Rute Duarte, uma super mãe de três filhos, residente no Algarve, em Lagos, é um verdadeira inspiração para nós e especialmente para todos os que pretendem modificar a sua vida.

Falamos na primeira pessoa com a Rute e ela contou-nos tudo sobre esta sua jornada fascinante. Do surpreendente percurso de alguém que tinha excesso de peso e um estilo de vida sedentário para um estilo de vida saudável e ativo e consequentemente para os palcos de competição de fitness da WBFF.

Como era a tua vida antes de te tornares uma modelo Fitness e uma verdadeira inspiração para todos nós?

A minha vida era a vida normal duma mulher casada com três filhos, em que obviamente priorizava sempre a minha família como todas as mães fazem.

Uma vida bastante atarefada, por vezes até um tanto dura. Sempre tive a tendência de colocar tudo à minha frente e depois usar esse argumento para não fazer nada por mim. Porque de facto eu chegava ao fim dos meus dias sem energia nenhuma.

Tinhas algum tipo de preocupação com hábitos de vida saudável, alimentação, exercício, peso?

Não fazia absolutamente nenhum exercício físico, até porque eu nunca gostei muito de Educação Física e foi algo que fui fazendo prevalecer ao longo dos anos.

A nível de cuidado alimentar fazia por vezes alguma daquelas dietas que de vez enquando se tornam famosas, ou então não fazia nenhuma.

Evitava pesar-me, acho que nessa altura também evitava confrontar o espelho e fui também tendo aquele discurso comigo mesma “ah já tiveste três filhos já não podes ter o corpo que tinhas com dezoito anos”, que devemos aceitar esse facto e seguir a vida com “esse corpo” que fui arruinando nas diversas fases da minha vida apesar de ainda ser tão jovem.

Sentia esses incómodos que todas sentimos e que foram lentamente sendo alimentados ao longo dos anos.

Quando pensaste que tinhas de mudar alguma coisa na tua vida? E o que te fez mudar?

No meu caso pessoal que sou uma inconformista e um dia tudo mudou.

Como digo na questão anterior por muito que eu tentasse aceitar o meu corpo como ele estava, existia uma parte que recusava aceitar tal condição física.

Não existiu um motivo factual, existiu um por um ponto final na minha atitude estranhamente conformada e de auto comiseração. O aperceber-me que se não mudasse seria a minha saúde a ser afetada. Que se não mudasse, a minha autoestima seria ainda mais danificada. Porque não é por não confrontarmos os problemas que eles não existem.E de repente deu-se um clique.

Eu lembro-me que naquela altura comecei de facto a confrontar-me ao espelho e sentir-me muito incomodada com o que eu via. Uma ou outra fotografia juntamente com um vídeo acabaram por me empurrar para a melhor decisão da minha vida. Atenção que á minha volta não houve ninguém que me apontasse o dedo a dizer-me “estás gorda, estás feia”. Sempre existiu “nós amamos-te como és”. Por isso esta viagem foi uma decisão pessoal desde o primeiro momento.

Nasceu de mim naquele segundo em que me olhei ao espelho e disse “eu vou ser magra”. Isto foi no início de 2011 e nunca mais olhei para trás.

Foi fácil esta mudança?

Não. Até porque pessoas conscientes como eu não conseguem fazer mudanças fáceis.

Foi difícil desde o primeiro momento. A partir do momento em que já não vamos comer aquele chocolate diário, ou aquele pequeno-almoço no café e que os meus adorados croissants já não fazem parte do meu menu começa a ser difícil. É algo que somos logo confrontados do quanto difícil vai ser assim que começamos a sentir fome. Assim que deixamos de nos alimentar da maneira que nos fazia sentir confortáveis. Psicologicamente pode ser muito desafiante, mas nem nessa altura cedi. Não, mantive-me sempre muito férrea no meu intuito de me tornar magra.

Depois acontecem aqueles erros de não ajustarmos bem a rotina de ginásio com um plano alimentar adequado às necessidades e objetivos.

No primeiro ano consegui sim realmente tornar-me magra, até muito magra. Mas rapidamente me apercebi que ser magra não me daria um corpo fit como aqueles que eu fui aprendendo a gostar ao longo daquele primeiro ano, sendo confrontada com um beco. Porque a partir dali já não soube o que fazer para chegar a esse corpo. Foi precisamente nessa altura que tive a fantástica sorte de começar a ser acompanhada pelo alto pontífice do culturismo português, o atleta português Carlos Rebolo. A partir daí foi quando tudo começou a cair no seu devido lugar.

