O carcinoma do estômago é muito frequente em Portugal, em particular no Norte do país. Esta circunstância não está completamente esclarecida mas sabe-se que uma parte substancial destes tumores está associada a alguns hábitos alimentares e à infeção do estômago pela bactéria Helicobacter Pilorii.

Nas últimas décadas tem-se verificado uma diminuição da incidência deste tumor em Portugal. Esta evolução está provavelmente associada à alteração dos hábitos alimentares da população e à melhoria dos cuidados de Saúde, devendo ser salientado o melhor acesso ao diagnóstico por endoscopia digestiva.

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Sendo um tumor que apresenta uma mortalidade importante, esta doença é curável numa grande proporção dos casos. Convém salientar que um doente tratado por carcinoma do estômago é geralmente considerado como curado se estiver vivo e sem sinais de doença ao fim de 5 anos após o final da terapêutica que lhe foi administrada.

Para um doente com carcinoma do estômago poder ser curado todos os focos da doença tem que ser retirados ou eliminados. Só o atingimento de um estado clínico “sem doença” permite a cura. Esta situação leva a que a intervenção cirúrgica dirigida à remoção parcial ou total do estômago seja fulcral para o resultado final, sendo o seu nome técnico uma gastrectomia.

A importância do diagnóstico precoce

O diagnóstico atempado é essencial para se atingir “um estado sem doença” e se chegar à cura. Quer isto dizer que a fase de evolução da doença no momento em que é diagnosticada é fundamental para o sucesso do tratamento, quanto menos avançada estiver a doença e mais localizada for, melhor é o prognóstico. Este facto é de tal modo relevante que se constitui como o principal fator de prognóstico para estes doentes. Este fator é algo que o médico que vai tratar um destes casos não pode mudar. Outros fatores existem, sobre os quais se pode interferir, e que, em muitos doentes, podem ser determinantes dos resultados obtidos.

Nos estadios mais avançados da doença, em que esta se encontra disseminada, a possibilidade de obter uma cura é muito pequena. Seguramente menos de 5% a cinco anos. Ao invés, nas fases mais iniciais podem-se obter taxas de cura de 97-99%. Como é compreensível, entre estes dois extremos, existe um conjunto de situações com resultados intermédios em que as taxas de cura se encontram entre aqueles valores.

Tal como dito acima, no caso do doente individual, o médico não pode interferir com o fator de prognóstico mais importante para o doente. De igual forma, há outros fatores que um doente pode apresentar, doença cardíaca, pulmonar, diabetes ou outros que não podem ser eliminados pelo médico. Estes podem ser controlados, mas não totalmente anulados, tendo estes aspetos um potencial impacto no resultado final do tratamento.

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Existem outros aspetos que se prendem com o tratamento da doença, sobre os quais se pode interferir, e que podem alterar em grande medida os resultados finais. Estes são sobretudo aspetos do planeamento e execução da terapêutica que podem fazer toda a diferença para o prognóstico da doença. Na vertente do planeamento terapêutico, assume particular importância a definição de uma estratégia multidisciplinar, ou seja, os diferentes especialistas neste tipo de cancro, o cirurgião, o oncologista, o radioterapeuta, entre outros analisam o caso e definem a melhor proposta de tratamento para cada doente. Salienta-se que tem grande relevância a correta definição da articulação da cirurgia com a quimioterapia para o tratamento de alguns estádios intermédios da doença.

Se o planeamento terapêutico é muito importante, a execução técnica é totalmente determinante dos resultados obtidos. Este aspeto é particularmente verdadeiro para o tratamento cirúrgico do carcinoma do estômago. A correta escolha da operação a realizar, bem como a forma como esta é executada, é fundamental para o resultado final. É por este motivo que a experiência e a capacidade técnica das equipas que realizam estas operações tem tanto impacto no prognóstico destes doentes.

Assim, pode-se afirmar que, atingindo um estado de ausência de doença, é possível curar o carcinoma do estômago. Para a possibilidade de atingir esta situação é determinante:

  • a fase em que a doença se encontra quando esta é diagnosticada. Como é compreensível, quanto mais inicial esta for mais fácil será atingir o controlo da doença.
  • a experiência e a capacidade técnica das equipas que vão executar o tratamento. Este aspeto tem particular destaque na vertente cirúrgica da terapêutica, pois é aquela de natureza mais técnica e, como tal, mais dependente do fator humano.

Pode-se afirmar que, atualmente, a grande maioria dos doentes com carcinoma do estômago em fase inicial podem ser curados, que a doença numa fase intermédia tem boas perspetivas de cura e que, infelizmente, os casos com doença disseminada têm um mau prognóstico.

As explicações são do médico José Crespo Mendes de Almeida, responsável da Cirurgia Oncológica e Coordenador da Unidade de Digestivo Alto do Instituto CUF de Oncologia.