Imelda Cortez, de 20 anos, começou a ser julgada esta segunda-feira. A jovem está sob custódia policial desde abril de 2017, depois de ter sofrido complicações durante o parto, numa casa de banho.

A mãe encontrou-a com hemorragias intensas e transportou-a para a urgência de um hospital.

Mulher dá à luz em corredor de hospital e fotógrafa capta o momento
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O médico de serviço - ao suspeitar de uma tentativa de aborto - chamou a polícia. O bebé acabou por nascer com vida e está livre de perigo. Após uma semana no hospital, a salvadorenha foi detida, sem possibilidade de fiança.

Antes do parto, Imelda Cortez não saberia que estava grávida. Era violada pelo padrasto desde os 12 anos.

"Esta é a mais extrema e escandalosa injustiça contra uma mulher que eu alguma vez vi", disse, citada pelo jornal britânico "The Guardian", Bertha María Deleón, advogada de defesa de Imelda Cortez. "O estado violou repetidamente os direitos de Imelda como vítima, ela está profundamente afetada", acrescentou.

O caso chamou a atenção para a rigidez das leis do aborto deste país da América Central, onde a interrupção voluntária da gravidez é ilegal sob qualquer circunstância.

Imelda Cortez, que nega as acusações de tentativa de homicídio, terá sido violada, durante oito anos, pelo seu padrasto, agora com 70.

Apresentadora de rádio transmite em direto nascimento do filho
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A jovem tem um ligeiro atraso cognitivo e vivia em situação de pobreza em Jilisquico, um município rural de El Salvador.

"Quando achamos que nada pode ser mais cruel em El Salvador, vemos o caso de Imelda, que prova a forte determinação da acusação em ir atrás de mulheres pobres, independentemente das circunstâncias ou das provas", afirmou Paula Avila-Guillen, diretora para a América Latina da organização Women’s Equality Centre.

A audiência no Tribunal de Usulután, na qual arrisca ser condenada a 20 anos de prisão, estava marcada para esta segunda-feira, 12 de novembro. Deveria ter começado às 09h00 locais (15h00 em Lisboa), mas às 10h40 foi suspensa e adiada para 17 de dezembro porque a procuradora responsável pelo caso faltou à audiência por motivo de doença.

Em El Salvador, o aborto é ilegal sob qualquer circunstância e as mulheres podem enfrentar penas entre os 15 e os 30 anos de prisão.