Retratos Contados: Este ano (2015) nasceu a sua 1ª neta, a Matilde. Descreva-nos o que sentiu quando soube que a sua filha Inês estava grávida.

Yolanda Lobo: Soube que a minha filha estava grávida quando a vi chegar a minha casa para jantar. Os olhos tinham um brilho especial, o sorriso estava ainda mais doce… Senti e adivinhei mais esta etapa como todas as outras ao longo da sua vida. Os amores, as aflições, os desgostos, as alegrias… Mas calei-me com medo de me precipitar e porque queria que fosse ela a dar-me a notícia. Passado um pouco colocam-me uma caixinha linda ao colo e lá dentro um par de botinhas brancas… Desatei num pranto de emoção, alegria, amor, incredulidade e muita, mas muita felicidade. Fiquei orgulhosa e feliz por saber que a minha filha Inês iria, também, passar por aquele maravilhoso milagre do parto, pela doçura da maternidade, pelo prazer infinito de ter o seu bebé no colo, beijar os seus pezinhos, vê-lo dormir, cheirá-lo, vê-lo sorrir só para ela…

Fiquei imensamente grata por este momento da minha vida.

RC: Como viveu o tempo de gravidez da Inês? Viveu este tempo de forma serena ou com alguma ansiedade?

Yolanda Lobo: Serena, muito serena. A Inês é muito calma, muito sensata e cuidadosa com tudo. Por isso fui-lhe dando o apoio necessário mas mantendo-me, como sempre, um passinho atrás, para que os dois tivessem a sua privacidade e o prazer de gozarem cada momento a sós. O tempo de gravidez foi passado num ápice! Em menos de nada estava no fim, para minha total aflição pois mal tinha tido tempo de conciliar a minha vida profissional com os preparativos que queria ter feito com toda a serenidade. A decoração do quarto, do berço, as primeiras roupas e agasalhos. Já tinha separado todas as roupinhas da Inês que agora ficaram para a Matilde mas faltava-me os detalhes do quartinho que só agora acabei. As cortinas, o dossel, o fraldário, a cor das paredes, a barra de papel com ursinhos, o cadeirão para amamentar, tudo pensado ao pormenor.

RC: É daquelas avós que faz botinhas e casaquinhos de lã?

Yolanda Lobo: Se sou! Já fiz gorros, botinhas, mantas e estou a fazer agora um macacão com o casaquinho. Adoro e enche-me de paz. Tenho um berço em minha casa só para ela, com todos os pormenores também. Em verga, antigo, em cinzento clarinho, da Formiga Vintage. Um amor!

RC: Viaja imenso em trabalho. Conseguiu resistir às montras das lojas de artigos de bebé por onde foi passando?

Yolanda Lobo: Qual quê! Enche-me de prazer comprar para os meus filhos. Sempre assim foi. E quando passo e vejo alguma coisa útil e bonita é difícil resistir. Não comprei demasiado pois as roupinhas da Inês estavam em muito bom estado, mas juntei alguns mimos especiais.

RC: A sua profissão obriga-a não só a viajar como a ter que se ausentar por períodos de tempo. Com o nascimento da sua neta, essas ausências vão começar a ser mais difíceis de se realizarem?

Yolanda Lobo: Cheguei a uma etapa da minha vida em que repenso, cada vez mais, as minhas prioridades e objetivos. Em Setembro de 2016 faço 60 anos e trabalho desde os 20 anos num ritmo sempre alucinante. Tenho tido a sorte de preencher lugares fora do comum. Uma vida cheia e boa. Agora falta-me o maior luxo de todos: Ter tempo! Tempo para mim, para um almoço com uma amiga, para gozar a natureza, para escrever, cozinhar, jardinar… tempo para gozar os últimos anos de vida útil com qualidade, alegria e muito amor. Por isso vou tentar abrandar e viver num ritmo menos acelerado. Impossível deixar de trabalhar porque tenho um espírito criativo e empreendedor. Mas preciso gerir melhor o meu tempo. E a Matilde, sim, veio acentuar ainda mais essa necessidade.

