E se lhe dissermos que pode ser mais feliz se tiver menos? Menos pensamentos, menos bens, menos amigos... O desapego é uma atitude e está na moda. Resulta da capacidade para ultrapassar o medo da insegurança, da carência financeira, mas também da carência relativa a bens materiais, pessoas, relacionamentos, empregos, crenças e até à imagem que construímos sobre nós (carência de estima pessoal). Praticamos o desapego quando conseguimos fluir pela vida, independentemente desta nos oferecer aquilo que desejamos.  Este processo é muito difícil, porque temos consciência de que podemos deixar algo para entrar no vazio.

Surge o medo e, com ele, a vontade de ficarmos imóveis, presos à zona de conforto.  Praticar o desprendimento significa ter a coragem para nos rendermos. Perceber que persistir amarrado traz mais dor emocional, mais stresse, menos autoestima, saúde e alegria. Praticar o desapego não é fácil. É um processo que exige alguma mentalização e muito trabalho de preparação porque desapegar-se de bens materiais não é fácil. Praticar o desapego material exige coragem para nos assumirmos pelo que somos e não pelo que temos. Um bom exercício é reduzir as nossas necessidades e perceber que, com menos, sobrevivemos.

Isto permite-nos resgatar a fé na nossa capacidade criativa e potencial de mudança. Muitas vezes, vivemos situações de dependência material às quais nos apegamos porque deixamos de acreditar na nossa capacidade de fazer algo diferente, de seguir sem o apoio das pessoas habituais. São estratégias que a mente perceciona como confortáveis pois não nos obrigam a ir para o desconhecido. Ter menos bens materiais não nos deve inquietar. O que deve preocupar-nos é perdermos a vontade própria, a resiliência e a capacidade de acreditar no nosso potencial e na nossa força criativa.

A difícil tarefa de nos desapegarmos de… sentimentos negativos!

Os sentimentos resultam daquilo que pensamos. Para agir sobre a forma como se sente tem de agir primeiro sobre a forma como pensa e aquilo que pensa. Praticar o desapego relativo a sentimentos negativos significa estar consciente de que a única coisa que podemos efetivamente controlar é a escolha do que sentimos face ao que nos acontece. Esta é a base da sabedoria emocional.

Tudo o resto é apego a velhas fórmulas que já testámos e que não servem para nada. Seja honesto com o que sente. É um processo complexo, mas pode simplificá-lo, respeitando, de uma vez por todas, a sua verdade interior. Seja honesta e assuma o que é melhor para si. Isso fará com que os sentimentos negativos fiquem cada vez mais longe.

A difícil tarefa de nos desapegarmos de… pessoas!

A maioria das situações que nos prendem é de natureza relacional, do género «Não consigo viver sem esta pessoa» ou «Não consigo seguir em frente sozinho». Um dos melhores exercícios para se desligar de quem já não contribui para o seu bem-estar é o regresso à origem. Antes de existir a pessoa da qual tem de se afastar, já era alguém, tinha a sua vida. Bem ou mal, existia, produzia, crescia e avançava. Trabalhe o amor e a aceitação por si mesmo. Quanto mais acreditar em si, mais as circunstâncias lhe parecerão simples e as soluções possíveis, uma vez que ficarão a depender cada vez mais de si e não daquilo que os outros possam ou não fazer. Logo, ficará menos preso ao que o envolve e mais ligado à sua vontade pessoal.

Veja na página seguinte: A difícil tarefa de nos desapegarmos do… passado!

A difícil tarefa de nos desapegarmos do… passado!

O desapego relativo ao passado (face ao que tivemos e já não temos, ao que amámos e que será irrepetível, à culpa e à perda) ultrapassa-se com aceitação. Para tal, anule a crítica e a culpabilização. O que passou está lá. Aceite-se como é agora e as circunstâncias como se apresentam. Só aceitando o presente, sem fugir, pode construir algo diferente para o seu futuro. Tenha orgulho em si e na sua história. Apesar de tudo, o que possa estar a sentir, foi ela que a fez chegar aqui.

Não tenha receio de percorrer caminhos novos. Buscar o que ainda não alcançou traz-lhe uma sensação de liberdade incrível. E dessa liberdade pessoal também nasce a felicidade. A culpa é algo que tem de aprender a deixar para trás, se quer ser feliz, pois ela serve apenas para nos sobrecarregar de angústia, de vazio e de tristeza. Aquilo que fez, fê-lo o melhor que sabia, nas condições e com os conhecimentos que tinha na altura.

A difícil tarefa de nos desapegarmos do… futuro!

O desapego face ao futuro significa tranquilizarmo-nos pelo que pode ou não vir a acontecer. Porque o apego ao futuro representa o desejo de controlo. Para nos desapegarmos dos «E se?» que nos prendem, temos de ter vontade de entrar no desconhecido, o campo de todas as possibilidades. Trabalhe para criar o futuro que deseja. Essa é a principal forma de o alcançar. Desprenda-se do resultado e foque-se no caminho que está a fazer para o alcançar.

Isso diminui-lhe a ansiedade pela concretização, permitindo-lhe observar alternativas mais simples para alcançar o que deseja.  O foco no resultado está sempre ligado ao medo e à insegurança e estas são as nossas grandes prisões. Seja qual for a sua origem familiar, condições de partida, traumas e inseguranças, pode sempre trabalhar para criar o futuro que deseja.

As vantagens do desapego

Praticar o desapego não significa ser irresponsável, mas sim ter a capacidade para perceber o que já não a faz feliz nem contribui para o seu crescimento e agir em conformidade. Eis as principais vantagens desta postura:

-Ter uma vida mais leve e menos exigente.

- Aumentar a liberdade pessoal.

- Viver em função do seu propósito de vida.

- Ter mais tempo para si e para a família.

- Viver com menos stresse.

- Fazer, cada vez mais, o que gosta.

- Dormir melhor.

- Ser mais alegre.

- Afastar pessoas tóxicas.

- Dizer o que pensa sem medo.

- Diminuir a culpa.

- Retirar o peso do perfecionismo.

- Viver feliz com menos bens materiais.

- Aumentar a autoestima, a perceção do valor pessoal, a autoaceitação e o autorrespeito.

- Viver cada vez menos em função do que parece bem aos outros.

- Sair da prisão das circunstâncias do passado.

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A que devemos apegar-nos então?

Estas são as recomendações dos especialistas:

- Pessoas positivas e construtivas

- Família e amigos

- Pensamentos positivos

- Pequenas conquistas do dia a dia

- À capacidade de relativizar e de ver para além do problema presente

- À capacidade de acreditar na vida

- À nossa força infinita para mudar e recomeçar

- Ao agora, ao presente

- Ao reforço do nosso sentimento de merecimento

- A um local de conforto onde nos sintamos seguros

- À nossa capacidade inata e infinita de mudança

- A todos os obstáculos que já conseguimos ultrapassar

- A tudo o que já temos e que nos esquecemos de agradecer

Texto: Teresa Marta (coach para a coragem, bloguer e CEO da Academia da Coragem)