Estima-se que, em 2020 no mundo, as doenças respiratórias sejam responsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais.

As doenças respiratórias são mais prevalentes no sexo masculino, no entanto com as alterações marcadas nos hábitos tabágicos no sexo feminino, estas diferenças tendem a esbater-se. Por outro lado, as doenças respiratórias são mais prevalentes nas faixas etárias mais elevadas, havendo uma maior esperança de vida na mulher, a diferença de prevalência entre os sexos tende a diminuir.
O frio é um irritante brônquico e por isso há aumento da produção de muco pelas glândulas mucosas do aparelho respiratório, quer muco nasal, quer brônquico.

O muco tem na sua composição química mucopolissacáridos, que tem uma estrutura em rede composta por proteínas e glúcidos (açúcares). Este muco tem como finalidade a fixação dos irritantes que invadem o aparelho respiratório para serem expulsos. Acontece que os vírus e as bactérias também ficam retidos no muco e, devido à sua composição – proteínas, glúcidos (açúcares) – e à temperatura do organismo, estão criadas as condições para a sua multiplicação e desenvolvimento das doenças infecciosas respiratórias virais e bacterianas.

Em Portugal os dados de incidência e prevalência de pneumonias são bastante preocupantes. Há mais de 150.000 casos por ano e são causa de 40.000 internamentos e mais de 400.000 dias de internamento. A pneumonia é mais frequente nos grupos etários mais elevados. Em 2013, 77,9% dos internamentos por pneumonia ocorreu em pessoas com mais de 65 anos.

Muitos dos óbitos hospitalares por pneumonia ocorrem nas primeiras horas ou dias após a chegada ao hospital. Este facto sugere atrasos no diagnóstico e na referenciação.21

De notar que os idosos muitas vezes apresentam sintomas gerais, como alteração do comportamento, letargia, sonolência, o que não leva a pensar nesta doença. Neste grupo etário, muitas vezes, as queixas respiratórias podem ser escassas e podem não apresentar febre.

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a Asma brônquica, as Neoplasias pulmonares, as Fibroses pulmonares, as Bronquiectasias e a Fibrose quística são as doenças respiratórias crónicas mais conhecidas. No entanto, outras há que são também relevantes, como as Embolias pulmonares, a Hipertensão pulmonar de várias causas, o Síndroma de apneia obstrutiva do sono (SAOS), as Doenças neuromusculares e as Doenças deformativas da parede torácica que são causas de insuficiência respiratória e implicam muitas vezes a necessidade de prescrição de oxigénio e mesmo de ventilação mecânica para que os doentes tenham uma boa qualidade de vida.

Todas estas doenças crónicas são agravadas e progridem após agudizações com as infecções respiratórias, quer virais, quer bacterianas.

Existem grandes deficiências no diagnóstico e no acompanhamento dos doentes respiratórios crónicos com prejuízo da qualidade de vida desses doentes, antes de mais pelo deficit de avaliação funcional, através da espirometria e/ou mecânica ventilatória.

Não está implementada a Rede Nacional de Espirometria, dificultando o diagnóstico da DPOC, contribuindo esta realidade para o sub-diagnóstico dessa relevante patologia respiratória.

As doenças crónicas, nomeadamente a DPOC, devem ser integradas no conceito de qualidade de vida, obtido com diagnóstico precoce, avaliação funcional e medidas terapêuticas e de reabilitação adequadas.

A reabilitação respiratória deve fazer parte integrante da terapêutica dos doentes respiratórios crónicos sintomáticos.

A Reabilitação Respiratória é uma componente fundamental no tratamento do doente respiratório crónico. Tem sido alvo de particular atenção pelos investigadores nos últimos 10 anos e é actualmente apontada como uma intervenção de 1ª linha no tratamento da DPOC estável, Classes B,C e D da GOLD, bem como em outras doenças respiratórias crónicas, propiciando diminuição dos sintomas, melhoria na funcionalidade, capacidade de exercício e qualidade de vida e na autonomia da gestão da doença.

