Há encontros felizes, como aconteceu a Pedro Olaio. O designer, que se dedicava a importar marcas internacionais para vender em Portugal, ofereceu um par de botas tradicionais, um modelo muito em voga nos trabalhos de lavoura, nos anos da década de 50, ao diretor de calçado da marca italiana DSquared2. Para seu espanto, a oferta fez furor e ouviu-lhe o comentário «podia ser uma marca». Trabalhou a ideia, criou a Green Boots e decidiu arriscar no negócio.

Natural da Benedita, no concelho de Alcobaça, procurou quem fosse entendido nessa arte e encontrou o mestre José Rodrigues Serrazina que, desde 1955, se dedica a produzir calçado com maquinaria antiga e saberes que resistiram ao tempo. Recriou o modelo com materiais sustentáveis, usando «pneus reciclados nas solas, aproveitamentos de cortiça no isolamento e no interior, cabedal e algodão». «Tudo cem por cento nacional», assegura.

Ao carácter ecológico aliou «mais conforto, ergonomia e pormenores que fizessem a diferença», a combinação certa para despertar o interesse e as encomendas não demoraram a chegar. A vida de Pedro Olaio, que se assume como «o melhor cliente da sua marca» mudou por completo. «Se antes acompanhava tudo, agora deixou de ser possível. Atualmente, estão 15 pessoas na fábrica a produzir as nossas botas. Temos cinco pontos de venda seleccionados em Portugal (A Vida Portuguesa em Lisboa e no Porto, a Amélie au Téâtre em Lisboa, a Coimbra Concept Store e o Atelier Sandrine Vieira em Leiria)», diz.

«E exportamos para países como a Rússia, a Áustria, a Lituânia, Itália, Alemanha, França e o Canadá», alegra-se. É, sobretudo, um público informado, que procura uma linha atual e descontraída, quem compra, mas também contam com «o mercado da saudade, pessoas na faixa dos 60 anos», que lembram o modelo da mocidade. Os preços variam entre os 109,50 € e os 169,50 €. A marca quer continuar a fazer a diferença e, nesse sentido, desenvolveu uma edição limitada assinada pela artista Joana Vasconcelos.

Desenvolvida foi também uma parceria com a joalheira Sandrine Vieira. A par do calçado, produziu uma coleção de t-shirts com clássicos do cinema português, em parceria com a Cinemateca Portuguesa. Inspirado pelo sucesso da Green Boots, Pedro Olaio prepara o lançamento da marca de vestuário Marialva, que bebe inspiração às tradições portuguesas, que deve chegar ao mercado no inverno de 2015.

Texto: Sandra Nobre