Alegria. É o barómetro das nossas conquistas, diz-nos se somos eficazes e/ou aceites. É esta emoção que nos «impele à aproximação dos outros, à partilha e à intimidade, à socialização», explica Fernando Magalhães, psicólogo clínico. «Mantém-nos ativos e motivados para concretizar objetivos. Dá-nos energia para tarefas extenuantes que englobam divertimento, excitação ou euforia e a conseguir ser persistente, confiante e motivado nessa realização ou até em objetivos mais difíceis», diz.

«Serve para gerar a vontade de falar, rir, aproximar das pessoas, tocar, seduzir, brincar, abraçar e beijar ou cantar e uma série de comportamentos positivos», justifica. «Aumenta a criatividade, a inovação, a geração de ideias e facilita a superação de obstáculos e a toma de decisões», acrescenta ainda o especialista. Por tudo isto, esta é a emoção que deve estar ao comando do nosso cérebro e da nossa vida.

A sua liderança, tão brilhantemente retratada no filme «Divertida Mente», obrigatório para crianças e para pais, só é, contudo, eficaz quando outras emoções também assumem o seu papel. Sem a tristeza, o medo, a raiva e a repulsa, a alegria perde perspetiva sobre si mesma, esvazia-se, e a felicidade, esse «sentimento mais suave, que depende de atribuirmos uma direção positiva à vida», torna-se mais distante, defende o especialista.

«O leque de emoções», lembra Fernando Magalhães, «tem um propósito conjunto e a vida perde significado se rejeitarmos as emoções negativas porque, ao fazê-lo, estamos a ignorar as nossas mais profundas necessidades», complementa ainda. Estas são algumas que mais atormentam as pessoas nos dias que correm e que o especialista ensina a contrariar:

- Tristeza

«Facilita um raciocínio que permite uma análise meticulosa para detetar falhas, erros e fazer avaliações, que, noutro estado de humor, não se conseguiria. Serve para alertar para algo que não nos faz bem e que precisamos de compreender o seu significado para corrigirmos algo, para pedir ajuda e apoio. Funciona como um sinal que nos ajuda a evitar comportamentos e a fazer escolhas mais acertadas e de acordo com as nossas necessidades», descreve Fernando Magalhães, psicólogo clínico.

Não a devemos reprimir porque «podemos ficar paralisados ou anestesiados e perder tempo e oportunidades de crescimento dadas pelas informações que a tristeza tentava dar-nos. Reprimir esta emoção faz com que ela piore, além de que a tristeza prolongada pode provocar problemas cardiovasculares, reduzir a eficácia do sistema imunitário e tornar-nos mais vulneráveis a doenças», indica o especialista.

A melhor forma de lidar com a tristeza é «aceitar e compreender o propósito da emoção», diz o especialista, habituado a ludar com pessoas deprimidas. Questione-se. Porque estou triste? O que há de desconcertante na minha vida? O que devo mudar? Estas são algumas das questões que se deve colocar para poder passar a atuar de forma diferente, mesmo que não haja vontade, pois a emoção muda depois da ação.

«Fale com amigos e familiares e expresse a tristeza, mas não por muito tempo», aconselha. «Ria, use o humor, faça desporto, pratique mindfulness  e a gratidão, cante…  E evite ruminar ou ficar demasiado tempo com essa emoção, isolar-se, criticar ou julgar a emoção, pois ela tem uma finalidade», aconselha Fernando Magalhães.

- Repulsa

«Permite manter o organismo saudável pois ajuda a evitar doenças (pela repulsa de ingerir alimentos estragados e afastar coisas com mau cheiro ou cheiro de resíduos corporais  e animais). Indica-nos que há algo que devemos rejeitar ou afastar (pessoas, alimentos ou situações), funcionando como uma proteção e garante de sobrevivência», defende o psicólogo clínico.

«Também tem um papel importante ao nível da saúde mental: afasta-nos de pessoas ou situações perturbadoras.  E serve ainda para evitar a agressividade, dado que a repulsa reduz o batimento cardíaco», descreve Fernando Magalhães, psicólogo clínico. Ensina-nos «a afastarmo-nos da nossa fonte de desconforto,  a evitar riscos, a distinguir alimentos em bom e mau estado e a escolher e discernir os cheiros, como uma ferida que cheira mal e fazer o seu tratamento», refere.