RC: Descreva-nos a emoção que sentiu na primeira vez que viu a Matilde.

Yolanda Lobo: Emocionei-me tanto, mas tanto! Não apenas pela Matilde, mas sobretudo pela minha filha. Senti o dobro do amor por ela, um imenso orgulho, uma paixão por aquele ser a quem eu tinha dado à luz e que agora era mãe também. Abraçámo-nos a chorar durante longos minutos. Um choro de alma, de pele, de cumplicidade, de paixão. E só depois, acreditem, só depois desse abraço, olhei para a minha neta. E as lágrimas voltaram a cair, desta vez muito tranquilas, muito emotivas também, mas serenas. Estava ali a filha da minha filha e do meu genro querido. A minha neta. Uma responsabilidade nova para eles e para mim, enquanto avó. A responsabilidade de lhe deixar um legado de amor e memórias extraordinárias como a minha mãe deixou.

RC: Como tem sido a experiência destas primeiras semanas no papel de avó?

Yolanda Lobo: Tem sido uma correria boa para terminar o quartinho que fiz com imenso amor e dedicação e que agora vejo concluído e cheio de detalhe. Como criativa adoro o facto de os pais me terem confiado essa tarefa. Como avó, sinto que foi tudo pensado em função do conforto dela e da procura de um ambiente muito acolhedor e cheio de paz. Tem sido muito bom assistir ao crescimento dos dois enquanto pais, à maturidade e bom senso com que ouvem os seus instintos. De vez em quando lá vou eu para estar presente no banhinho, ajudar no que é preciso, ficar com a Matilde para que possam jantar fora numa ocasião especial. É o reviver de tudo de uma forma diferente. Amachuco-a com beijos e abraços, emociono-me ao ver como a minha filha é querida e cuidadosa com ela, como me mostra que quer estar com a Matilde da mesma maneira como estive consigo. Trocamos mensagens e fotografias o tempo todo, a Inês partilha comigo os momentos especiais da bebé e por isso vou acompanhando de perto mas sempre com o tal passinho atrás, respeitando o espaço dos 3. Dos quatro, aliás, que o Rocky (um pequeno bulldog francês) também faz parte da família…

RC: Os seus avós contavam-lhe histórias infantis? Que histórias pensa vir a contar à Matilde?

Yolanda Lobo: Não, não me contavam, mas eu vou fazer isso, tal como fiz com os meus filhos. Acho importante estimular-lhes a imaginação e a apetência para a leitura. A Inês e o meu filho António achavam muita graça às minhas histórias cheias de sons e quase sempre reinventadas por mim. Riam-se com os gestos e as caretas que eu fazia para dar mais vida a uma história. Por isso … em receita vencedora não se mexe!

RC: Sempre a conhecemos como uma mulher bastante elegante e com muito bom gosto. Herdou essas características dos seus avós? Vai tentar passar essa educação à Matilde?

Yolanda Lobo: Herdei dos meus avós maternos, dos irmãos da minha mãe e dela também. Habituou-me a uma postura elegante na vida e na imagem, em respeito aos outros. E é isso que vou passar à Matilde. A elegância tem a ver com a nossa atitude e o bom gosto cultiva-se. Aprendi isso com a minha mãe e passei aos meus filhos. Lembro-me que até usei as mesmas advertências “Se fores capaz de estar à mesa num palácio, também vais conseguir estar à mesa numa tasca. Mas o contrário já não…“

A educação está em extinção e é responsabilidade de todos fazermos com que não seja considerada fora de moda, ultrapassada. Por uma questão de bom convívio entre todos, pelo respeito, pelo regresso urgente das boas maneiras no dia-a-dia de cada um, nas escolas, no trabalho, no atendimento em sítios públicos. É urgente que se retomem esses princípios dentro de cada família. E os avós são um papel fundamental na reposição dos valores, da educação, do requinte e das atitudes corretas para com os outros que nos rodeiam e com quem nos cruzamos todo o dia.

RC: Tem muito bom gosto e dedica-se muito à área da decoração. O nascimento da Matilde despertou em si ainda mais o gosto pelas decorações dedicadas ao universo dos mais novos? A partir de agora ganhou uma nova fonte de inspiração?

