O sol, mais concretamente a radiação ultravioleta B, é responsável pela síntese de vitamina D na pele. Se é verdade que também a alimentação pode fornecer vitamina D, a exposição solar é sem dúvida a maior fonte deste nutriente.

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Para a médica dermatologista Sofia Magina, a conversão dos raios ultravioletas em vitamina D não é um processo linear. Por isso, assevera, a exposição prolongada pode acarretar riscos significativos.

"Não existe uma equação de que se fizermos uma maior exposição logo teremos níveis mais elevados de vitamina D. Isto é, a partir de determinada altura não produzimos mais vitamina D mesmo que fiquemos expostos ao sol. É como se tivéssemos na pele um mecanismo de autorregulação para não produzir vitamina D a mais, pois não a conseguimos armazenar. Há um limite, há um teto", explica a dermatologista, que acrescenta que é neste pormenor que começam os riscos mais sérios.

Se para a vitamina D não há um efeito cumulativo, o mesmo já não se pode dizer para o risco de cancro cutâneo e envelhecimento da pele

"Se para a vitamina D não há um efeito cumulativo, o mesmo já não se pode dizer para o risco de cancro cutâneo e envelhecimento da pele: se estivermos tempo demais ao sol já não estamos a produzir vitamina D, mas os efeitos nocivos vão ser somados", diz.

"O dano aumenta mas os níveis de vitamina D não. Há estudos epidemiológicos que demonstram claramente que maior exposição solar é um fator de risco determinante para o cancro cutâneo, logo se fazemos depender da exposição solar a produção de vitamina D podemos entrar numa situação de conflito", alerta.

Mais sol é igual a mais vitamina D? Olhe que não
Sofia Magina, dermatologista créditos: Bruno Miguel Dias

Portugal é um país cheio de sol mas isso não chega

É precisamente esta "regra" de não conseguirmos acumular vitamina D que faz com que Portugal, apesar de ter bastante sol durante todo o ano, tenha as mesmas necessidades de países menos solarengos.

No inverno os níveis de radiação ultravioleta B baixam: a partir de novembro já não há radiação suficiente para manter os níveis de vitamina D e passamos a depender da alimentação e da suplementação.

"Visto que não armazenamos vitamina D, é errado pensar que nos meses de verão temos radiação mais do que suficiente, pois chegando a certo nível apenas somamos fatores prejudiciais. Vários estudos demonstram que até outubro temos níveis de vitamina D perfeitamente satisfatórios, mas, em indivíduos de risco, a partir dessa altura não é suficiente", resume Sofia Magina. "Portanto, não podemos contar apenas com a exposição solar para assegurar níveis suficientes de vitamina D para o ano inteiro".

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A médica admite que esta é uma equação difícil e reconhece mesmo que os especialistas não têm sabido passar uma mensagem homogénea à população.

"Há uma informação contraditória passada pelos dermatologistas comparativamente com outras especialidades. Nós dizemos que as pessoas não se devem expor ao sol nas horas de maior radiação, entre as 11h e as 16h, devido ao maior risco de queimadura solar e aos efeitos nocivos do sol resultantes da maior incidência de radiação ultravioleta B. Mas no fundo esta seria a hora ideal para produzir vitamina D. Ou seja, ao protegermos muito as pessoas daquele horário podemos comprometer a síntese de vitamina D. No verão isso não tem muito impacto, mas noutros meses tem", salienta.

A mensagem de mandar as pessoas para o sol para produzir vitamina D é algo que agrada às pessoas, mas é perigoso

Assim, pesados os casos excecionais, a dermatologista do Hospital de São João relembra que os estudos mostram que uma exposição de braços e pernas durante 15 minutos por dia é suficiente para ter níveis suficientes de vitamina D. O segredo é a moderação.

"A mensagem de mandar as pessoas para o sol para produzir vitamina D é algo que agrada às pessoas, mas é perigoso e é preciso que as pessoas saibam que não é preciso ficar exposto muito tempo e que no inverno essa exposição nunca será a suficiente", sublinha a médica, apontando como caminho alternativo a suplementação.

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"Em indivíduos com deficiência de vitamina D ou insuficiência, e que já fazem uma vida saudável ao ar livre, não adianta recomentar o aumento da exposição solar, pois isso não vai resolver o problema. Esses doentes devem ser suplementados: a resposta é muito mais previsível e segura, não colocamos o doente perante um risco aumentado de envelhecimento da pele ou até mesmo de cancro cutâneo. É um risco desnecessário para se obter um benefício que não é sequer mensurável", conclui.

Um artigo do jornalista Bruno Miguel Dias, editado por Nuno de Noronha.