A mama tuberosa é uma malformação no peito que atinge um grande número de mulheres um pouco por todo o mundo. «É uma patologia congénita rara que se torna notória na puberdade e que apresenta como principais deformidades a constrição do pólo inferior ou base mamária, pouco tecido mamário e herniação do tecido mamário em direção do complexo aréolo-mamilar», esclarece o cirurgião plástico Hélder Silvestre.

Essa malformação provoca «um aumento do diâmetro da aréola e, muitas vezes, o seu posicionamento abaixo do sulco infra-mamário», acrescenta ainda o especialista. O principal fator de risco é a existência na família de mulheres com a mesma patologia. Esta malformação produz uma alteração durante o período de desenvolvimento da mama. O tecido que cobre a glândula mamária apresenta uma rigidez excessiva e não se expande com o crescimento progressivo do conjunto.

Assim, a glândula, à medida que cresce e fica presa na pele que não se expande, tem tendência a projectar-se por uma via menos resistente, que é a pele fina dos mamilos. Se sofre desta malformação, um diagnóstico correto, um planeamento adequado e uma equipa cirúrgica habituada a corrigir este tipo de alterações podem conseguir resultados excelentes.

«Independentemente da gravidade de cada caso, o tratamento cirúrgico consiste na colocação de um implante anatómico, incisões radiais ou circunferenciais, sobretudo no pólo inferior da mama, e redução do diâmetro da aréola», defende Hélder Silvestre. Veja a galeria de imagens que mostra o antes e depois de mulheres que sofriam de mama tuberosa e procederam a tratamentos cirúrgicos.

A importância de um bom diagnóstico

É muito importante que esta intervenção seja realizada por um cirurgião plástico qualificado e com experiência neste tipo de deformidades, pois requer a aplicação de técnicas variadas e muito diferentes das habitualmente utilizadas para um aumento mamário comum. Se a intervenção for praticada como se tratasse de uma mama hipoplástica (peito pequeno) com um simples aumento só se conseguirá aumentar a deformidade.

O tratamento da mama tuberosa inclui, em muitas ocasiões, a modificação prévia da glândula, eliminando o tecido aureolar excedente e colocando uns implantes mamários, através de uma única incisão (corte) ao redor das aréolas. Se a aréola tiver um tamanho excessivo, também poderá ser corrigida com a mesma incisão.

A quem é aconselhada a cirurgia

As candidatas ideais são mulheres saudáveis, emocionalmente estáveis e que compreendem os resultados que se podem obter com a cirurgia. «Embora não muito frequente, esta deformidade é altamente mutilante pois provoca alterações graves na forma e volume mamários», defende Hélder Silvestre, que já tratou dezenas de casos.

«Todas as mulheres que sofrem desta patologia devem ser tratadas», defende o cirurgião plástico. Logo na primeira consulta, o especialista informa a paciente sobre as opções cirúrgicas existentes. Uma oportunidade que muitas mulheres aproveitam para fazer as perguntas que lhes suscitam mais interrogações.

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As características das mamas tuberosas

As mamas tuberosas podem ser grandes ou pequenas ainda que, em ambos os casos, apresentem uma série de características específicas. Este tipo de mama é uma mama mais comprida (descaída) do que o normal, com uma forma tubular. É também uma mama de base muito estreita. A aréola da mama tuberosa tem um grande tamanho. Contém um chamado anel de constrição na base que impede o seu desenvolvimento.

A assimetria está presente em dois terços dos casos. «A anomalia pode ser unilateral ou bilateral, com graus diferentes da doença em cada mama», defende Hélder Silvestre. «O sulco inframamário está muito acima do sulco de uma mama normal, sendo fundamental restaurar uma distância correta entre o mamilo e o sulco inframamário para se obter um bom resultado estético», explica ainda o cirurgião plástico.

O que acontece na consulta com o especialista

O cirurgião plástico Hélder Silvestre explica que, durante a primeira consulta, é avaliado o tamanho e a forma das mamas, a elasticidade da pele e o estado geral da saúde da paciente. O especialista irá explorar as suas mamas e, em alguns casos, deve solicitar-lhe um estudo mamográfico mais completo. Explicar-lhe-á técnicas cirúrgicas distintas e informá-la-à sobre o tamanho e a forma como ficarão as suas mamas.

O resultado final pode divergir em função das opções e da combinação de procedimentos, assim como a necessidade ou não de colocar uma prótese, devidamente adaptada ao seu caso. Também lhe será indicada a anestesia a ser utilizada, a necessidade de ficar ou não internada na clínica onde se realizará a cirurgia e quais os custos da intervenção.