Ter um bom acompanhamento é essencial para uma transformação física ter sucesso. Penso que seja a única forma de não perder tempo numa viagem que vai durar a vida toda.

Posso então dizer que não, não foi uma mudança fácil mas foi e é uma mudança feliz.

Todos sabemos que o culto de corpo envolve variadíssimos sacrifícios pessoais, poderias falar no impacto que isso teve na tua vida.

Envolve variadíssimos sacrifícios. Mas eu não passei de ser uma mulher com excesso de peso para o culto do corpo (acho que isso não se passa assim com ninguém).

Foram vários patamares a serem subidos, várias fases até chegar ao termo “culto do corpo”.

Penso que foi uma evolução muito gradual, eu diria quase natural, porque nunca senti nenhuma imposição exterior a mim. Foi algo pelo qual me fui apaixonando.

Assim que me apercebi das transformações físicas taxativas, percebi que sim era isto que eu queria para mim. Com todas as dores e sacrifícios que esta vida contém.

Ter uma alimentação saudável associada à musculação permitiu-me transformar o meu corpo. Está inerente a um sacrifício pessoal enorme mas tudo aquilo que é bom de verdade tem um “preço”. Isto na prática envolve a planificação de toda a minha alimentação. Envolve muitas vezes eu comer de forma diferente do resto da família.

Quando estou em preparação para uma competição, não posso viver as celebrações de forma normal. Se existir um aniversário (até mesmo o meu) eu não vou comer uma fatia de bolo. Eu nem posso abordar a minha dieta de forma moderada nessa fase. Tenho que a encarar com todas as suas restrições.Tive que encaixar duas horas por dia para tudo o que o treino envolve seis dias por semana. Se são duros esses dias? São. Se vale a pena? Imenso! A minha família adaptou-se lindamente a esta nova mãe. Até porque estão muito contagiados com a prática duma vida saudável, e afinal de contas tornei-me numa mãe muito mais feliz.

Quando pensaste em participar em competições Fitness? E como foi a experiência?

Penso que acaba por ser mais um estágio de todo um processo. Acabamos por ter os nossos ídolos no desporto.

Vemos fotos, vemos vídeos e acabamos por nos começar a imaginar naquela posição a competir. Digo que deve ser uma decisão muito bem ponderada porque o caminho até ao palco é mesmo muito difícil.

Acho que o sacrifício pessoal é completamente ressarcido pelas espetaculares transformações físicas que acontecem naquelas semanas. Depois é aproveitar “aquele” dia ao máximo uma vez que é único.

Para mim foi muito enriquecedor, a primeira vez foi e será sempre a mais especial.

Estava num backstage dum teatro numa cidade dinamarquesa sem um único português, não se pode levar ninguém para o backstage, temos de nos “desenrrascar”, pedir ajuda a quem está ali ao nosso lado e que no fundo também está na mesma posição. Os dinamarqueses são muito educados, assim que se apercebem que estão pessoas de outros países com eles falam apenas inglês, confesso que isso me surpreendeu pela positiva.

Fui muito ajudada, muito acarinhada mesmo e de facto sente-se ali, que o evento é feito para que nós brilhemos, seria uma pena não aproveitar “aquilo” tudo que temos ao nosso dispor nesse dia.

Para mim foi das melhores experiências da minha vida.

Como é ser mãe, ter de gerir toda a vida familiar e conciliar com este estilo de vida?

Não é fácil. Se calhar já não sou tão eficiente como outrora mas a questão é que os filhos também crescem permitindo que nós mães tenhamos os nossos próprios interesses.

Existem dias mesmo muito complicados em que as horas não esticam e eu tenho que ajustar tudo o que tenho que fazer naquele dia muito bem.

Sou uma pessoa muito metódica e gosto de ter uma certa rotina na minha vida de forma a conseguir organizar-me, e consigo. Aposto na planificação. Tento cumprir bem os meus horários e aprendi nos últimos anos a não me distrair com coisas que no fundo não me acrescentam nada e só me faziam perder tempo.

Os meus conselhos neste aspeto é que planifiquem as vossas refeições, cozinhem-nas previamente. Preparem tudo o que puderem preparar no dia anterior para o vosso dia seguinte. Não deixem tudo para a última hora.

Mas acima de tudo priorizem-se, não se sintam culpadas de se darem como prioridade durante algumas horas do dia, é isso que eu faço e tem corrido bem.

Como é a reação dos teus filhos à tua mudança?!

Essa questão faz-me sempre sorrir, porque foi e é fabulosa.

Eles acham o máximo, mas também já vão dizendo que quase já não se lembram como eu era, o que é normal. Eles estão muito integrados no meu estilo de vida sem nada lhes ser imposto.