Yolanda Lobo: E não é que é verdade? Tenho a cabeça cheia de projetos e esquiços! Apercebi-me nos últimos tempos que tem sido frequente a forma como me abordam para voltar a desenhar coleções, voltar à moda. E senti uma enorme falta no mercado de roupa confortável e bonita para as grávidas. Aliando isso à decoração dos quartos dos bebés, à criação de acessórios engraçados e úteis, penso que seria uma abordagem fantástica… Façam-me o desafio que eu agarro!

RC: Foi a Yolanda que decorou o quanto da Matilde? Fale-nos sobre o quarto da Matilde.

Yolanda Lobo: O quarto da Matilde é doce e fresco, sem o cunho habitual de quarto para um bebé. É um quarto para uma menina pequenina, onde imperam os tons de alfazema. Os tecidos são em vários tons e de diversos padrões que se conjugam na perfeição. À cor principal juntei o rosa pastel, o azul claro, o verde água e o cinzento clarinho. O branco une isto tudo, bem como o crú do dossel e do cortinado debruado com uma franja feita com fios de todas estas cores, mas muito, muito suaves. No topo do dossel armei uma coroa de flores nas mesmas tonalidades, que também apliquei nos embrasses dos cortinados.

Mantive o cadeirão e o tapete do quartinho da Inês, um banco do quarto do pai agora forrado de outra maneira, uma mesa de trabalho da Inês como fraldário, forrado e ornamentado como o resto. Cestos para tudo guardarem feitos com o que sobrou dos tecidos. Criei uma barra de papel com diversos ursinhos bebés que, a meio da parede, separa dois tons de alfazema.

Está um docinho…

RC: Se a Matilde quiser seguir as pisadas da avó materna vai incentivá-la a ser modelo? Atriz? Decoradora?

Yolanda Lobo: Vou incentivar a Matilde a ser feliz e a aproveitar tudo o que a vida lhe der. Que siga os seus instintos e que seja muito boa no que fizer. Se por acaso o caminho for por aí, então estarei disponível para a ajudar e a encaminhar. Mas daqui a 20 anos já não deve querer ouvir a Vovó que já nem do próprio nome se deve lembrar… (riso)! Por isso, trate de ser feliz e de viver o presente!

RC: Que outros projetos gostaria de vir a fazer? Que sonhos gostaria de realizar? Qual o seu “projeto de vida”?

Yolanda Lobo: Gostava de ter a oportunidade de abraçar novos desafios, sim. Sou irrequieta e gosto de estar sempre a aprender. Mas onde me sinto segura e útil é na Imagem de Empresas, na Criação de Ambientes e de peças diferentes (mobiliário, roupa, acessórios em pele, cerâmica e vidro, joalharia, interiores). A ausência de rotina apaixona-me, a coordenação de equipas também, a criatividade é o ar que respiro. Não está em causa ter um espaço meu, mas sim coleções minhas nestas vertentes, ou desenhadas e concebidas por mim para outras marcas. Aí sinto-me como peixe na água. Tratar da Imagem de um Hotel, de um restaurante ou de uma loja seria ouro sobre azul. Poderia colocar ao rubro todo o meu lado criativo e inovador, o meu gosto e experiência. Há quase 40 anos que me mexo nessas áreas e tenho evoluído imenso à custa das inúmeras viagens, visitas a feiras, colaboração com empresas diversas. Não gosto de me sentir desaproveitada. Preciso baixar o ritmo, como disse há pouco, mas não baixar os braços.

RC: Os Retratos Contados apresentam-se como um projeto único e diferenciador, uma vez que nos focamos numa área diferente do habitual. O nosso objetivo é falar das ligações entre avós e netos. A importância dos avós na vida dos netos e vice-versa. O que acha deste projeto?

Yolanda Lobo: Acho-o encantador e reforça tudo aquilo que disse sobre o facto de termos que repor, de forma urgente, os valores mais preciosos da família, da educação, das boas maneiras, das boas tradições. E quem melhor para isso do que os avós?

RC: Através da nossa página queremos ainda falar de envelhecimento ativo, do abandono dos idosos, dar a conhecer atividades para serem feitas pelos mais velhos, ou para os mais netos fazerem com os avós… Quando olha para o nosso país, como vê a população mais velha?

Yolanda Lobo: Fui pioneira num projeto chamado “Barrigas de Amor” que teve como objetivo colocar na Agenda do Governo o problema da baixa natalidade em Portugal e do aumento natural da longevidade. O país está dramaticamente envelhecido e sem recursos para manter condignamente os nossos idosos. Foram 5 anos em que esse assunto foi falado e tratado no “Barrigas de Amor”, tomadas medidas adicionais pelo Estado mas depois, infelizmente, retiradas. É preocupante ver como tanta gente envelhece de forma pouco digna, sem o apoio e o carinho dos familiares. Por outro lado, vê-se também um grupo de gente “madura” que se recusa a envelhecer de espírito e se quer manter ativo, cheio de boa energia, alegria de viver e a investir nos seus dias com viagens, passeios, desporto, vida cultural e social. Com este grupo não temos que nos preocupar: são os novos “velhos”, onde também me situo.

Com o outro grupo sim, temos que fazer alguma coisa para que a sua vida não se torne apenas uma fila de espera. Há atividades que podem ser reinventadas, tarefas úteis para todos, integração em grupos de trabalho que façam sentir a utilidade das suas experiências de vida. Quanto mais avançamos na idade, mais experiência temos e esse bem é essencial a todos os outros que vêm atrás. A perda de faculdades pode limitar a aplicação dessa experiência mas não deveria ser um rótulo assumido.

Envelhecer não é fácil. Eu estou a passar por essa experiência em que somos considerados experientes, sim, mas onde os mais novos acabam por nos fazer sentir que é uma experiência “ultrapassada”, desatualizada. A não aproveitar. E é a nossa sabedoria e bom senso que nos leva a observar e deixar fluir a vida de todos os que nos rodeiam, esperando sermos lembrados, amados e desejados. Aprendemos a atuar na altura certa, no momento mais propício, sem nos fazermos sentir.

Por outro lado, há o desgaste físico. A ausência do corpo que conhecíamos e que agora não nos obedece. Surgem as dores constantes, a falta de visão e audição, a memória que nos trai. É humilhante, difícil e doloroso assistir ao desgaste. Mas há outras coisas boas em que devemos apostar. O facto de sabermos separar o “trigo do joio”, de só procurarmos o que nos dá realmente prazer, o de não fazermos mais “fretes” intermináveis ou favores difíceis de engolir. A vida torna-se mais simples e as coisas mesmo simples têm um valor grandioso. Com muito menos somos felizes. Relativizamos tudo, levamos a vida menos a sério. Rimo-nos mais, sofremos menos. Gostamos de quem gosta de nós. A opinião dos outros a nosso respeito já não conta. Estamos libertos! Libertos para amar a dobrar, sorrir a valer e abraçar com muito amor o que a vida nos dá de presente, todos os dias.

Eu sou feliz. Muito feliz. Tenho filhos doces que estão sempre presentes, um genro querido que adoro como meu filho e outros filhos do coração de que gosto e mimo como meus, que me preocupam e me fazem vibrar com o percurso das suas vidas…

Tenho tudo o que preciso e me faz viver com alegria, prazer e amor. Um companheiro de vida magnífico que me completa e estimula a ser melhor, uma casa que adoro e que me envolve em magia todos os dias, os meus bichos, o meu jardim, o meu trabalho e os meus amigos.

Às coisas menos boas que me atormentam dedico um par de horas por dia e resolvo-as rapidinho. Pois que a vida merece ser vivida como uma festa.

O envelhecimento também nos traz a perceção de que a vida é demasiado rápida. Sobretudo, agora, que vejo todas as semanas partir pessoas com quem me cruzei na vida. Que amei, que respeitei e que não estão mais junto a mim…

A vida é mesmo para ser celebrada. E a minha doce Matilde vai ter o melhor de mim!