Nos últimos dias, temos sido confrontados com fotografias dos incêndios na floresta Amazónica nas redes sociais, mostrando-se uma grande preocupação pelo estado de calamidade que se vive naquele que é chamado o ‘pulmão do mundo’, uma vez que é responsável pela produção de 20% do oxigénio que respiramos.

Alguns meios de comunicação já alertaram para o facto de algumas imagens publicadas não corresponderem à verdade do que está a acontecer no Brasil, mas real é a preocupação dos utilizadores das redes sociais, que fazem acompanhar a sua publicação/manifestação com o hashtag #prayforamazonia (rezem pela Amazónia).

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A Amazónia está a arder e o fumo é visível desde o espaço tendo, inclusive, coberto de negro o céu de São Paulo, que fica a sensivelmente a três mil quilómetros de distância. No meio de relatos assustadores sobre as causas dos incêndios, incluindo várias teorias de conspiração do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, muitos perguntam-se: o que realmente está a acontecer?

Fogos na Amazónia
créditos: EPA/NASA EARTH OBSERVATORY

“Nas margens da Amazónia, sempre houve desflorestação ilegal", diz Martin Frankenberg, proprietário da agência de viagens Matueté, que leva viajantes ao país há 30 anos, tendo vivido a maior parte da sua vida no Brasil.

Os incêndios provocados pelo homem começam na limpeza de áreas da floresta para utilização agrícola (principalmente para o cultivo de grãos de soja, que muitas vezes são vendidos como ração para porcos) e pastoreio de gado, ambas importantes fontes de rendimento para os agricultores locais.

"Sob a nova administração [de Jair Bolsonaro], houve uma mudança significativa na política em termos de proteção da Amazónia", diz Frankenberg, em declarações à revista Condé Nast Traveler.

#Hashtags não são suficientes. Como pode (realmente) ajudar a floresta da Amazónia
créditos: EPA/MARCELO SAYAO

"Este governo está mais focado em ajudar a agricultura do que em ajudar a preservar a floresta. Os agricultores estão a aproveitar-se desta nova indulgência". Esses incêndios, segundo Frankenberg e especialistas, são provocados pelo Homem e não por 'fogos naturais'. Embora, de facto, o atual clima seco tenha permitido que as queimadas prescritas ilegais ficassem ainda mais descontroladas.

A Associação Sistema Terrestre Sustentável lembra que a floresta da Amazónia é fundamental porque “tem a maior biodiversidade do planeta (aloja 10% do número de espécies conhecidas), assegura 20% da água doce disponível, produz 20% do total de oxigénio para a atmosfera terrestre e suporta diretamente a vida de 30 milhões de pessoas”.

“Cada hectare ardido na floresta Amazónica é um hectare a menos que deixa de retirar carbono da atmosfera, mas são também mais emissões de carbono que têm lugar, para além de outros poluentes que aliás têm prejudicado a qualidade do ar em áreas muito extensas”, afirma a associação, numa carta enviada ao Governo brasileiro.

Número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano

Em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).

Especialistas advertem que os incêndios quebram o ciclo natural da água e das chuvas, ameaçando os rios tanto da bacia amazónica quanto da bacia do Rio da Prata que divide Argentina e Uruguai.

Como ajudar (realmente) a Amazónia

Os hashtags nas redes sociais são importantes para a consciencialização dos nossos seguidores mas pouco eficazes no combate aos incêndios. Para começar, pode seguir o perfil do Greenpeace Brasil, que está sempre a atualizar as informações sobre esta situação catastrófica. Além disso, o site oficial deste movimento lança petições online para quem quer apoiar o fim da deflorestação.

“As empresas precisam de fazer a sua parte para que a desflorestação no Cerrado, na Amazónia e em outros ambientes naturais do nosso país pare já. Não há tempo a perder. Sistemas mais sustentáveis e justos são possíveis e necessários, e precisam de ser prioridade em qualquer modelo de produção responsável e comprometido com a vida. A destruição tem que acabar”, lê-se na página do Greenpeace Brasil.

Outra forma de ajudar a proteger a Amazónia de futuros incêndios, causados ​​pelo homem, é fazer doações para organizações de conservação, que estão a trabalhar para mudar a legislação e fornecer ajuda imediata.

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Pode ainda fazer uma contribuição on-line para a Amazon Watch, a Conservation International, a Rainforest Alliance e a World Wildlife Fund Brasil, que atuam continuamente para proteger esses espaços naturais. Há também grupos menores, com enfoque regional, incluindo a Organização de Reflorestamento Instituto Terra e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, também conhecida como COIAB, que tem como objetivo proteger as terras da floresta, cujas centenas de grupos indígenas chamam de lar.

A SOS Amazónia está entre as melhores, mais bem geridas e mais transparentes Organizações Não Governamentais do Brasil, estando a desenvolver, desde 1988, projetos ambientais, ao mesmo tempo que propõe e implementa políticas públicas com o foco na conservação da biodiversidade e na valorização das pessoas e dos animais que ainda vivem naquela zona.

A Rainforest Concern existe desde 1993 e, em 26 anos, conseguiu proteger mais de 2,2 milhões de hectares de florestas ameaçadas em países como o Brasil, a Costa Rica, o Equador e o Peru. Através do site oficial da Rainforest Concern pode patrocinar um acre de floresta — o equivalente a 4.042 metros quadrados. Cada acre passará a estar oficialmente protegido após uma doação de 110€.

Não menos importante do que todas estas indicações, esteja realmente informado sobre o assunto e verifique sempre a veracidade das imagens e informações que lhe chegam através das redes sociais.