Ter ar de futebolista já não é o que era. Melhor dizendo, para muitos já não é o que era. Por detrás de um grande futebolista, está um homem que tem pinta ou não. Não tendo, equipa nenhuma do mundo (ou marca de moda) o pode salvar. Os óculos Dolce & Gabbana, as calças Giorgio Armani, os boxers Calvin Klein (à vista), a camisa preta e cintilante, tudo a gritar «Olhem para mim, sou jogador da bola e tenho dinheiro».

Durante anos, este foi o cenário do verdadeiro futebolista. Os meninos da rua, que jogavam à bola com a vizinhança, na falta de vídeojogos, cresciam com ginga no pé e, para sua grande surpresa, tornavam-se ricos e famosos. Naturalmente, este novo-riquismo falaria mais alto e os grandes carros e os diamantes nas orelhas acabavam por criar uma raça que, convenhamos, ficava 100 vezes melhor em campo, equipada (até suada!) do que mascarada à jogador da bola.

Mas os tempos mudaram, este tipo de homem aprimorou e, muito graças à moda, o futebolista deixou de ser apenas o jogador da bola. Do ídolo em campo ao sex symbol fora dele, metrossexual em toda a linha, este é o novo homem que todos querem ser e que muitas querem ter! Em Portugal, longe que vai o período áureo de Luís Figo e Costinha, Cristiano Ronaldo e Miguel Veloso destacam-se neste perfil.

Cristiano Ronaldo surge no topo da lista, mas Samuel Eto’o, Matteo Ferrari, Iker Casillas, Thierry Henry, Mario Balotelli, Danny Welbeck, Michael Essien, Raul Meireles e Didier Drogba também se destacam. A revista Vanity Fair elegeu, em 2013, os 10 jogadores de futebol mais bem vestidos do mundo. Também a revista GQ elegeu Xabi Alonso, do Real Madrid, um dos 10 homens mais elegantes do mundo, ao lado do ator Ryan Gosling. Este tipo de escolhas tem muito que se lhe diga.

O futebol e a moda

Nem sempre o mais bem vestido é o mais estiloso ou este é o mais bem vestido. Nem sempre o que veste marcas tem classe ou o que tem classe usa marcas. Conceitos como o tal novo-riquismo e/ou as origens, na sua maioria humildes, de muitos jogadores de futebol, não ajudam à história. Dinheiro a mais e classe a menos. Isto, claro, generalizando. Estar bem vestido é uma coisa, ter estilo é outra e ser elegante é outra. A excelência atinge-se com a conjugação dos três. E são raros os que a têm.

Cristiano Ronaldo veste-se bem, mas o corte de cabelo, as patilhas e a forma de andar (e às vezes de falar) podem deitar tudo a perder. Por outro lado, chega-nos um David Beckham. Disse um dia o antigo futebolista George Best sobre o jogador britânico que «não chuta com a esquerda, não sabe cabecear, não sabe driblar e não marca muitos golos. Fora isso, ele é bom». Em termos de estilo, mais do que um (bom?) futebolista é uma verdadeira inspiração para o plantel feminino e até mesmo para a indústria da moda.

Para além da beleza física e de se vestir bem, é um homem com classe, elegante, tudo concentrado num corpo dos deuses. Em Portugal, temos Cristiano Ronaldo (que, há que admitir, está cada vez melhor), José Mourinho (que tem um acordo com a Giorgio Armani), o aristocrata André Villas-Boas, Luís Figo e Rui Costa (o único português mencionado no livro «Campioni» de Dolce & Gabbana) são alguns dos nomes que fazem furor lá fora… Antes deles, Luís Norton de Matos ou Humberto Coelho defendiam a palavra estilo de forma corretíssima, vestidos com fatos modernos e cortes de cabelo atuais.

Nos idos da década de 1970, Humberto Coelho vestia um casacão de peles sobre fatos, tal como os atores Richard Burton e Peter Sellers, os músicos Ringo Starr, Miles Davis, Mick Jagger, Jim Morrison e Rod Stewart ou os futebolistas George Best e Joe Namath, seguindo uma tendência que em Portugal poucos (ou nenhuns) ainda arriscariam… A verdade é que até aos anos da década de 1960, com toda a revolução nos costumes, a moda nunca esteve associada aos futebolistas, mas também não o estava aos homens. Foi a partir daí que o sexo masculino ousou ser trendy.

