Menosprezamos facilmente um objetivo que não conseguimos alcançar ou que alcançámos definitivamente.

Marcel Proust

Há quem defina demasiados objetivos, há quem defina objetivos demasiado exigentes, há quem tenha dificuldade em encontrar prioridades, há quem prefira não os definir para poder continuar a adiar, há quem não consiga definir objetivos, simplesmente. No entanto, o potencial de um bom objetivo está amplamente suportado pela estrutura que nos fornece.

Venho assim apresentar-lhe um modelo que pretende ajudá-lo/a a formular objetivos que sejam relevantes para si e que o/a ajudem a sentir-se pleno na sua vida. Ele é composto por 5 passos, ora vejamos:

1) Os objetivos devem ser sobre si - todos temos necessidades psicológicas (como sermos produtivos e, ao mesmo tempo, sermos capazes de relaxar sem sentir culpa ou termos relações significativas, e, também, sermos independentes e autodeterminados) e é o seu preenchimento, ou não, que dita o nosso nível de bem-estar e satisfação global. Logo, precisamos de um certo grau de autoconhecimento para estarmos em contacto com o que precisamos e isso exige disponibilidade. Os objetivos devem ser formulados tendo como base quem somos.

2) Os objetivos devem ser mensuráveis - precisamos de explicitar um critério para verificarmos se atingimos ou não um objetivo e que deve incluir condições específicas de realização da tarefa. Pode ser um critério de qualidade (o quão bem deve ser feita uma ação) e/ou de quantidade (quantas vezes). Aqui reside um dos problemas mais comuns nos objetivos quando somos demasiadamente gerais ou pouco concretos.

3) Os objetivos devem ser controláveis - há sempre muitas variáveis que não controlamos como o comportamento dos outros e os imprevistos e que vão condicionar, e muito, o sucesso do nosso comportamento. Precisamos de reduzir ao máximo tudo isso e focar o objetivo no que conseguimos controlar realmente e que depende, diretamente, das nossas ações e dos recursos que temos disponíveis. Dessa forma, estamos a aumentar a probabilidade de conseguirmos lá chegar.

4) Os objetivos devem ser realistas - objetivos demasiadamente exigentes têm o poder de elevar o nosso desempenho, implicando um grande esforço para os atingir. Pretendemos melhorar de forma contínua mas sem que isso nos cause ansiedade desnecessária e negativa. Na verdade, o perfecionismo contribui para muitas das nossas dificuldades psicológicas no momento em que deixamos de conseguir saborear as nossas conquistas. Podemos encontrar os nossos pontos fortes e os a melhorar (por exemplo, no nosso papel enquanto pais ou no nosso perfil profissional) e definir objetivos tendo em conta essa mesma reflexão. E assumir perante nós mesmos, mais que tudo, o que conseguimos fazer e o que não conseguimos fazer. Assim, conseguiremos ser mais eficazes e a nossa perceção de autoeficácia sairá beneficiada. O que, curiosamente, nos irá preparar para objetivos mais desafiantes!

5) Formule objetivos pela positiva - damos tanta importância ao que falta que valorizamos pouco o que temos. Por questões culturais e familiares, podemos ser “programados” a reparar nas falhas de nós mesmos, nas de outros e isso impede-nos de valorizar o que de positivo conseguimos. Começar um objetivo pela palavra “Não” contribui para apontar a nossa consciência para o problema e não para a solução. Ficaremos menos motivados e menos criativos e isso passará, forçosamente, para os nossos familiares e colegas. É tão importante mobilizarmos os nossos recursos e isso é particularmente patente nas crianças quando usamos uma comunicação positiva! Mais facilmente estamos a contribuir para a autoconfiança, para a curiosidade, para a experimentação e para a perda de medos que impedem a potenciação das suas competências.

Gostava agora que aplicasse este modelo a objetivos que sinta como necessários, neste preciso momento. Pare um pouco, pare-se um pouco! Pratique e lembre-se que qualquer objetivo deve ser, na sua essência, um aliado e não um inimigo. Ajuste cada objetivo ao momento particular que está a viver em casa ou no trabalho, atualize sempre que necessário e saboreie cada passo que der. E se não estiver a conseguir por mais que tente, respire e reformule sem hesitar. Todos cometemos erros e aprendemos com eles, faz parte da natureza humana.

Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta
www.psinove.com