Ora, é precisamente sobre lugares e aquilo que os mesmos nos proporcionam que trata o presente artigo. Na visita a um espaço físico, seja ele de que natureza for, procuramos constantemente obter emoções, conforto e bem-estar, sempre com autonomia no seu usufruto.

Hugo Vilela, Fundador da Places4All
Hugo Vilela, Fundador da Places4All créditos: DR

O restaurante onde tão bem se come, o café de rua que serve de palco para convívios e conversas entre amigos, o magnífico monumento histórico de visita obrigatória, a universidade, o evento mais badalado da cidade ou os parques naturais. Uma cidade com lugares que proporcionam emoções fortes é uma cidade atrativa.

Neste sentido, os lugares que transmitem emoções são aqueles que interagem com as pessoas através do seu ambiente físico, sensorial e das relações interpessoais que estabelecem.

Ambiente físico: as características que permitem que o espaço interaja com quem o frequenta através da mobilidade e presença física da pessoa, desde a sua chegada, o usufruto dos seus bens e serviços até à sua partida.

Ambiente sensorial: des tacam-se aqui todas as características que tornam possível a interação das pessoas no espaço através dos sentidos, como, por exemplo o conteúdo visual, os sons, os textos ou as cores.

Relações interpessoais: é a forma como o lugar interage e comunica através de comportamentos humanos.

Mas será que todos os lugares, que juntos completam o puzzle que é uma cidade, estão preparados para receber todas as pessoas que os queiram visitar?

Mil milhões de pessoas com desafios diários

A verdade é que existem no mundo, mais de mil milhões de pessoas que têm diariamente desafios, tanto na mobilidade como a capacidade de interagir com os lugares através dos sentidos bem como aqueles que percecionam os estímulos de forma bastant  e mais intensa (exemplo: pessoas com autismo).

Estas pessoas procuram diariamente lugares que lhes proporcionem autonomia e o máximo de conforto possível. Se tivermos em conta que estas pessoas estão quase sempre acompanhadas por familiares e amigos, o número aumenta exponencialmente e o problema torna-se ainda mais grave.  

Isto sem contar que qualquer um de nós, em algum momento da vida, seja por gravidez, seja por lesões ou envelhecimento, perdemos capacidades de mobilidade, sensoriais ou de comunicação de forma temporária ou permanente.

Nesse sentido, na minha opinião, o homem cometeu um erro histórico! Criou produtos e serviços, inventou a eletricidade, a arquitetura, o design ou a engenharia. No entanto, esqueceu-se da acessibilidade como um requisito de qualidade de vida.

Por um lado, a cidade, com todas as células que incorpora, é um sistema composto por um conjunto de lugares que permitem a criação  de uma identidade e afetividade. Por outro, enfrenta uma série de problemas ainda negligenciados pela sociedade, como a violência, a pobreza ou a exclusão social e que geram externalidades negativas para os territórios.

Uma cidade inclusiva é aquela que procura solucionar essas questões, sejam elas de natureza económica, social, política ou cultural.

Por serem espaços de produção de conhecimento e de inovação, as cidades devem preocupar-se em combater os problemas de raiz, criando condições para o aparecimento de “changemakers”, aqueles que procuram resolver todos os aspetos negligenciados, implementando soluções impactantes que beneficiem toda a comunidade e com potencial para serem adotadas pelas sociedades.

Vivemos num panorama de constante inovação e progresso. A mudança rotineira, que cada vez mais procuramos, mobiliza a sociedade na descoberta de informação imediata relativamente a aspetos tão básicos como as condições com que cada lugar conta, numa ótica de receção de todas as pessoas.

Eu acredito que todos nós podemos contribuir para um novo mundo inclusivo, de todos para todos. Alinham?