O futebolista português que perdeu o brinco

A abertura fez-se nos anos de 1950, no pós-guerra. O caso mais extraordinário entre nós, num Portugal provinciano e moralista, passou-se com o jogador do Benfica, Vitor Baptista, em 1978, quando, num jogo contra o Sporting, após ter marcado um golo, mandou parar o jogo durante cinco minutos para procurar o brinco que havia perdido durante os abraços dos colegas. O brinco, que usava na orelha esquerda, nunca apareceu… Felizmente, e apesar de culturalmente atrasados, já vivíamos em democracia e isso foi tolerado.

Seria um erro pensar que adorar os deuses do desporto é algo recente. Foi precisamente na Grécia Antiga, que, segundo a filosofia de Platão, os atletas eram vistos como arquétipos de beleza. No entanto, no futebol, por razões já pronunciadas, até à década de 1990, os futebolistas nunca foram vistos como homens de bom gosto. Vestiam-se bem, para os padrões masculinos, mas foi nos meados dessa década e a partir do novo milénio que começaram a figurar nas listas dos mais bem vestidos e a fazer publicidade.

No passado, destacava-se George Best, futebolista irlandês, considerado um dos maiores ídolos do United e o melhor jogador irlandês e britânico da história, que parecia uma estrela pop, com um estilo de vida desbragado. Nos últimos anos, sobressaíram, e sobressaem, jogadores que se distinguem pela boa compleição física e que são desejados pelas mulheres e admirados pelos homens, como é o caso de Del Piero, Hidetoshi Nakata, Gianluca Zambrotta, Juan Matta, Sergio Ramos, Antonio Nocerino ou Andrea Pirlo...

O pioneirismo de David Beckham

Mas a relação amorosa assumida entre a moda e o futebol começou com David Beckham a posar para Emporio Armani, em 2008, numa campanha de underwear. Hoje, podemos vê-lo no mesmo registo para a H&M. Ainda para a Emporio Armani posaram os portugueses Cristiano Ronaldo (foi numa dessas sessões que conheceu a namorada Irina Shayk) e Luís Figo, o francês Thierry Henry, os italianos Christian Vieri e Fabio Cannavaro e o menino bonito da seleção brasileira, Kaká.

A dupla Dolce & Gabbana foi mais longe, investindo na seleção italiana inteira num único shot. A Adidas, marca que faz todo o sentido neste contexto, apostou em David Beckham, Kaká e Messi, entre outros, na defesa do aclamado slogan «Impossible is nothing». Mas a jogada brilhante foi o baú Louis Vuitton que levou a taça do mundial até à África do Sul, há quatro anos. Golo direto. Uma situação que a marca repetiria quatro anos depois, no campeonato do mundo da FIFA, no Brasil.

Apesar do marketing e do objetivo cifrão por detrás de todos estes estratagemas, a moda aliada ao futebol também pode ser vista como uma forma de combater a homofobia e o machismo. Ele já não tem de ser um homem desleixado, com mau gosto e mal-amanhado, a cheirar a cavalo, como se dizia antigamente. Ele passou a ser um ídolo, muito além da bola. É um homem que se admira, como qualquer empresário de sucesso bem-parecido.

Por trás de um grande homem há sempre… uma mulher de jogador de futebol com estilo!

Assim como o antigo conceito de futebolista já lá vai, também a mulher de futebolista já não é o que era. Não é por acaso que muitas das mulheres mais bonitas e bem-sucedidas do mundo disseram sim a jogadores de futebol. Sim, definitivamente, há sempre uma grande mulher. Muitas delas mulheres assumidamente belas e estilosas, geralmente de profissões ligadas à moda, que também foram orientando o estilo dos jogadores.

Um dos casos mais gritantes é o de Victoria Beckham, a posh spice da girlsband Spice Girls, que depois do fim do grupo se conseguiu impor como estilista e criadora de moda. Juntamente com David Beckham, forma um casal onde o estilo e o requinte imperam. A modelo sueca Helen Svedin, mulher de Luís Figo, também tem uma imagem irrepreensível, revelando-se uma influência para o ex-jogador do Sporting, tal como sucede atualmente com Irina Shayk e Cristiano Ronaldo.

Texto: Pureza Fleming