«A doente que procura ajuda está, habitualmente, na segunda ou terceira década de vida e ainda não foi mãe mas, na maioria dos casos, a doente poderá amamentar posteriormente», indica Hélder Silvestre. «Como em qualquer outra cirurgia, a doente deve ter abster-se de hábitos que possam prejudicar a recuperação cirúrgica (fumar, por exemplo)», recomenda o cirurgião plástico.

Depois de informar o cirurgião plástico dos seus hábitos regulares, não deixe de colocar qualquer questão que tenha, sobretudo relacionada com as suas expetativas e resultados. Um erro que, muitas vezes, por desconhecimento, por vergonha ou por falta de confiança, muitas mulheres acabam por cometer.

A cirurgia passo a passo

A correção cirúrgica das mamas tuberosas realiza-se sempre num bloco operatório. «A cirurgia é habitualmente efetuada sob anestesia local e sedação e a paciente não precisa de pernoitar na clínica», defende Hélder Silvestre. A correção da mama tuberosa exige a realização de uma remodelação glandular durante a cirurgia.

As suturas são feitas em redor da aréola na maioria dos casos. Na maioria dos casos, esta deformidade é acompanhada de falta de desenvolvimento da glândula e é, normalmente, necessário colocar uma prótese sob o tecido mamário ou músculo peitoral para preencher, dar volume e melhorar a forma.

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Como se sentirá após a cirurgia

É normal que fique cansada durante uns dias, mas poderá voltar a fazer a sua vida normal 30 a 45 dias depois da intervenção. A maioria dos incómodos são controlados com a medicação prescrita, ainda que possa sentir alguns durante as primeiras semanas. «Como em qualquer cirurgia, a paciente terá de fazer gelo, antibioterapia e analgésicos», defende o cirurgião plástico Hélder Silvestre.

O curativo é retirado no dia seguinte à cirurgia e substituído por um sutiã especial que deverá ser usado durante um mês. Depois da cirurgia, é normal que sofra uma diminuição da sensibilidade nos mamilos e um entorpecimento da pele, alteração essa que é, geralmente, temporária. Retirar-lhe-ão os pontos entre os 7 e os 14 dias posteriores à cirurgia.

O inchaço não cede completamente antes das cinco semanas, período após o qual as mamas se tornam menos rígidas à palpação e começam a tomar a forma definitiva. Depois da cirurgia, poderá voltar ao trabalho em poucos dias, dependendo da atividade profissional que exerça. No período pós-operatório, as suas mamas estarão mais sensíveis durante esse período, pelo que se desaconselha a realização de exercício físico.

«Só se aconselha exercício físico que mobilize os braços, cerca de 45 dias depois. Trabalhos não braçais podem ser realizados após uma a duas semanas», esclarece Hélder Silvestre. «As cicatrizes são periaureolares, ficando quase impercetíveis», adianta o especialista. Deverá realizar exames regulares (como por exemplo, a mamografia) ajustados à sua idade.

Possíveis complicações

A intervenção deixa cicatrizes permanentes e visíveis, ainda que variem segundo a cicatrização da paciente e o grau de deformidade prévio. Os problemas de cicatrização são mais frequentes em fumadoras, ainda que dependam da forma de cicatrização de cada paciente e vão diminuindo com o tempo. Algumas mulheres podem experimentar uma diminuição parcial da sensibilidade do mamilo.

No entanto, conforme indica Hélder Silvestre, «na maioria dos casos, se mantenha a sensibilidade e a capacidade de amamentação». «A principal complicação seria uma correção insatisfatória, levando à necessidade de nova cirurgia», acrescenta o cirurgião plástico.

Porque, por vezes, o resultado não é satisfatório?

Um dos principais fatores que faz com que o resultado não seja o esperado tem a ver com o diagnóstico incorreto do problema, daí a importância desta cirurgia ser realizada por cirurgiões plásticos bem treinados no diagnóstico de todos os problemas da mama e com experiência suficiente para realizar, com êxito, a remodelação mamária exigida neste tipo de casos.

«O tratamento cirúrgico é exigente, devendo ser efetuado por um cirurgião plástico com experiência em cirurgia mamária», adianta o cirurgião plástico. A consequência mais frequente do incorreto tratamento de uma mama tuberosa é o aparecimento do chamado duplo sulco, que se produz quando se coloca um implante sem se realizar a remodelação da glândula.

«O duplo sulco significa que a mama tuberosa não conseguiu ser completamente debelada, necessitando, porventura, de nova intervenção cirúrgica», defende ainda Hélder Silvestre. Em Portugal, apesar de não existirem registos oficiais, são muitas as mulheres que sofrem de mama tuberosa.

Texto: Cláudia Pinto com Hélder Silvestre (cirurgião plástico)