"Se a sua empresa fechasse portas amanhã, quem é que iria realmente sentir a sua falta e porquê? (...) Consegue identificar um segmento operacional da sua empresa cuja falta seria intensamente sentida no mercado? Se não for capaz, consegue encontrar uma boa razão para a sua empresa não estar a correr o risco de desaparecer?", pode ler-se. As perguntas encontram-se em "Mavericks no trabalho – Por que é que as mentes mais originais ganham nos negócios".

Publicada no final da década de 2000,  continua a ser umas das obras que dão acesso ao seleto clube dos bem sucedidos. Agora humanize as questões, focando-as em si. Se desaparecesse do mercado (da sua empresa) quem iria sentir a sua falta? E o que pode fazer para não desaparecer? Imaginar-se como um negócio, mais do que uma reflexão curiosa, é um instrumento extremamente útil.

E é esse precisamente o ponto de partida do marketing pessoal, cujo grande desafio explica Eliane Doin, publicitária e formadora nesta área, é responder à questão "O que fazer e como fazer para que as pessoas/empresas nos convidem a ser parte da sua vida?". A resposta não é simples mas, de seguida, vamos ajudá-lo a descobrir o que pode fazer para dar um novo impulso à sua vida profissional.

Eu, SGPS

Competição, excelência, diferenciação. Estes conceitos que norteiam o desempenho das empresas são precisamente os mesmos que determinam a sua performance no mercado de trabalho. Somos actualmente, como defende Tom Peters, guru do branding, "os presidentes executivos das nossas próprias empresas, as Eu, SGPS. Para ter um negócio hoje, a tarefa mais importante é ser o principal responsável de marketing da sua marca".

Na opinião do especialista, a sua marca, para vencer/vender, tem de se afirmar, "ser credível, reconhecida, demonstrar que é competente, não bastando comunicar que o é. O marketing pessoal entende que o produto pessoa deve ser o mais ajustado possível às exigências do seu mercado, contribuindo para o desenvolvimento das empresas", explica Vicente Rodrigues, professor de marketing.

Utilizar este instrumento pode pois ser a diferença entre diluir-se na multidão e destacar-se dela, entre sobreviver e vencer. "Uma pessoa que conhece as suas competências e talentos é capaz de se viabilizar em qualquer situação. Não vê obstáculos intransponíveis", diz Eliane Doin. "Sabe que, com determinação e correção, chegará onde pretende", defendeu já publicamente.

"Quem pratica o bom marketing pessoal possui maior autoconfiança e elevada autoestima, dois ingredientes importantíssimos para o sucesso profissional", acrescenta esta especialista. Veja também a galeria de imagens com 7 (maus) hábitos que roubam tempo e energia no trabalho.

Plano de marketing pessoal

Exposta a teoria passemos então à prática. Comece por elaborar aquilo que os especialistas em marketing chamam análise swot, ou seja, terá de escalpelizar o seu mercado. Avalie as oportunidades e ameaças, nomeadamente os segmentos em crescimento, concorrência e por aí fora… Faça, de seguida, o seu raio-X. Tome notas das suas forças, indicando os seus trunfos e fraquezas.

Procure determinar também o que pode ser melhorado, como é o caso da imagem, da capacidade de liderança, da capacidade de comunicação, das relações interpessoais, da gestão do tempo e da formação, entre outras. Depois de cruzados estes dados, retire conclusões, defina os seus objetivos de carreira e calendarize-os, procurando dar prioridade aos mais fáceis de atingir.

Arquitete ações que permitam alcançar as metas ambicionadas e, como refere Vicente Rodrigues, "colmatar pontos fracos e potenciar pontos fortes, aproveitar oportunidades e contornar ameaças". "Estabelecem-se objetivos a um, três, cinco, dez anos e, em função dos patamares que se quer atingir, verifica-se as competências exigidas em cada um deles e quais as falhas a ultrapassar", refere ainda.

"Estenda esta reflexão e a definição de um plano à sua esfera pessoal e familiar e perceba o peso que deve ter em cada patamar da sua vida", acrescenta o especialista. Aí, sim, poderá responder à questão "Onde quer estar daqui a dez anos?", uma pergunta que o deve levar a pensar no local que almeja. E no que deve começar ou continuar a fazer para lá chegar.

Erros de principiante a evitar

Eliane Doin, especialista em marketing pessoal, acredita que "não basta que as pessoas nos conheçam, é preciso que gostem de nós". Isso, contudo, não significa que achar que bajular o chefe é praticar marketing pessoal. Existem, contudo, outros erros a evitar:

- Não tente vender um produto que não pode entregar exatamente da prova que o promoveu. Mais cedo ou mais tarde, a verdade vem à tona e a máscara cai.

- Ser pouco flexível com o que acontece à sua volta, não possuir elasticidade suficiente para saber conviver com as diferenças e/ou situações adversas são erros que não deve cometer.

- Não se envolva em mexericos e confusões. Só prejudicam a imagem. A competência emocional é tão ou mais importante que a competência técnica.

Os conselhos dos gurus

Cinco livros, cinco ideias que podem ajudá-la a cimentar um dos instrumentos-chave do marketing pessoal, a constante atualização de conhecimentos:

1. "Viva a sua vida alto e bom som, plenamente consciente de que tudo o que disser poderá (e será) usado contra si (ou a favor). Trate cada cliente como se ele se pudesse tornar uma testemunha. Trate cada vendedor como se ele o pudesse recomendar", pode ler-se no livro "Torne-se pequeno e pense em grande" de Seth Godin, publicado em Portugal pela Editorial Presença.

2. "A falta de franqueza bloqueia ideias inteligentes (...). É letal. Para obter franqueza, recompense-a, elogie-a e fale sobre ela. Faça das pessoas que a demonstraram heróis públicos. Acima de tudo demonstre-a de forma exuberante e até exagerada, mesmo que não seja o chefe", afirma "Vencer", o livro que Jack Welch escreveu com Susy Welch, uma obra da Editora Actual.

3. "Antes de falar com as pessoas, descubra tudo o que for possível descobrir sobre elas. Informe-se sobre o seu meio, interesses e ambições e procure qualquer coisa que tenham em comum", aconselham os autores de "Subir na vida", Donald J. Trump e Meredith Melver, um livro lançado em Portugal pela Editorial Presença.

4. "As melhores marcas, assim como as pessoas mais interessantes têm uma mensagem que as distingue (....). O que deseja que os outros pensem quando ouvem ou lêem o seu nome?", interroga o autor de "Nunca almoce sozinho", escrito por Keith Ferrazzi com Tahl, lançado em Portugal pela Editora Actual.

5. "Imagine múltiplos futuros. Forçando-se a antever diversas possibilidades, algumas delas contraditórias, ficará melhor preparado para decidir melhor [quando for confrontado com a contingência de ter de tomar uma decisão]", recomenda Charles Duhigg, autor do bestseller internacional "A força do hábito" em "+ eficaz, + rápido, melhor - Os segredos da produtividade na vida e no negócio", lançado em Portugal pela editora D. Quixote.

Texto: Nazaré Tocha com Eliane Doin (publicitária) e Vicente Rodrigues (professor de marketing)