Crendo que chega o leitor a estas linhas para somar informação ao roteiro pessoal das mesas onde vale a pena sentar-se, partamos sem rodeios para os argumentos que abonam a favor deste lisboeta Terraço do Marquês. “Terraço”, por ser isso mesmo, um miradouro, aqui numa localização privilegiada. “Marquês”, porque é contíguo à praça onde se ergue a estátua do nosso empreendedor Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras. Contas feitas, são 14 os meses que esta casa, na esquina entre a Avenida Sidónio Pais e a rotunda do Marquês, leva de coexistência diária com o bulício de pulsantes artérias da capital.  Um afã que contrasta com a plácida presença, a poucos metros, desse reduto verde, retemperante e fresco que chama pelo nome de Parque Eduardo Sétimo.

Vive o Terraço do Marquês entre estes dois mundos urbanos, para lhes tirar proveito. A casa constrói-se num tríptico de espaços. Bar com esplanada, acomodados às sombras do Parque, sala interior totalmente envidraçada que culmina num terraço  sobre o afã do Marquês e onde a malha urbana não nos nega vista sobre uma nesga de rio e de cordilheira da Arrábida.  Três espaços que comungam para uma mesma experiência de convívio com uma das zonas mais nobres de Lisboa, como nos confidência Henrique Pinheiro, um dos sócios responsáveis (a par com Miguel Moreira) por este restaurante concessionado pelo município lisboeta. “Quisemos fazer deste espaço um convite ao convívio e à partilha. A nossa preocupação foi construir uma carta sólida, com uma forte componente de petiscos e com algumas propostas com potencial para se tornarem icónicas”, refere Henrique. Este homem, para quem a restauração é um novo desafio, senta-se connosco à mesa, dedilhando as mais de quatro dezenas de referências de uma carta que não nega espaço a carnes, peixes, saladas, massas e as já referidas propostas para “picar”. Comida que se quer acolhedora e que sai diariamente de uma cozinha em funcionamento continuo entre as 12h00 e as 23h00. É obra.

Terraço do marquês
Entrecote. Uma peça de 200 g proveniente do País Basco, em Espanha.

Henrique é um anfitrião que sabe que uma casa também se faz pela diferenciação do produto. Aqui, no Terraço do Marquês bem podemos dizer que essa singularidade está bem entregue a carnes do País Basco, mais concretamente à marca Txogitxu (a este propósito, vale a pena dedicar três minutos do nosso tempo a assistir a este vídeo). Não estamos a falar de um bifinho que se perde no prato numa miríade de acompanhamentos e molhos. Não. Quer o Entrecote (200 g – 18,00 euros), quer o Txuleton – costeletão - (400 g – 33,00 euros), gozam do protagonismo que só carnes de primeira podem ter à mesa. Estes nacos de carne bovina, com aquele delicioso interstício de gordura entre o tecido muscular, nascem nos pastos verdes da temperada província Basca e  pede na grelha apenas umas pedras de sal. Henrique Pinho não esconde o entusiasmo com estas sugestões cárneas da carta do Terraço do Marquês embora lamente ter sido necessário encontrar a 800 quilómetros um fornecedor ibérico, capaz de oferecer em quantidade, qualidade e celeridade as carnes aqui apresentadas em Lisboa. “A ideia nesta tábua de carne é a partilha entre quem nos visita. Que lhes juntem, por exemplo, umas batatinhas caseiras fritas, uns legumes salteados com soja, um esparregado”, salienta o nosso interlocutor. Também nas carnes um sublinhado para a peça bovina Eisbein, com uma proveniência de território mais setentrional, da Dinamarca. Aproximadamente 600 g de carne de forno (20,00 euros), acompanhada com choucroute e batata assada.

Terraço do Marquês
Ceviche

Uma mesa onde vale a pena somar alguns dos petiscos de uma carta que reúne, neste item, um elenco com mais de duas dezenas de propostas. Provamos uns Peixinhos-da-Horta, com maionese de coentros (6,00 euros) deliciosos, com o polme crocante e dourado; um Ceviche de espadarte (10,00 euros) de boa frescura e quanto baste na acidez; um Folhado de queijo de cabra, com uma massa leve (8,00 euros), sem tomar protagonismo sobre o produto lácteo. O comensal encontra, ainda, as Tirinhas de choco frito com maionese de gengibre e tomilho (8,00 euros), umas Gambas salteadas com alho, malagueta e limão (12,00 euros), Ovos mexidos com espargos ou cogumelos (6,00 euros), queijos da Beira Baixa e enchidos da serra de Huelva, no sul de Espanha, que propiciam algumas interessantes tábuas para petiscar (entre os 15,00 e os 18,00 euros).

Terraço do Marquês

“Houve aqui um cuidado especial com os pormenores”, explica-nos Henrique Pinheiro. Uma atenção que, por exemplo, levou os dois sócios a procurarem semanas a fio pela frigideira certa para levar alguns petiscos à mesa. “não podia ter uma pega que se interpusesse aos movimentos de quem está a almoçar ou jantar. Também queríamos este toque intemporal”, sublinha o nosso anfitrião, apontando para uma frigideira de fundo negro, pintalgada de branco, de feição semelhante às que encontrávamos na casa das nossas avós. Uma abordagem mais rústica à cozinha que o Terraço do Marquês não nega na sua assinatura. Na carta encontramos o Lombo de bacalhau com broa (16,00 euros), o Atum braseado com legumes salteados e molho soja (14,00 euros), o Tagliatelle com legumes salteados, tomate fresco, manjericão, queijo feta e nozes (11,00 euros). Propostas com sabor a mesa de conforto extensíveis ao menu diário ao almoço (10,00 euros) com pratos variáveis, onde se incluem, por exemplo, o Arroz de polvo, a Lasanha, o Pernil no forno com batata assada, ou mesmo saladas frias, numa aproximação a uma mesa mais estival, onde não faltam alguns clássicos como a Salada Caprese ou uma Caesar (entre os 11,00 e os 14,00 euros). Nas sobremesas, com preços a rondar os quatro euros, há mão experiente, a de Joana Reymão que há perto de 25 anos que corporiza em bolos, cheesecakes, pavlovas, tartes e afins o dom e muita dedicação à doçaria.  Da carta do Terraço provámos um bolo de chocolate de consistência densa e duas variações (de morango e de maracujá) de cheesecake.

Terraço do Marquês
Folhado de queijo de cabra.

Uma carta polivalente tal como o próprio espaço como nos explica Miguel Moreira, que, entretanto, se junta à conversa. “Queremos continuar a desenvolver a componente eventos. Somos procurados para festas de aniversário, eventos de empresa, festas de sunset e casamentos”. Os dois sócios não esquecem o casamento que obrigou a reconfigurar o layout da sala de refeições para acomodar –“sem apertos” – cem comensais. Outra aposta deste Terraço do Marquês é a componente bar, um espaço em funcionamento entre as 12h00 e as 02h00, servido por um quiosque autónomo ao restaurante, e que aposta numa interessante carta de cocktails e gins, onde está bem presente a parceria com a marca de cervejas Heineken.

Terraço do Marquês

Ainda no que aos bebíveis diz respeito, a não desmerecer a seleção de vinhos com néctares de Lisboa, Dão, Douro e Alentejo. Uma vez mais fruto de uma parceria deste Terraço, neste caso com a Sogrape o que garante à mesa a presença de referências como um “Papa Figos” (Douro), um “Grão Vasco” (Dão), um “Planalto” (Douro) ou um “Vinha do Monte” (Alentejo).

Um Terraço de vistas largas sobre a cozinha e onde o protagonismo não está entregue às visitas do chefe à mesa, mas a pratos inspirados naquilo onde assenta, em primeiro lugar, a simpatia de uma mesa, um bom produto.

Terraço do Marquês

Avenida de Sidónio Pais 1, Lisboa

Reservas: Tel. 210 107 411, ou aqui.

Terraço do Marquês