Apesar das previsões pessimistas que apontam para um aumento da prevalência, incidência e mortalidade da DPOC até ao ano 2020, a resposta das políticas de saúde dos diferentes países continua a ser insuficiente para inverter esta tendência.

Um programa de reabilitação respiratória tem como objectivos proporcionar a diminuição das incapacidades físicas e psicológicas causadas pela doença respiratória através da melhoria da aptidão física e mental, alteração de comportamentos de agravamento, promovendo a reintegração social e capacitando o doente para a gestão integrada da sua doença.

Existem os seguintes benefícios para os doentes que realizem reabilitação respiratória, redução dos sintomas respiratórios de fadiga e dispneia, reversão da ansiedade e depressão associados à doença respiratória, melhoria da tolerância ao exercício com aumento da resistência ao esforço, melhoria na habilidade para a realização das actividades da vida diária, redução das agudizações, redução do número de consultas não programadas e recurso ao Serviço de Urgência redução do número de dias de hospitalizações, diminuição dos custos directos e indirectos relacionados com a saúde e uma melhor integração familiar e social.

Todos os doentes com doença respiratória crónica sintomáticos devem ter prescrita a reabilitação respiratória como integrante do seu programa terapêutico.

A evolução da medicina nesta área, associada à investigação clínica tem mostrado que a Reabilitação Respiratória evidência benefícios de saúde muito significativos para estes doentes e simultaneamente redução dos custos diretos e indiretos com a saúde. Contudo, verifica-se que a taxa de referenciação e adesão à Reabilitação Respiratória, assim como a capacidade de resposta dos serviços de saúde públicos ou privados, tem sido muito diminuta. Num estudo recente foi avaliado que cerca de 1% dos doentes respiratórios crónicos sintomáticos em Portugal têm acesso a esta terapêutica enquanto na Europa, nos países de média adesão, é de 30% estendendo-se este valor para 70% nos países de grande adesão.

A reabilitação respiratória deverá ter o suporte técnico de uma equipa interdisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional que capacitem os doentes capazes de gerir a sua doença, apresentem de forma sustentada uma melhoria do seu estado de saúde com diminuição do recurso aos serviços de saúde, melhoria significativa na qualidade de vida e consequente melhoria na vivência familiar e social.

Um programa de reabilitação respiratória assenta em três pilares: controlo clínico, ensino e treino de exercício.

A fraca acessibilidade do doente a um programa de reabilitação respiratória pode estar relacionado com o facto de sentir que é complicado o cumprimento do programa, por depressão ou desmotivação, por dificuldades de transporte, por escassez de recursos financeiros ou ainda por resistência do doente e familiares à mudança de rotinas, medicação, e início de novas abordagens terapêuticas como a cessação tabágica, oxigenoterapia, ventiloterapia ou exercício terapêutico.

No entanto, a principal causa da muito deficiente acessibilidade reside na quase inexistente oferta de Programas de Reabilitação Respiratória, nomeadamente em Centros de proximidade, fora do ambiente hospitalar.

A Direcção Geral de Saúde aponta para a necessidade de expandir a espirometria (função pulmonar) à população para avaliação funcional respiratória, extremamente deficitária e a reabilitação respiratória de proximidade abarcando os doentes respiratórios crónicos sintomáticos, que dela necessitem.

Hoje, em Portugal, só um pequeno número de doentes respiratórios crónicos é privilegiado ao terem acesso a um tratamento global com Programa de Reabilitação incluído. Torna-se pois premente a abertura de Centros de Reabilitação Respiratória de proximidade, que possam dar respostas às necessidades do país.

O exemplo do AIR CARE CENTRE, Centro de Reabilitação Respiratória da Linde tem de ser multiplicado para chegar a um número significativo de doentes respiratórios crónicos com os evidentes benefícios daí decorrentes.

Um artigo de António Carvalheira Santos, Médico e Chefe de Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente