A empreendedora norte-americana Tiffany Ng tinha, desde pequena, o sonho de ser diplomata. À medida que foi crescendo, descobriu uma nova paixão, que quase a levou a inscrever-se na academia americana de culinária. A diplomacia sobrepôs-se à gastronomia e levou-a até Copenhaga, na Dinamarca, mas as saudades da comida do seu país foram mais fortes.

Daí até à criação da Silver.Spoon, uma empresa de estratégias de marca com experiências focadas na gastronomia que promove jantares e eventos originais em locais insólitos, foi um pequeno passo. Em entrevista à Saber Viver, fala sobre esta paixão e revela pormenores sobre o projeto.

O que é para si a comida?

É uma das formas mais poderosas de juntar pessoas de culturas e línguas diferentes. É um ponto central para a interação social. E, para mim, foi sempre isso, uma forma de ligar os meus contactos.

Na sua opinião, porque é que a comida se tornou tão especial nos últimos anos?

Tem havido uma recuperação dos tesouros perdidos. Em parte é um retrocesso contra uma fase que em que a existência humana negligenciou todos os fundamentos daquilo que deve ser a relação entre a alimentação e o homem. Podemos associar a isto razões políticas, agrícolas e negociais mas, resumidamente, penso que as pessoas perceberam que as práticas do passado recente não eram as mais saudáveis.

Viaja muito. Quais os lugares onde comeu melhor?

São Francisco sempre foi uma das minhas cidades preferidas para comer. Nova Iorque é outros dos destinos que aconselho, tal como o Japão e Xangai. Londres também tem muito para oferecer.

Nasceu e cresceu nos Estados Unidos da América, mas escolheu a Europa para viver. Que diferenças encontra quando americanos e europeus se sentam à mesa?

Uma coisa interessante é que os americanos apenas usam o garfo para comer e eu nunca tinha pensado nisso porque cresci a usar faca e garfo. Acho que não podemos generalizar, porque estamos a falar de um país e de um continente muito grandes, no entanto, nas zonas costeiras dos Estados Unidos aprecia-se a comida como na Europa, enquanto que noutras áreas do país não tem um papel muito relevante na vida das pessoas.

E entre o norte e o sul da Europa?

As grandes diferenças são as porções ingeridas e o horário das refeições…

Porque resolveu fundar o Silver. Spoon na Europa e não nos Estados Unidos da América?

Na verdade, o Silver.Spoon foi um acidente. Nasceu da necessidade de encontrar algo que me fazia muita falta em Copenhaga. Este projeto não estava nos meus planos, até porque tinha planeado seguir uma carreira na diplomacia, que é algo que ainda quero fazer no futuro.

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Além de querer voltar à diplomacia, gostava de abrir um restaurante?

Apesar de várias gerações da minha família de ambos os lados terem estado sempre envolvidas na restauração e hotelaria, nunca tive interesse em seguir esse caminho. Sou feliz como consultora de pessoas que o querem fazer, mas abrir um restaurante permanente é algo que o Silver.Spoon não irá fazer. A menos que surja uma ideia irresistível vou continuar a trabalhar nos projetos como tenho feito até agora. Ainda não posso desvendar, mas nos próximos meses vou ter novidades.

Onde encontra inspiração?

A energia pessoal é fundamental para avançar, mas ter alguém que nos apoia facilita o empreendedorismo. Nestes seis anos, tenho tido a sorte de ter um companheiro que me tem apoiado nos altos e baixos. Ele tem sido um fator de estabilidade na minha vida pessoal que me permite focar no trabalho.

A outra inspiração é saber que nas culturas ocidentais temos a capacidade única de seguir os sonhos e tentar fazer coisas. Dado o meu primeiro trabalho ter sido no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, contactei com tragédias de outros países e sociedades, e a gratidão que sinto em ter estas oportunidades é um motivador fenomenal.

Como é, para si, a refeição ideal?

Pode ser um jantar fino ou cozinha da avó, tem é de ter muita paixão por trás. Quando não há amor na elaboração do prato, não é fácil partilhá-lo com outra pessoa.

Gosta de cozinhar?

Adoro. Até determinada altura, pensei em ir para a academia culinária nos Estados Unidos, mas, em vez disso, optei pela carreira diplomática. Agora cozinho para entreter amigos e família e raramente sigo uma receita, mas estou à vontade para cozinhar comida asiática, latina e do norte da Europa e quero melhorar nos pratos vegetarianos.

O que pensa da gastronomia portuguesa?

Acho os sabores vibrantes, ricos e com a profundidade certa. Não tenho dúvidas que poderia comer comida portuguesa todos os dias do resto da minha vida e morreria feliz…

Texto: Rita Caetano