares - só superado por Itália, "o que revela que o sapato português é um produto qualificado como "caro", mas que vende, devido a uma aposta cada vez mais na qualidade e não necessariamente na quantidade", explica a curadora da WTF Shoes.
França, Alemanha, Holanda e Espanha estão entre os principais países para onde vai o calçado português. Também a Dinamarca tem apostado nos sapatos nacionais, assim como os EUA, Rússia, Brasil, Angola, Japão e Austrália. “Tal como os navegadores portugueses, o calçado português está por todo o mundo!”, brinca Patrícia.
A comunidade WTF Shoes tem vindo a crescer e tem já em curso um projeto aprovado em crowdfunding, em

www.ppl.com.pt

, que em breve estará aberto à colaboração de todos e que ajudará a implementar e financiar o negócio.
Como amante de sapatos, Patrícia Valério sabe que há marcas internacionais excecionais que não devem nem podem ser esquecidas. No entanto, acredita que o que é português deve ser valorizado “porque temos valor acrescentado, design, know-how, tradição, herança familiar, inovação e tanto, tanto mais para dar”.
12 de fevereiro
Rita Afonso