Quando o sol se começa a fazer sentir, a vitamina C salta para a ribalta. A pele precisa dela para retardar o envelhecimento, mas esta vitamina soma outros benefícios.

Quando aplicamos um creme, a nossa pele não reconhece o valor ou a raridade dos ingredientes nele incluídos. Só reconhece a eficácia dos compostos.

E nunca é de mais dizer que, quando se trata dos cuidados com a pele, não há um ingrediente mágico. No entanto, se olharmos para as campanhas publicitárias dos cosméticos nas últimas duas décadas, a vitamina C é quase omnipresente. Ao mesmo tempo, representa um filão que a indústria da cosmética ainda está a explorar.

«O grande perfil da aplicabilidade da vitamina C, também conhecida por ácido ascórbico, é muito interessante», refere a dermatologista Vera Monteiro Torres. «É sobretudo um antioxidante muito útil em situações de grande formação de radicais livres, como é o caso da exposição solar e do tabagismo», sublinha mesmo esta especialista.

Jean Krutmann, professor de dermatologia e diretor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Dusseldorf que estuda os danos que os fatores ambientais causam na pele, confirma que «a vitamina C tem a capacidade de proteger ou atenuar os efeitos negativos dos raios UVB, UVA e também os raios infravermelhos». Daí que inclusão da vitamina C seja cada vez mais frequente nas fórmulas de protetores solares, bem como nos chamados produtos aprés-soleil.

Mas os benefícios desta vitamina não ficam por aqui. Para além da sua ação antioxidante, a vitamina com a letra C tem ainda uma acção anti-inflamatória e aclaradora nas manchas escuras da pele (melasma) e também se mostra eficaz no tratamento de estrias.

C de citrinos

O ser humano precisa desta vitamina mas não a consegue produzir. Entram assim em cena os citrinos e outros alimentos ricos em vitamina C, além dos suplementos alimentares. «Ingerir sim, só faz é bem à saúde. Mas convém lembrar que a vitamina C que ingerimos não chega à pele porque os mecanismos de regulação de absorção da vitamina C nos intestinos não permitem que tenha efeito sobre a epiderme», alerta a dermatologista Vera Monteiro Torres.

Além disso, por ser uma vitamina muito instável (que reage ao calor, ao ambiente e à luz), só o simples ato de cortar uma laranja já faz com que se perca alguma percentagem desta vitamina. «O maior problema da vitamina C é que oxida muito depressa. Por isso, teve de se encontrar uma forma de prevenir/retardar a oxidação. Até porque, se ela oxidar antes de entrar nas células da pele, o efeito pode ser adverso», diz Jean Krutmann.

Este antioxidante é indicado para todas as idades e todos os tipos de pele, «mas atenção que às vezes também pode ser irritante», alerta a dermatologista. «Tenho tido casos no consultório de peles mais sensíveis que não aguentam cosméticos com vitamina C, como doentes com a pele reativa, com rosácea ou com eczema atópico», exemplifica. Um último alerta fica para quem faz voos de longo curso, durante os quais a pele seca bastante. Ao colocar um produto tópico com vitamina C, a pele pode arder e ficar irritada.

Vitamina estabilizada

Os maiores passos para potenciar a penetração da vitamina C na pele foram dados pelo dermatologista e investigador Sheldon Pinnel, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos da América. Foi o pioneiro na estabilização da vitamina C (que garante a ação do produto) e conseguiu associá-la a outros antioxidantes.

Sheldon Pinnel criou a sua própria marca de dermocosméticos, a SkinCeuticals. Fundada em 1997, chegou a Portugal no final de 2011 e aposta na prevenção, na proteção (para uma pele saudável) e na correção (dos sinais visíveis de danos ou envelhecimento) com um ingrediente-chave. A vitamina C, claro.

Para a sua utilização em cosmética ser eficaz, o truque é «arranjar uma boa combinação entre a vitamina C e os restantes ingredientes para potenciar as suas ações», explica o especialista, que exemplifica, avançando uma solução prática. Uma das melhores combinações é a que reúne a vitamina C com a E e o ácido ferúlico.

