Este tipo de cancro divide-se em duas categorias: «o que se origina no fígado (o primário do fígado) e o que se origina noutro órgão e atinge mais tarde o fígado (secundário ou metastático)», indica Paulo Cortes, coordenador da Unidade de Oncologia do Hospital dos Lusíadas. O tumor primário do fígado não é frequente e os doentes necessitam de ser acompanhados em centros especializados, dada a complexidade do seu diagnóstico e tratamento.

O tumor maligno primário do fígado mais frequente é o carcinoma hepatocelular, também designado hepatocarcinoma, três vezes mais frequente nos homens e com maior incidência, em Portugal, entre a sexta e sétima década de vida.

«Muitos doentes com carcinoma hepatocelular apresentam uma doença avançada na altura do diagnóstico com um tempo de evolução da sintomatologia muito curto», indica o especialista.

Factores de risco do hepatocarcinoma

As pessoas portadoras de hepatite crónica B ou C têm um risco elevado para desenvolver carcinoma hepatocelular.

Paulo Cortes explica que «esse risco aumenta quando a pessoa é portadora das duas hepatites juntas (co-infecção de hepatite B e C). Cerca de metade dos doentes com carcinoma hepatocelular apresenta cirrose hepática. Esta, por sua vez, pode estar associada ao alcoolismo ou à hepatite crónica, sobretudo originada pela infecção pelo vírus da hepatite B e C».

Por outro lado, os cereais, os grãos e as nozes armazenadas inadequadamente, por exemplo, em locais húmidos, por longos períodos, podem ser contaminados por um fungo (aspergillus flavus) que produz uma toxina, a aflatoxina, que é uma substância cancerígena ligada ao hepatocarcinoma.

Sintomas que não deve ignorar

Dor abdominal, mal-estar geral, perda de apetite e de peso, massa abdominal que se palpa na zona do fígado, aumento de volume do abdómen e icterícia (coloração amarelada da pele e olhos).

Como é efectuado o diagnóstico

Através de análises (nomeadamente, o marcador tumoral alfa feto-proteína), ecografia ao fígado ou tomografia axial computorizada (TAC) ou ainda  ressonância magnética nuclear abdominal.

Formas de tratamento

O tratamento cirúrgico é o mais indicado nos tumores primários do fígado, desde que estejam localizados, ou seja, «que não existam metástases (localizações de células tumorais noutros órgãos) e que o doente apresente um bom estado clínico», explica Paulo Cortes.

Salientamos ainda outras técnicas recentes, utilizadas como complemento ou em alternativa à cirurgia «e que incluem a radioablação com destruição do tumor pelo calor e a crioterapia em que se destrói pelo frio», salienta Paulo Cortes.

Outra técnica possível para o tratamento do cancro do fígado é a quimioembolização, onde se emprega «uma combinação de agentes de quimioterapia e partículas de gel insolúvel que são infundidas até que haja uma interrupção do fluxo arterial para o tumor, determinando um aumento da concentração local da quimioterapia e, simultaneamente, a morte das células tumorais por ausência de fluxo sanguíneo», explica.

A quimioterapia, actualmente, não tem um papel preponderante no tratamento do carcinoma hepatocelular. Segundo Paulo Cortes, «tem sido suplantada por avanços muito recentes da biologia molecular com o aparecimento de fármacos de biotecnologia dirigidos especificamente às células tumorais».

É possível prevenir o cancro do fígado

- Evite a transmissão do vírus da hepatite B, nomeadamente através da utilização de vacinas, e da hepatite C.

Texto: Cláudia Pinto com Paulo Cortes (coordenador da Unidade de Oncologia do Hospital dos Lusíadas)