Rui Maria Pêgo é, aos 25 anos, um homem dos sete ofícios. Divide o tempo dia entre as tardes na rádio Mega Hits, as reportagens para o “The Voice – Kids”, na RTP, o personagem “Ministro da Cultura” no Canal Q e, ainda, ainda o curso superior de História. De humor ácido e mordaz, é um crítico da sociedade portuguesa mas é, acima de tudo, exigente consigo próprio. Diz que o facto de ser filho da estrela televisiva Júlia Pinheiro não lhe abre portas, antes pelo contrário…

É o repórter do programa de talentos da RTP “The Voice – Kids”. Como surgiu este projeto?
Começou por um ‘casting’ que correu de modo original. A meio tinha 17 miúdos em cima de mim e percebi que estava a ser testado. Correu bem e fiquei.

A sua mãe (a apresentadora Júlia Pinheiro) já afirmou que o Rui fez este ‘casting’ sem que os seus pais soubessem, pois está proibido de trabalhar onde eles trabalham…
Pois, mas isso é porque ela gosta sempre de saber tudo… (risos). Mas este casting foi perfeitamente normal. Sempre gostei de grandes formatos, é onde há mais dinheiro e onde podemos fazer coisas mais extraordinárias. Quando fiz o casting não foi bem à revelia deles, porque a minha trabalha na SIC e o meu pai trabalha na rádio RDP.

Sendo essa rádio do grupo da RTP, acaba por estar num ambiente familiar…
Mas Portugal é um ambiente familiar! Se não trabalhar na SIC, na RTP ou na TVI, não há mais. Portugal é mínimo.

Mas existe essa regra de lá em casa?
Existe.

Concorda com ela?
Faz sentido que exista, há sempre o perigo de ser considerado nepotismo. Percebo que para me proteger também seja bom.

Mas também pode prejudicar a sua carreira, ou não?
Claro, sempre. Nunca fui ajudado em nenhuma circunstância. A chegada da minha mãe à SIC coincide com menos trabalho meu. O “Curto Circuito” estava a acabar, por coincidência, mas depois não faria sentido eu ser uma aposta numa estação que a minha mãe dirige. Seria uma coisa absurda e desconfortável, independentemente de ter ou não capacidades para isso. Depois tive de ir procurar a minha sorte noutro sítio e foi isso que fiz.

Seguiu-se então a rádio. Todas as pessoas que estão no meio dizem que têm o “bichinho” da rádio. Era o seu caso?
Por acaso não. Primeiro sempre achei que não tinha uma voz nada de especial. Não esquecer que cresci com uma das melhores vozes portuguesas da rádio – a minha mãe (risos). Não, o meu pai (Rui Pêgo). E crescer com alguém com uma voz daquelas é difícil imaginar ter uma carreira na rádio.

Possui um humor mordaz, que já lhe trouxe alguns dissabores… Chegou a ser processado pela apresentadora Marta Leite Castro por causa da imagem que publicou no Facebook com uma legenda pouco abonatória?
Não, ficou tudo por ali. As pessoas levam-se muito a sério em Portugal. Esse é o nosso grande problema. É tudo muito pequeno e existem muito poucas figuras para trabalhar. O assunto também não era nada de especial, foi uma piada que outros já tinham feito noutros sítios de modo ainda pior. A Marta nunca mais me disse nada, mas também ainda não a encontrei na RTP… É fundamental as pessoas não se levarem a sério e de certeza que a Marta é uma pessoa que sabe brincar com ela própria.

O Rui consegue rir-se de si próprio? Quais são os defeitos que podia satirizar?
Julgo que tenho pouco filtro, embora já vá tendo mais, e sou excessivamente obcecado com o trabalho, embora esteja mais relaxado. Às vezes sou mordaz em excesso e posso ser desnecessariamente chato. Mas penso que passo também a imagem de que sou boa pessoa e um homem bem-disposto.

Tem temas tabus sobre os quais não faz humor?
Não. Só não faço mais humor porque as pessoas se ofendem. Lá está, as pessoas levam-se muito a sério. Na minha opinião, tudo o que produza uma gargalhada relativiza as coisas e alivia a dor. Mas há pessoas que têm outra leitura e escolhem ofender-se. Depois discutem imenso comigo no Facebook e mandam-me mensagens…

Com todos estes afazeres, acaba por viver vários “Rui Maria” ao longo do dia?
É verdade, o que às vezes se torna complicado porque os registos são diferentes em todos os lados. É importante que as pessoas percebam que temos muitas dimensões. Aquilo que estou a tentar fazer com a minha carreira é mostrar que tenho mais do que uma dimensão. E, sobretudo, que a minha dimensão não é ser filho da Júlia Pinheiro.

Mas acompanha o trabalho da sua mãe?
Vejo pontualmente, para ver se gosto do vestido, e depois digo-lhe (risos). É claro que acho que ela tem muita graça e que é extraordinária. Tento ver os programas principais em que ela entra mas temos vidas muito separadas. Ela vai dizendo o que acha e eu também, mas nada de especial. Tenho, por exemplo, a certeza que o meu pai nunca ouviu um programa meu de rádio, até porque deve odiar a música (risos).

Tem duas irmãs, não se sente o menino dos papás?
Sempre fui muito independente.

Mas não vai buscar a marmita à casa da mamã?
Houve uma fase que sim, confesso. Sou péssimo a cozinhar. Ia lá jantar muito e levava roupa para lavar. Agora já estou mais autossuficiente, já tenho uma Bimby e já consigo fazer arroz de atum, que é o meu prato favorito… até porque não sei fazer outro.

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