Não há top de vendas nas livrarias que não tenha um ou mais livros de autoajuda. O segmento cresceu muito desde que, em 1936, o norte-americano Dale Carnegie publicou o bestseller «Como fazer amigos e influenciar pessoas», editado em Portugal pela Lua de Papel. Hoje, debaixo do chapéu da autoajuda cabem muitos outros tipos de livros, desde os que divulgam terapias alternativas, passando pelos que prometem ajudar-nos a ter mais sucesso, enriquecer ou emagrecer, até aos que se focam na meditação e espiritualidade.

No fundo, todos querem ajudar-nos a fintar o sofrimento. E será que se encontram soluções nestes livros? O psicólogo Fernando Magalhães assume-se fã e colecionador deste tipo de obras mas alerta que «nem um por cento do que está à venda será útil e ainda menos científico». Apesar disso, recomenda-os à maior parte dos pacientes e considera que podem ser úteis em problemas específicos e moderados.

Sobretudo nos casos em que não exista um comprometimento global do funcionamento psicológico, como numa ansiedade ligeira ou num estado de humor triste, mas não deprimido.  «Se forem bons, estes livros favorecem nos que os leem o sentimento de que podem fazer alguma coisa por si mesmos e de que têm alguma autonomia para aprender e para encontrar soluções», defende o psicoterapeuta Vítor Rodrigues, ele próprio autor de livros de autoajuda.

Essa é também a visão de outros autores como Teresa Marta, formadora e fundadora da Academia da Coragem, autora de «Fazer do Medo Coragem», publicado pela Matéria-Prima Edições. «Ultrapassei os meus medos mas, para isso, tive de me superar e de reaprender a usar a extraordinária capacidade transformadora do ser humano para conduzir a minha vida de forma proactiva, passando de liderada a líder», escreve. Descubra também os 25 livros que o vão ajudar a ser uma pessoa melhor.

Livros com exercícios práticos

«Constrói a Tua Felicidade», publicado por A Esfera dos Livros, foi um dos que Vítor Rodrigues escreveu. No entanto, as soluções não estão tanto nos livros como na própria pessoa e na sua disponibilidade para mudar, alerta o psiquiatra Vítor Viegas Cotovio. «Quando me perguntam, em consultório, se há alguma coisa que possam ler que as ajude é importante desmontar o caráter mágico da procura», diz.

«Pessoas fragilizadas ou mais inseguras procuram, muitas vezes, soluções milagrosas, acham que há uma solução fora delas. Mas a verdade é que são as pessoas as protagonistas da interpretação das suas vidas e o livro, assim como o terapeuta, só poderá ser um apoio. Se ajuda ou não, dependerá sempre da disponibilidade de cada um», afiança o médico.

Muitos especialistas defendem o recurso a livros com exercícios práticos. «São úteis para desconstruir as nossas crenças irracionais que estão associadas à forma como pensamos. Por exemplo se saí de manhã e o dia estava chuvoso e fui atropelado, posso criar uma associação arbitrária e sempre que estiver nublado vou ficar ansioso», refere Vítor Viegas Cotovio.

Perceber este mecanismo pode ajudar-nos a alterar os esquemas de pensamento. «Mas não basta perceber, é preciso treinar, com  a ajuda de exercícios, várias vezes, até que o território neuronal se modifique», sublinha o psiquiatra.

Veja na página seguinte: Os livros de autoajuda que os especialistas recomendam

Os livros de autoajuda que os especialistas recomendam

«Fazer do Medo Coragem», publicado pela Matéria-Prima Edições, da coach, formadora e fundadora da Academia da Coragem, Teresa Marta, é um dos primeiros livros de autoajuda a achegar ao mercado em 2016, tal como «Meditação e Mindfulness» de Andy Puddicombe, mestre em meditação moderna e fundador do projeto «Headspace», lançado em Portugal pela Nascente, uma chancela da 20|20 Editora.

«Uma Caixa de Primeiros Socorros das Emoções» da psicóloga Maria Palha, uma edição da Manuscrito, é outra das novidades deste início de ano. Títulos que se juntam a outros já disponíveis nas prateleiras das principais livrarias que os três especialistas que contactámos leram e recomendam:

- «A Arte de Não Amargar a Vida» de Rafael Santadreu

Publicado pela Pergaminho, esta obra é ideal para «quem está em fase de mudança ou tem medos que paralisam a sua vida», indica Vítor Viegas Cotovio, psiquiatra. «Trabalha os preconceitos baseados no medo e dá exercícios para nos libertarmos dos condicionamentos, visões negativas baseadas em crenças irracionais. Usa modelos teóricos cognitivo comportamentais para desmontar estas crenças e dá exemplos práticos do seu consultório», diz.

