Alguns estudos mostram que durante o sono ocorre um processo de limpeza no cérebro, onde os resíduos da actividade dos neurónios são eliminados, de forma a manter o seu bom funcionamento.

O que fazemos de manhã (aproveitando o momento em que o cérebro se encontra mais limpo de toxinas) pode então ter um grande impacto na forma como experienciamos o resto do dia. Já observou as primeiras coisas que faz ao acordar e a forma como o/a fazem sentir? Quando ouve o despertador qual é o primeiro pensamento que lhe vem à cabeça? E a primeira emoção que surge?

Acordar de uma forma abrupta com um som de despertador desagradável ou ligar-se automaticamente ao mundo (com o telemóvel/computador) e começar a resolver problemas, pode não ser a forma ideal de começar o dia. As primeiras actividades que fazemos podem então ser determinantes para o nosso estado emocional ao longo do dia e ajudar a lidar com os momentos desagradáveis que qualquer dia pode ter.

Trago-lhe assim algumas maneiras de começar o dia de forma mais tranquila e centrada no momento presente (em vez de se centrar nos inúmeros pensamentos que a sua mente produz):

1. Repare em si mesmo/a ao acordar

À primeira vista pode parecer estranho, mas a verdade é que é raro reparar em si mesmo/a, no momento presente, sem fazer interpretações ou julgamentos. O desafio deste exercício é observar-se a si próprio/a sem crítica e entrar no modo “ser” e “sentir” ao acordar.

É bastante comum passar rapidamente para o modo “fazer” e ir atrás do piloto automático, onde mecanicamente tem um conjunto de tarefas a cumprir todas as manhãs antes de sair de casa, e que muitas vezes promovem o início do aceleramento do qual a ansiedade se vai aproveitar.

É bom começar o dia simplesmente reparando a partir de onde está a começar o seu dia, repare como está o seu corpo, que emoções se encontram presentes: estará a sua mente calma ou já muito acelerada e a pensar no trabalho? Ainda deitado/a na cama, note apenas se o seu corpo se sente confortável ou tenso.

Está a sentir-se calmo/a, ansioso/a, aborrecido/a, ou talvez neutro/a? O que passa pela sua cabeça neste momento? Que tipo de pensamentos está presente? Observe o contacto do seu corpo com o colchão, o tecido do pijama ou dos lençóis. Repare no ritmo da sua respiração e apenas observe sem a alterar de forma alguma. Permaneça nesta observação 10 a 15, se possível.

2. Cuide dos sons à sua volta quando acorda

Os sons que o/a acordam são agradáveis ou colocam-no/a em tensão todas as manhãs? Repare se o ambiente em que acorda (desde o toque ou música do despertador até ao ambiente à sua volta) está a promover algum tipo de tensão ou ansiedade. Escolha uma música para despertar de que goste, que o/a coloque num humor positivo, tranquilo e/ou alegre, conforme o que precisar mais.

Note o tipo de emoções que surgem a cada momento da sua manhã, e adopte novas estratégias para que o ritmo matinal seja o menos acelerado possível, já bem bastam o trânsito (ou os transportes) ou o seu próprio local de trabalho para acelerar o seu corpo e a sua mente.

3. Predisponha a sua mente para as coisas agradáveis

Será que começa o dia concentrado nas coisas que faltam fazer ou nas conquistas do dia anterior? Nas críticas que o seu trabalho teve ou nos elogios que recebeu? Nos acontecimentos agradáveis ou desagradáveis da sua vida?

Após reparar em si mesmo ao acordar, uma forma de preparar a sua mente para a resiliência e predispor-se a sentir os acontecimentos bons durante o dia é considerar a prática intencional da gratidão. De que se trata? Tente pensar naquilo pelo que, neste momento, está grato na sua vida. Pode ser algo simples como acordar e sentir-se quente e aconchegado/a, poder ter uma boa chávena de café de manhã, ter bons amigos que o/a valorizem enquanto pessoa, etc.

Praticar intencionalmente esta postura perante a vida, ajuda-o/a a desviar-se do automatismo pelos pensamentos negativos que muitas vezes ocorrem e a estar com a mente mais aberta para o que surge de agradável no seu dia.

4. Esteja no “aqui-e-agora” durante as atividades matinais

Quando está a tomar banho, esteja realmente presente nesse momento e não a antecipar ou a resolver já problemas com os quais só vai lidar no trabalho.

Quando está a preparar o pequeno-almoço, esteja nessa actividade total e completamente, reparando nos cheiros, texturas, sabores, ruídos e cores de todo esse momento desde o segundo em que se inicia até ao momento em que acaba. Desta forma ao não permitir a intromissão de pensamentos de antecipação, preocupação ou irritação, estará a retirar-lhes força.

Quando se despede das pessoas que vivem consigo antes de sair de casa, faça-o com intenção e esteja presente emocionalmente nesse momento de relação com as pessoas.

5. Hidrate-se antes de beber café ou chá

Lembre-se que o seu corpo esteve sem beber água toda a noite e pode precisar de hidratação. Esta é uma forma de cuidar de si e estar atento ao que o corpo necessita.

Beber água potencia também o fluxo de oxigénio e ajuda na produção celular, aumenta o funcionamento do metabolismo em cerca de 24%, ajuda na libertação de toxinas, permite uma melhor absorção de nutrientes e, como o cérebro é composto por 76% de água, promove uma melhoria no funcionamento cognitivo, aumento da energia mental e diminuição das flutuações de humor.

6. Observe a natureza sempre que possível

Antes de se focar em qualquer aparelho tecnológico (telemóvel, televisão, computador, etc) e no aumento de pensamentos e raciocínios que isso promove, dedique alguns momentos a observar elementos da natureza (nem que seja o céu visto da sua janela) ou um pequeno jardim ao fundo da rua. Sinta o sol a bater na pele (mesmo em dias de frio) e esteja completamente presente com essas sensações.

Não é por acaso, que algumas das melhores empresas para trabalhar têm nos próprios escritórios pequenos jardins interiores ou espaços de contacto com a natureza. Alguns estudos mostram ainda, que o contacto com a natureza promove saúde física e mental, aumentando a sensação de bem-estar geral.

Pode colocar todas estas técnicas em prática de uma vez ou implementá-las ao seu ritmo, uma de cada vez e dizer-nos como correu!

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Ana Sousa - Psicóloga Clínica