Os especialistas lidam frequentemente com um grande número de falsos mitos expostos pelos seus pacientes quando chegam à consulta. Poucas questões dão tanta origem a mitos ou lendas urbanas como os tratamentos estéticos e a cirurgia plástica, sobretudo quando se tomam as celebridades como referência. No que lhes diz respeito, e quando se tenta perceber se recorreram à ajuda do bisturi, costumam ocorrer duas circunstâncias extremas.

Desde aquele que faz de tudo mas que nunca o reconhece e atribui o seu bom aspecto a gestos tão simples como beber muita água, fazer yoga ou dormir nove horas por dia, até àqueles a quem se atribuem todo o tipo de retoques e intervenções (muitos deles impossíveis) quando, na realidade, não fizeram sequer metade. Saiba, por isso, aquilo que realmente pode esperar da cirurgia plástica.

A verdade é que há uma tendência tal para mitificar tudo o que diz respeito ao mundo dos tratamentos e intervenções estéticas que se torna necessário, de vez em quando, pôr os pés no chão e tomar um banho de realidade. Para o fazer, nada melhor do que perguntar aos especialistas no assunto e compilar as informações referentes às investigações mais recentes, sintetizadas em sete mitos urbanos que não passam disso.

1. Nota-se sempre quando alguém faz um lifting

Há quem assegure que sim mas a realidade, afinal, é diferente. «Para a generalidade das pessoas não. Para quem é profissional ou até para um cabeleireiro, sim, porque notará as cicatrizes que estão escondidas no cabelo. Não há cirurgia sem cicatrizes. O que acontece é que estão habitualmente localizadas em locais dissimulados», adverte José Amarante.

«Há três pistas que podem indicar se alguém fez um lifting», esclarece o especialista. «Se a expressão do rosto for semelhante à de uma máscara, se a linha do nascimento do cabelo estiver deslocada para trás e se o lóbulo da orelha apontar para a nuca», explica o cirurgião plástico.

2. Costelas flutuantes e abdominoplastia no parto

Há intervenções frequentemente atribuídas a famosas que, apesar de serem raras, foram popularizadas pelo boca a boca. É o caso da eliminação das costelas flutuantes para afinar a cintura. Esta intervenção consiste em eliminar a 11ª e a 12ª costela (que não estão ligadas ao externo) para estreitar a cintura e melhorar o contorno corporal. E, de facto, não é uma intervenção impossível, garante José Amarante.

Entrevistado pela revista Ultimate Beauty enquanto diretor do Serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva Estética e Maxilo-Facial do Hospital de São João, no Porto, diz que esta intervenção, que consiste na exerese de costelas, «é possível». Outra das operações míticas que a sabedoria popular se encarregou de explicar como sendo um fenómeno partilhado por muitas mulheres, que consiste em exibir uma silhueta espetacular depois da maternidade é a abdominoplastia no momento em que dão à luz.

«É uma cirurgia possível, embora não aconselhável, uma vez que o corpo da mãe ainda não deixou de sofrer as influências hormonais e, provavelmente, ainda vão ocorrer grandes modificações», explica ainda o cirurgião.

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3. Se der de mamar, terei de retocar o peito depois

A amamentação não está relacionada com o descaimento do peito, tal como confirma uma investigação da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos da América (EUA), na qual se analisaram 93 mulheres. Metade tinha dado de mamar durante nove meses no mínimo e a outra metade não.

Mas não se observaram diferenças significativas no grau de descaimento nem na posição dos mamilos de umas e de outras. Segundo José Amarante, «normalmente, no final da primeira gravidez, a recuperação é boa», pelo que uma intervenção deste tipo é desnecessária, defende o especialista.

4. Às voltas com as próteses

Sem dúvida, a melhor e mais conhecida piada em torno das próteses de silicone é a da possibilidade de poderem rebentar nos aviões. É completamente falsa. Imagine-se os milhões de mulheres com implantes de silicone que não poderiam voar! «As próteses modernas são preenchidas com gel de silicone coesivo e, caso a prótese rebente, o que acontece apenas com uma picada de um objecto cortante, o gel coesivo mantém-se no local», esclarece José Amarante.

Outro dos mitos é o de que o aumento de peito pode solucionar outros problemas estéticos desta parte da anatomia, como levantar ou dar firmeza a um peito descaído. Tal como explica José Amarante, isto só é possível «se for um seio pequeno e pouco ptosado (descaído). Se for grande e muito ptosado, é necessário uma mastopexia com ou sem prótese», sublinha o médico.

E um último erro é o de que as próteses da mama aumentam o risco de cancro. Inúmeras investigações constataram que os implantes de silicone são seguros e, por isso, são os mais utilizados em mulheres que têm de realizar uma reconstrução mamária depois de removerem o peito. «Há estudos retrospectivos de longa duração, da clínica Mayo nos EUA, por exemplo, que evidenciam a sua não associação», assegura o especialista.

5. Com a lipoaspiração emagrece e não volta a engordar

É um erro. Com a lipoaspiração consegue-se remover o excesso de gordura. Mas o que é certo é que sem os cuidados devidos depois da intervenção (exercício, dieta e por aí fora...) podem ocorrer de novo acumulações de gordura e, claro, recuperar o peso perdido. «Se continuar a comer bem continuará a engordar, embora proporcionalmente menos», avisa o especialista.

«A única forma de não engordar é fazer o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida ou seguir com rigor as indicações do endocrinologista e do nutricionista», aconselha José Amarante.

6. É necessário partir o septo nasal para fazer uma rinoplastia

Em pacientes que querem apenas corrigir um desvio, não é necessário cortar nem partir o septo nasal. Mas, para realizar uma intervenção reconstrutiva que implique mudar a forma, é necessário fazer incisões internas nos ossos nasais e movê-los. Nestes casos, e apesar de poder dar lugar a edemas ou hematomas debaixo dos olhos, a alteração costuma ser espetacular e os pacientes sentem-se mais recompensados.

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7. O dia seguinte é sempre muito complicado

Para que não existam motivos de deceção a seguir à intervenção, é importante questionar o cirurgião antes de se operar. Por exemplo, acerca das cicatrizes. O especialista deve informar o paciente das características da cicatriz, inevitável depois de uma cirurgia, já que implica sempre uma incisão, apesar desta ser sempre realizada em zonas estratégicas para ficar dissimulada ao máximo. Outro erro é acreditar que, passados uns meses, a cicatriz desaparece.

Há que explicar aos pacientes que é permanente. Também há quem acredite que, se apanhar muito sol, o aspeto da cicatriz melhora. E o que acontece é exactamente o contrário, uma das recomendações comuns é não se expor ao sol durante um tempo mais ou menos prolongado, dependendo da operação em questão. Também não é verdade que as cirurgias com laser não deixem cicatrizes. O laser cirúrgico corta exactamente da mesma forma que um bisturi e, portanto, também há cicatriz.

Texto: Madalena Alçada Baptista