Nesta sinergia, crê Jean Krutmann, está o futuro. «Assim pode diminuir-se a concentração da vitamina C nos produtos cosméticos e fazer com que eles sejam mais bem tolerados pela pele, para além de baixar os custos de produção dos cosméticos e torná-los mais baratos para os consumidores», refere o especialista.

Relativamente à quantidade de vitamina C colocada nos cosméticos, «a concentração ideal para conseguir os seus efeitos ronda entre os 5% e os 10%, embora existam também no mercado produtos com concentrações de 20% cujos resultados são excelentes», explica a cosmetologista e formadora da Mesoestetic Pharma Group, Andréa Hollaender. De resto, adianta que «a aplicação tópica da vitamina C possibilita atingir uma concentração cutânea que não é possível observar na dieta diária ou na suplementação oral».

Trabalho de grupo

Com este historial, percebe-se porque é que a indústria cosmética venera a vitamina C. Mas será ela o antioxidante mais poderoso que se conhece? Vera Monteiro Torres diz que identificar o mais forte é muito difícil. «A vitamina C é um óptimo antioxidante, mas é um grande facilitismo dizer que é o mais forte», ressalva a especialista, defendendo sim o conceito de rede, uma network dos antioxidantes.

É que, ao contrário do que se pensava inicialmente, os antioxidantes não atuam de forma independente. «Os antioxidantes potenciam-se uns aos outros. Funcionam em rede e são sinérgicos. Uns acordam os outros», diz a dermatologista. Daí que considere a vitamina C um dos melhores componentes nessa rede de antioxidantes e que a sua simples inclusão num cosmético aumenta imediatamente a libertação de vitamina E, outro potente antioxidante.

Apesar do seu potencial, a ação da vitamina C na pele continua a ser motivo de debate entre a comunidade científica. «Neste momento, o estudo do [seu] potencial para aumentar a síntese do colagénio e a produção de elastina é um filão que está a ser estudado e sobre o qual ainda não há conclusões», remata Vera Monteiro Torres.

Poder rejuvenescedor reconhecido

A vitamina C (ácido L-ascórbico) é uma substância hidrossolúvel, encontrada em abundância em vegetais verdes e frutas frescas, extremamente importante para fortalecer o sistema imunológico e prevenir infeções causadas por vírus e bactérias. Quando aplicada na pele tem uma ação antioxidante (antienvelhecimento), protetora e aclaradora.

Antioxidante é o termo que se dá a uma categoria de substâncias, entre elas vitaminas, sais minerais e pigmentos, que combatem a oxidação, agindo como um protetor celular contra os efeitos danosos dos radicais livres, como as rugas e a flacidez da pele.

Antes de escolher um cosmético com vitamina C

A esteticista e o cosmetologista Andréa Hollander diz-lheo que deve ter em atenção:

- Vitamina C pura ou derivado?
O melhor ativo é o próprio ácido ascórbico (a vitamina C propriamente dita) mas é essencial que o produto tenha a garantia de que a vitamina C é estável para não provocar irritações na pele.

- Concentração
Para conseguir os seus efeitos, deve situar-se entre 5% e 10% mas existem produtos no mercado com 20% que têm tido bons resultados.

- Associação de princípios ativos
Quando associada a outros antioxidantes, por exemplo vitaminas A e E, silício orgânico, DMAE, a vitamina C tem benefícios acrescidos.

- Embalagem
Certifique-se que não há possibilidade de contaminação (manuseio do produto), nem contato com o ar.

- Validade pós-abertura
Cumpra as indicações do fabricante (modo de utilização, temperatura para conservação e prazos de validade).

Texto: Maria Antónia Ascensão com Andréa Hollaender (esteticista e cosmetologista), Jean Krutmann (professor de dermatologia e diretor do departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Dusseldorf) e Vera Monteiro Torres (dermatologista).