- «Karaté Mental – Manual de Defesa contra os Golpes da Vida» de Bernabé Tierno

Com o selo da Marcador Editora, este livro de autoajuda é indicado para «todas as pessoas, em especial para as que estejam a lidar com situações de adversidade ou pessoas tóxicas», indica Vítor Viegas Cotovio. «O autor é muito experiente e integra, de forma sustentada, os conceitos de psicologia positiva e de inteligência emocional que considero um dos mais importantes do autoconhecimento», diz.

É uma das muitas obras que ensinaram ao psiquiatra. «Quando o li, aprendi, por exemplo, as dez expressões que nunca devemos usar com os outros e que são ensinadas à policia americana», refere, apontando como exemplos frases como «Aacalme-se», «Qual é o seu problema?» ou ainda «Seja razoável».

- «Self-Esteem» de Matthew McKay e Patrick Fanning

Publicado pela New Harbinger Publications e disponível apenas em inglês, é ideal para «qualquer pessoa», diz Fernando Magalhães, psicólogo. «É, talvez, o livro mais completo para criar uma boa autoestima. Ensina a reduzir a voz crítica, a eliminar a autoexigência tóxica, a criar uma voz interior amigável e a construir uma fundação positiva para lidar com os erros e ser assertivo», refere.

- «Mindfulness» de Mark Williams e Danny Penman

Lançado em Portugal pela editora Lua de Papel, pode ser lido por «todos mas, sobretudo, para quem é  ansioso ou com tendência para depressão», diz Vítor Viegas Cotovio. «A meditação desenvolve a inteligência emocional e a empatia e este livro faz essa associação, o que valorizo muito até porque sou praticante de meditação transcendental», refere.

Esta obra inclui indicações para meditar com a técnica do mindfulness que, no serviço de saúde inglês, é usado com muito sucesso, em associação à medicação, em casos de depressão e ansiedade. O livro ensina também a perceber o que estamos a pensar a cada momento e o efeito que esses pensamentos têm no bem-estar, o que nos ajuda a romper com hábitos nocivos».

Veja na página seguinte: Outros títulos que o vão tornar numa pessoa melhor

- «Feeling Good - The New Mood Therapy» de David D. Burns

Editada pela Harper Collins, é ideal para «toda a gente, em especial para quem sofre de depressão ligeira», considera Fernando Magalhães, psicólogo clínico. «É um dos livros mais completos, práticos e eficazes para ultrapassar um estado de humor negativo e depressão moderada», assegura o especialista.

- «The Healing Journey» de O. Carl Simonton, Brenda Hampton e Reid Henson

Indicado para «quem está a atravessar um período de doença complicado», considera Vítor Rodrigues, psicólogo clínico e psicoterapeuta. «É uma obra notável, escrita pelo célebre oncologista Carl Simonton, um paciente e uma colaboradora», assegura.

Publicado pela iUniverse, este livro «apresenta uma perspetiva otimista, com grande valor prático, acerca do modo como pessoas com doença oncológica ou outra doença grave, podem complementar as intervenções médicas e fazerem a sua própria parte para melhorarem. Gostei, particularmente, das suas sugestões pertinentes e de ênfase prático, com programas claros e exequíveis», acrescenta.

- «As Suas Zonas Erróneas» de Wayne Dyer

Editado pela Pergaminho, é recomendado a «todas as pessoas. É uma boa introdução a estes temas para qualquer pessoa», considera Fernando Magalhães, psicólogo clínico. «Fornece uma perspetiva global e útil para os problemas psicológicos mais comuns, como a preocupação excessiva, a ansiedade social, a baixa autoestima e o perfecionismo e ajuda a lidar com a incerteza. Com este livro, aprendi a tolerar mais o desconhecido e a viver mais no presente, com poucas preocupações improdutivas», confessa o especialista.

- «O Poder do Agora» de Eckart Tolle

É já um clássico. Com o selo da Pergaminho, é ideal para «todas as pessoas, mas especialmente para quem vive os tempos atuais com grande ansiedade», aconselha Vítor Rodrigues, psicólogo. «Embora sem referências científicas ou filosóficas, tem uma perspetiva muito interessante sobre o modo como podemos desenvolver-nos espiritualmente e encontrar saídas para dilemas humanos», diz.

«A ênfase na necessidade de sabermos viver no presente é clara e muito bem defendida», considera. «Gostei especialnente da forma como ajuda a perceber de que modo a nossa postura interior pode contribuir para os problemas e como podemos modificá-la», defende ainda o especialista.

Texto: Bárbara Bettencourt com Luis Batista Gonçalves (edição internet), Fernando Magalhães (psicólogo clínico no Centro Clínico e Educacional da Boavista), Vitor Viegas Cotovio (médico psiquiatra e psicoterapeuta e membro do Conselho Nacional de Saúde Mental) e Vítor Rodrigues (psicólogo e psicoterapeuta)