Todos os anos os discursos públicos parecem uma velha que se repete. A Comunicação Social estendeu-se às “redes sociais”, talvez, na actualidade, a mais influente fonte de opinião. Se o trabalho jornalístico é, pelo menos no que respeita às questões da saúde, feito de uma forma apressada, impreparada e sensacionalista, o que se lê na “vox populi” digital é patético, e reflexo de uma sociedade sem a exigência da reflexão séria, e sem os necessários instrumentos para pensar.

Insisto numa frase que, de tanto a repetir, já me cansa: “Ter opinião dá muito trabalho”. É preciso estudar, ou seja, analisar o problema sob diversos ângulos, auscultar posições diversas, ajuizar do valor relativo das fontes, depois de ter adquirido o conhecimento base que permite reflectir sobre o problema. Além do mais é necessário um método, um instrumento aperfeiçoado do pensamento que não nos deixe cair na tentação da aparência, tantas vezes usurpadora da verdade.

Tenho de reconhecer que os próprios profissionais da saúde são, muitas vezes, co-responsáveis pelo caos da “informação “ contraditória ou simplesmente falsa. Com frequência, pasme-se, por ignorância, outras por enviesamentos de posições que têm, eventualmente como base, conflitos de interesse.

A relação simbiótica entre os meios de comunicação e os profissionais menos respeitados pelos seus pares é muito curiosa, e bastante perigosa. Tanto Charles Darwin como Albert Einstein, no relato das suas descobertas começavam de forma hesitante: “Creio que… julgo que…”. Os Génios duvidam.

Mas a dúvida científica não empolga, não anima, pois mais do que o caminho já feito, indica o outro tanto que é necessário fazer. Em vez de clamar: Já chegámos! Sussurra: Ainda falta…”. Este sentimento não é compatível com audiências entusiasmantes. Preferível é, do ponto de vista comercial, apresentar “técnicos” que de voz melíflua entornam aquelas citações de facebook em fundos tom de violeta, ou outros que desafiando tudo o que se conhece, aconselham banhos de sol ao meio-dia. Só é notícia o homem que mordeu o cão.

Perguntam-me, por vezes, qual o dever mais importante do professor. Creio que é, primeiro, formar o carácter dos seus alunos, estimular a sua curiosidade, ensinar a seleccionar a informação, a reflectir sobe ela, e duvidar, sempre, do seu julgamento, pois é bem provável que não seja o final.

Dr. Nuno Lobo Antunes, Neuropediatra e Diretor Clínico do PIN