Os ensinamentos não se ficam, contudo, por aqui. «Ensina-nos a manter uma boa higiene e aparência, a distinguir entre situações e pessoas atrativas de situações que causam aversão, dando informação sobre as nossas preferências e personalidade», refere.  No entanto, pode tornar-se negativa «se é excessiva ou persistente e nos faz evitar ou fugir de situações que são seguras».

«O mesmo se aplica se há uma excessiva escrupulosidade de higiene ou de evitação de contacto com objetos, alimentos e pessoas que são seguros, o que pode levar a um transtorno obsessivo compulsivo», alerta ainda Fernando Magalhães.

- Medo

«É uma resposta vital a ameaças físicas ou psicológicas. Leva-nos a agirmos ou a fugirmos de situações perigosas ou ameaçadoras, faz com que estejamos atentos e vigilantes a alguma ameaça, ajuda-nos a evitar acidentes ou sofrimento. Leva-nos a adaptarmo-nos a diversas situações, como fugir, se virmos um animal perigoso, ou trabalhar melhor, para evitar ser despedido.  O lado bom do medo é que permite manter o organismo vivo e focado no bem-estar», descreve Fernando Magalhães, psicólogo clínico.

A melhor forma de lidarmos com o medo é, segundo o especialista, «observar como o corpo reagiu e o que se está a sentir, analisar as causas e tentar questionar. Há uma explicação? Foi adequado, útil ou foi excessivo e desencorajador? Que mensagem está a transmitir e o que posso aprender com esta reação? Estas são algumas das questões que (se) deve fazer.

«Devemos evitar criar medo do medo, reprimi-lo, negá-lo ou generalizá-lo para outras situações ou pessoas que são, pela lógica, neutras. E evitar fazer julgamentos ou críticas sobre o medo», refere Fernando Magalhães. Evitar o perfecionismo emocional é outra das armadilhas a evitar. «Não devemos exigir emoções perfeitas», adverte o especialista português.

Tenha ainda em atenção que é hora de procurar ajuda «se o medo se tornar uma emoção predominante que nos impede de agir ou de ter prazer e limita a acção, quando surge de forma excessiva face a algum estímulo e se transforma numa fobia, quando a reação de medo é desproporcional ao  estímulo e causa ansiedade antecipatória e evitação, com reações físicas fortes. Por exemplo, transpirar muito antes de falar em público», aconselha o psicólogo clínico.

- Raiva

«Quando surge de forma pontual e justificada, permite definir as nossas fronteiras e escapar/proteger-nos de situações perigosas, assim como reagir e afirmar os nossos direitos perante ofensas, provocações, ameaças ou obstáculos», descreve Fernando Magalhães. Esta emoção «incentiva-nos a prosseguir objetivos e a provocar mudanças sociais perante injustiças. Na dose certa, cria a energia necessária para ultrapassar uma barreira que surge no nosso caminho», sublinha.

«Reprimirmos sistematicamente a raiva aumenta o risco cardiovascular, enfraquece o sistema imunitário e encurta a esperança de vida. Pode levar à depressão e ansiedade generalizada e à violência», adverte o especialista. Para que não nos domine «é preciso compreender o contexto em que a raiva surge, como se interpretou essa situação e quais os gatilhos de pensamento que a precipitaram», afirma.

«A raiva surge muitas vezes porque fazemos julgamentos partindo do princípio que os outros deviam seguir as nossas regras», sublinha Fernando Magalhães. Segundo o especialista, «as piores formas de lidar com esta emoção é reagir física e verbalmente. Reprimi-la de forma negativa (não aprender a geri-la nem a perceber o seu significado) e usá-la como forma de reação habitual», acrescenta.

A raiva não é saudável quando «surge de maneira persistente, excessiva e incontrolável, face a situações ou pessoas que não justificariam. Isso significa que se tornou excessiva. O mesmo se aplica caso esteja a criar conflitos pessoais ou a fazer com que a credibilidade seja posta em causa. Sentir culpa e remorsos frequentes por reações que depois avalia como distorcidas é sinal de que a raiva que sente não está nivelada», insiste.

Texto: Nazaré Tocha com Fernando Magalhães (psicólogo clínico)

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