Abba, Beatles, Nicole Kidman, Mick Jagger,  Freddie Mercury, Rolling Stones, todos passaram pela sua mesa. Dançou com Ronnie Wood, recebeu uma serenata de  Noel Gallagher, foi beijada pelo George Michael e condecorada pela Rainha Isabel II. Ela é Rita, a mais antiga empregada do Hard Rock Café. 

Com 72 anos e ainda cheia de energia, Rita Gilligan é um baú de grandes memórias. Chegou ao Hard Rock em 1971 para servir à mesa e hoje é embaixadora da marca, viajando por todo o mundo para transmitir uma mensagem simples: “Love all, serve all (ama todos, serve a todos)”. 

“Eu amo as pessoas, todas as pessoas. Não importa se é o Mick Jagger ou o Paul Mccartney, somos todos um. Se sentar na minha mesa é meu amigo. Não interessa se deixa gorjeta ou não”, diz Rita, esclarecendo que é isso que faz do Hard Rock um lugar especial, onde o objetivo é conseguir que quem entre “faça parte desta família”.

“O Hard Rock é sobre memórias. Não quero que as pessoas voltem e digam só que correu bem. Eu quero que digam: nós fomos ao Hard Rock e foi fantástico. Todos têm de voltar a casa com uma memória”, diz a empregada de mesa, salientando que as pessoas hoje têm poder de compra e podem escolher onde ir, sendo cada vez mais importante “tomar conta do cliente”.

O amor ao serviço corre no sangue de Rita, ou Lovely Rita, como é conhecida, mas o fascínio por esta empregada de mesa, que tem fãs em todo o mundo, está sobretudo relacionado com a sua vida incrível. Rita cruzou-se com algumas das maiores estrelas da história: serviu, dançou e brincou com muitas delas.

“Ronnie Wood estava no Hard Rock no 10º aniversário da filha Leah e perguntou-me onde ficava a casa de banho. Eu respondi-lhe que pensava que me tinha chamado para me convidar para dançar. Ele respondeu: E Porque não? Dançamos ali mesmo”, conta Rita, que ainda teve o prazer de bailar também com Noel Gallagher . 

Quando a incentivamos a revelar um pouco mais destes momentos, recorda o dia em que conheceu Eddie Murphy, na inauguração do primeiro Hard Rock nos EUA, uma das aberturas mais incríveis de que tem memória. 

“O segundo Hard Rock foi aberto em 1984, em Nova Iorque. Foi lindo. Lembro-me que estava a almoçar com amigo que me perguntou: Rita já conheces o meu amigo Eddie Murphy? Eu nunca tinha ouvido falar do Eddie Murphy, era a minha primeira viagem aos EUA. Pensei devia ser irlandês, já que se chamava Murphy. Descemos as escadas e ele começou a chamar:  - Hei Eddie, Eddie. E este homem negro olha para mim e eu fiquei em choque,  e olhei para o meu amigo e disse: eu pensava que era irlandês ao que ele respondeu: é o meu irlandês negro”, recorda Rita.

Como estes são muitos os momentos caricatos e especiais da vida de Rita, que recorda ainda ter servido às mesas com papel metido nos ouvidos no primeiro concerto alguma vez dado num Hard Rock, autoria de Paul McCartney. “O som estava tão alto”.

Apesar de garantir que será sempre uma empregada de mesa, Rita já não serve mesas há 18 anos e tornou-se uma celebridade também, tendo sido destacada pela Rainha Isabel II pelos seus serviços ao país no âmbito do turismo. “A cerimonia foi no Hard Rock porque se não fosse pelo Hard Rock nunca teria sido condecorada”, conta a embaixadora da marca que hoje se dedica a eventos de promoção e solidariedade. 

E tudo começou com um anúncio de jornal...

Rita nunca imaginou vir a trabalhar num sítio assim. Filha de pais conservadores e já casada, tinha 29 anos quando se deparou com um anuncio no jornal onde procurava mulheres com idades entre 30 e 50 anos para servir à mesa. 

“Naquela altura se tinhas 30 anos não conseguias um trabalho e estarias em casa, com filhos, marido, uma hipoteca”, começa por contar Rita, que recorda ainda que não foi fácil encontrar o Hard Rock Café porque “ninguém tinha telefone naquela altura”.

“Assim que me aproximei do café estava lá um homem de cabelo comprido e calças de ganga. Eu nunca tinha visto coisa semelhante, estava habituada a visuais conservadores.”, diz Rita, recordando como, sem querer, acabara de ignorar Peter Morton, o seu futuro patrão e fundador do Hard Rock Café. 

“Normalmente quando se ia a uma entrevista de trabalho não se falava a não ser que lhe fosse dirigida a palavra. Mas ele sentou-se de lado, estava a fumar e a beber pela garrafa. Eu estava habituada a uma postura mais conservadora, lugares finos e pensei: Oh minha nossa, o que se está a passar aqui?”, lembra Rita com um sorriso. 

Com apenas 29 anos, Rita disse a Peter Morton que tinha 32 e, ainda assim, ele achou-a muito nova. “Eu respondi-lhe: olhe não vai encontrar melhor que eu, é melhor ficar comigo. Ele deu-me levantou a mão e fez um ‘dá cá mais cinco’. Eu nem sabia o que era aquilo”. 

Peter deixou-se conquistar por Rita e ela apaixonou-se profundamente por aquele espaço e aquela vida. Nunca se sentiu tentada a sair, garante. “O meu trabalho era melhor do que o da Rainha de Inglaterra. Eu tinha o melhor emprego do mundo. Trabalhar era uma festa e ainda é!”, assegura Rita.

“O Hard Rock mudou a Europa, mudou a cultura, porque se livrou da rigidez. Beatles, The Stones, Freeddy Mercury, todos gostavam de lá ir porque era um sítio onde podiam pegar no hambúrguer com a mão sem pensar nos oito garfos. É uma questão de liberdade”, diz a embaixadora da marca.

Rita Gilligan está em Portugal no âmbito da celebração dos 10 anos do Hard Rock Lisboa, a ter lugar dia 12 de junho, e o seu objetivo é continuar a correr o mundo a fazer aquilo que mais gosta: “Posso ter mais 50 anos disto? Acho que não. Se eu cair morta no trabalho, que se lixe, foi divertido!”

@Entrevista e fotografia: Inês F. Alves