Tem nome de cereais de pequeno almoço e de chocolate e em breve pode vir a ser usada para tratar a depressão. Também conhecida como Special K e Kit Kat, a ketamina é uma droga com efeitos alucinogéneos derivada da fenciclidina, (re)conhecida pelas suas propriedades sedativas, analgésicas e anestésicas. Especialistas internacionais acreditam que, num futuro muito próximo, poderá ser utilizada para combater a patologia, que afeta cerca de um quarto da população portuguesa.

Ao contrário da canábis, esta substância, que foi descoberta em 1962, é encarada com bons olhos por muitos médicos. Num artigo publicado recentemente no The World Journal of Biological Psychiatry, Matthew Cooper, professor na Universidade de Dalhousie no Canadá, elogia algumas das experiências laboratoriais que têm vindo a ser desenvolvidas nos últimos anos. Dennis Hartman é uma das (poucas) cobaias já conhecidas internacionalmente.

«A minha vida terá sempre um antes e um depois da primeira infusão [de ketamina] que tomei. A sensação de dor e de sofrimento que tinha desapareceu. Fiquei [sobretudo] surpreendido com a ausência de dor», referiu o paciente, um homem que sofria de uma depressão que já se arrastava há vários anos e que até já tinha estado à beira do suicídio, em entrevista ao jornal The Washington Post.

«Nos dias que correm, a administração intranasal [desta droga] apresenta-se como a estratégia mais promissora para mitigar os [seus] efeitos dissociativos e psicomiméticos», assegura Matthew Cooper. Nalgumas das experiências já realizadas, a administração da substância foi feita por via intravenosa, usando uma dosagem inferior à que é administrada durante uma cirurgia.

A divulgação pública de algumas das experiências efetuadas nos últimos anos levou já a American Psychiatric Association (APA), a associação de psiquiatria norte-americana, a considerar e discutir o uso desta droga no tratamento de doenças depressivas. A própria organização Ketamine Advocacy Network, que Dennis Hartman ajudou a fundar, tem feito alguma pressão nesse sentido. Apesar dos benefícios (re)conhecidos, mesmo administrada em doses pequenas, a ketamina pode, contudo, causar alucinações e estados dissociativos.

Texto: Luis Batista Gonçalves