Achas que existe ainda muito preconceito na prática de musculação por parte das mulheres?

Eu diria que a grande maioria não vê com bons olhos as mulheres na musculação, quando penso que é a forma mais saudável de conseguir um corpo de sonho.

Musculação acompanhada dum plano alimentar e suplementar bem estruturado ajustados às necessidades diárias e objetivos futuros.

É isso que vai permitir a uma mulher cuidar do corpo, recupera-lo depois de uma ou várias gravidezes ou dum processo de excesso de peso.

A principal razão para existir esse enorme preconceito é o facto de existir a falsa ideia que a prática da musculação irá masculinizar a mulher quando isso não é possível, aliás acontece o inverso.

Por vezes ficamos com formas mais harmoniosas e ocorre uma melhoria da saúde de forma generalizada, sendo essa a vantagem mais importante.

Porque é que decidiste partilhar o teu percurso. Poderias dizer-nos se isso modificou de alguma forma teu trajeto.

Foi uma das minhas grandes decisões relacionadas com esta vertente da minha vida.

Na altura foi muito ponderada. Sabíamos que as coisas mudariam a partir dai, só não sabíamos como é que iria mudar.

Quando saiu o meu primeiro “antes e depois” foi na página do meu amigo Eduíno Ribeiro, a página tem uma enorme abrangência, lembro-me que nessa semana foi só responder a SMS, chamadas telefónicas, mensagens no facebook.

As pessoas ficaram incrédulas, e eu fiquei muito surpreendida, sabia que seria algo importante mas não pensei que lhe dessem tão enorme importância. Lembro-me de olhar para a foto e dizer a mim mesma, que não era este “antes e depois” que eu queria, mas sim um “antes e depois” com uma foto de competição e em Junho de 2014 consegui fazer isso.

Lembro-me ainda de estar ali no meu computador com a minha família, já com a fotografia carregada no facebook, com a introdução escrita e estar muito hesitante em lançar a foto. Tinha imensas borboletas na barriga, literalmente! Lá acabei por premir o botão. E essa sim, tornou-se imensamente vista, foi a foto que me permitiu aparecer em vários sites internacionais, que me permitiu conhecer gente que eu admiro imenso, mas acima de tudo fez com que as mães portuguesas se identifiquem comigo.

Elas muitas vezes dizem que não acreditam neste género de foto, que era Photoshop mas que ao falarem comigo percebem que de facto acontece. Para elas é fácil falarem comigo porque falamos a mesma língua, eu tento estar sempre disponível e acho que ainda não deixei ninguém sem resposta.

No fundo resolvemos partilhar também para mostrar às outras pessoas que é possível, que é verdade. Que tudo é possível se desejarmos muito e trabalharmos mais ainda.

Se isso mudou alguma coisa! No início foi um pouco anti natural para mim porque eu sou por vezes um tanto tímida, reservada… Mas não teve qualquer tipo de impacto na minha personalidade, nem na minha filosofia de vida. Acabou por ajudar-me a ser uma mulher mesmo muito bem resolvida com o meu aspeto físico.

Que conselhos dás a outras mulheres e mães que queiram seguir o teu exemplo.

O melhor conselho que vos posso dar é que comecem a gostar de vós mesmas. Esse será o catalisador na busca duma vida melhor.

Lembrem-se sempre que devemos ser felizes também durante a busca e não só no objetivo.

Muitas pessoas ficam ansiosas por não verem logo resultados, os resultados eventualmente acabam por aparecer se formos persistentes e muito coerentes. As pessoas têm a tendência de querer em dois meses a evolução num corpo que se calhar foi mal tratado uma vida inteira e isso não acontece.

Tudo leva o seu tempo e isto não será a exceção. Dêem o tempo necessário para haver uma resposta. Encaixem o vosso tempo de ginásio como outra qualquer tarefa que tenham que efetuar na vossa semana.

Não existe problema nenhum a mãe se ausentar porque vai ao ginásio. Procurem ajuda especializada, acreditem em mim quando vos digo que vão economizar tempo e frustração. A minha evolução só começou a ocorrer definitivamente quando comecei a ter uma excelente a ajuda profissional.

No fundo o que queremos é ser saudáveis, felizes e acho sinceramente que isso é possível se isso for um objetivo real.

Responsabilizem-se pelas vossas lutas sejam elas quais forem. Sejam férreas e apaixonadas pela vossa decisão, eu posso-vos garantir que eventualmente serão bem-sucedidas.

http://instagram.com/rute_duarte

Tiago Santos

Fitness specialist

santos.tiagoferreira@gmail.com