Mal surgem os primeiros raios de sol, os supermercados, as farmácias e as perfumarias enchem-se de propostas para proteger a pele. Mas afinal o que as diferencia? Quais os critérios a ter em conta na hora de escolher o protetor solar? Como saber se o eleito é mesmo o mais indicado para si? Reunimos as principais dúvidas e pedimos a três dermatologistas que esclarecessem todas as questões. Para que este ano escolha, conscientemente, o produto ideal.

Os filtros solares são todos iguais?

«Não. Existem filtros químicos e filtros físicos (também chamados minerais). A maioria dos protetores solares contém filtros químicos. Os minerais são especialmente indicados em caso de doenças dermatológicas, em situações de alergia ou de sensibilidade ao sol e nas crianças com menos de três anos», explica Leonor Girão, dermatologista.

Porque é que as crianças não podem usar os protetores comuns (com filtros químicos)?

«Porque correm maior risco de alergias, para além de que há uma certa imaturidade do queratinócito da criança que não faz a reação química necessária à atuação total do produto, podendo perder eficácia», esclarece Manuela Cochito, dermatologista.

Qual a diferença entre os protetores solares à venda no supermercado, na farmácia e na perfumaria?

«Em termos de UVB, podem ser todos 50+. A diferença poderá estar em termos de UVA, bem como no tipo de filtro solar. Os protetores mais baratos provavelmente contêm filtros solares mais antigos e uma proteção UVA baixa, uma vez que esta é muito cara. As marcas especialistas em filtros solares, à venda em farmácia, têm acesso às moléculas mais sofisticadas. As de perfumaria trabalham mais na cosmeticidade e na apresentação do produto», refere Manuela Cochito.

Vale a pena comprar um produto de rosto e outro de corpo?

«Só se justifica utilizar um produto específico para o rosto quando a pele é oleosa e precisa de uma fórmula oil free, quando foi sujeita a uma intervenção cirúrgica, a um laser ou a um peeling ou quando necessita de um fator de proteção superior ao do corpo», responde Manuela Cochito.

À medida que vou ficando bronzeada diminuo o fator de proteção. Faço bem ?

«Não. A pele bronzeia-se para se defender dos raios ultravioleta e, portanto, o bronzeado é uma manifestação de agressão solar à pele. Se os protetores solares fossem totalmente eficazes a pele não bronzearia e isso seria o ideal, pois o acumular dessas lesões subagudas levam a outro tipo de lesões cutâneas graves», esclarece o dermatologista Miguel Trincheiras.

«Ainda que a pele vá adquirindo uma defesa própria que é a melanina, a agressão continua sempre a dar-se pelo se deve manter sempre o mesmo índice de proteção adequado a cada tipo de pele, 30 para as peles mais escuras e 50 nas mais claras», acrescenta ainda o especialista.

Veja na página seguinte: A quantidade de produto de proteção solar a usar em cada aplicação

Qual a quantidade de produto de proteção solar que devo usar em cada aplicação?

«A aplicação deve ser generosa e em várias demãos. Isso permite que o FPS real, a quantidade aplicada, se aproxime do FPS indicado na embalagem», refere Leonor Girão.

O meu creme de dia tem proteção solar. Posso usá-lo na praia?

«Pode. No entanto, os cremes de dia com proteção solar nunca têm índices muito elevados e na praia aconselha-se um filtro solar igual ou superior a 30», diz Manuela Cochito.

É importante proteger os lábios do sol?

«É extremamente importante proteger os lábios do sol. A vermelhão labial não tem células pigmentares, não bronzeia, como tal está muito mais exposto às agressões solares. O lábio inferior, por estar mais exposto à radiação UV, é o que sistematicamente, a médio/longo prazo, desenvolve lesões malignas», alerta Miguel Trincheiras.

Posso aplicar creme protetor solar nos lábios?

«Deve usar uma fórmula específica com maior adesividade à mucosa, geralmente apresentada sob a forma de stick. O FPS aconselhado é sempre o máximo, 50+. Deve ser aplicado de hora a hora e depois de comer, beber e de sair da água», refere o dermatologista.

As fórmulas em loção, em óleo ou em stick são tão eficazes como as fórmulas em creme?

«São. Os protetores solares incluem moléculas que são o filtro solar em si e depois têm toda uma envolvente, o chamado excipiente, que pode ser em creme, em gel, em óleo, que não tem nenhuma ação protetora e serve apenas para tornar a aplicação cosmeticamente mais agradável», justifica Manuela Cochito.

Os protetores solares resistentes à água resistem, de facto, à água?

«Não existem protetores solares que resistam a mais de 10 minutos de imersão. Mais vale usar um filtro solar em que confia e renovar a aplicação ao sair da água», afirma Manuela Cochito.

Vale a pena comprar um protetor solar para o cabelo?

«No caso de cabelos pintados e compridos a proteção solar capilar pode ajudar a preservar a estrutura do cabelo evitando que fique danificada pelo sol», responde Leonor Girão.

O pó compacto com FPS dispensa a aplicação do protetor solar?

«Existem compactos de praia com FPS 50+ cuja proteção é a mesma de um creme. Devem ser reaplicados a cada duas horas e após o banho», aconselha Manuela Cochito.

Veja na página seguinte: Os termos que tem (mesmo) de saber

Dicionário solar:

- UVA

São os grandes responsáveis pelo envelhecimento da pele e pelo cancro cutâneo.

- UVB

São estes raios que provocam o vermelho da pele, o escaldão.

- FPS

Fator de proteção solar UVB. vem representado na embalagem por um número (6, 10, 15, 25, 30, 50 ou 50+).

- Filtros quimícos

São os mais comuns. Absorvem a radiação UV, transformando-a em calor.

- Filtros físicos (minerais)

Protegem a pele dos raios UV refletindo a luz solar.

- Fototipo

A pele é classificada em quatro tipos (fototipos) diferentes de acordo com a cor e a sua capacidade de se defender do sol.

Texto: Vanda Oliveira com Leonor Girão (médica dermatologista e membro da direção da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo), Manuela Cochito (médica dermatologista) e Miguel Trincheiras (médico dermatologista)