A Associação SORRIR tem como missão promover e salientar a importância de sorrir para a saúde, não pela ausência de doença, mas enquanto bem-estar físico, mental e emocional.

O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.

Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Conheça a história de Nuno Gama.

O quê é que o faz sorrir?

Nuno Gama: A autenticidade das pessoas, o sorriso das pessoas, a vida, a praia, o sol, o verão, a primeira chuva (a segunda já não), os meus amigos, o meu amor, o meu trabalho, as crianças, os meus cães, a apresentação da coleção na Moda Lisboa, os meus peixes, os meus cavalos-marinhos, o respeito e o carinho que tenho por mim próprio e pelas pessoas que me rodeiam. O sentido de humor espontâneo é uma coisa que me faz sorrir. Os meus amigos sempre que lhes acontece alguma coisa, dizem-me “ainda bem que tu não estavas cá, porque tinhas-te desmanchado a rir e tinha sido pior”.

Aquilo que o faz sorrir é o mesmo que o faz feliz?

Nuno Gama: O que me faz feliz passa por aquilo que me faz sorrir. É uma coisa directamente proporcional. A minha felicidade é composta por um todo global. Já tive momentos altos e baixos, toda a gente tem. Aprendi a valorizar muito mais aquilo que tenho e aquilo que sou. Fazem-me confusão as pessoas que nunca estão satisfeitas com o que têm. Imagine, têm um namorado e já estão a olhar para o outro seguinte; têm um novo modelo de telemóvel e já estão à espera do novo que vai sair daqui a seis meses ou um ano; têm um carro em bom estado, mas já estão a cobiçar o próximo modelo. Eu acho que devemos questionar o quê é que é essencial ao nosso bem-estar e o que é que não contribui para isso. E sabermos viver com as coisas que temos.

O ter, o não ter, o poder vir a ter amanhã, isso é muito aliciante, o poder perder, o poder ganhar a qualquer instante, a vida é uma maravilhosa aventura a ser vivida e ao ser vivida não se pode ter grandes expectativas, saber esperar, saber ouvir, saber compartilhar, porque vejo toda a gente numa ganância com tudo. O medo de perderem aquilo que têm e às vezes não temos nada. Se não soubermos partilhar a nossa riqueza com os outros, ela não nos serve para nada. A vida no fundo resume-se à relação que temos entre nós, quando morremos fica cá tudo, não levamos nada.

As nossas inter-relações são complicadas porque nós os complicamos, somos invejosos, somos mesquinhos, somos maus, não gostamos de ver os outros bem, se vêem alguém com um sorriso, temos de arranjar um rótulo para aplicar ao sorriso dos outros.
Se na nossa rua um vizinho aparece com um grande carro, o pensamento é: “Ah, de certeza que anda metido nalguma coisa esquisita, ah, já deve ter roubado.”

Ou alguém diz: “Olha, consegui um grande emprego” - olha, que bom, que feliz que estou por ti, conseguiste um grande emprego! - Não, as pessoas acham logo que dormiu com o patrão. Isso dá-me vontade de rir, por acaso. Essa forma fácil e gratuita de ser prejudicial ao outro, porque magoa as pessoas e não temos o direito de levantar falsos testemunhos. É grave quando as pessoas dizem as coisas sem pensar um bocadinho.

Qual é que foi a maior adversidade pela qual já passou?

Nuno Gama: Felizmente passei por muitas, não tive uma vida cinzentinha, bonitinha, cor-de-rosa ou azul clara, não sei qual o tom que prefere. Acho que tive a felicidade de ter sido posto à prova inúmeras vezes. Tive uma hérnia discal que me durou um ano e meio, de vez em quando ainda dá sinal e fui operado quatro vezes consecutivas.

Isso aconteceu em que ano?

Nuno Gama:Entre 1996 e 1998, foi muito conturbado. Pensei: “vou voltar a andar, não vou voltar a andar?”. Tive de reorganizar a minha vida toda. Tive muitas dores, muito sofrimento. Depois tive um incêndio no atelier, que foi mais ou menos na mesma altura e esse foi mesmo o momento mais drástico, em que senti que não havia vida à minha volta.

Sentiu que perdeu tudo?

Nuno Gama:Senti que estava completamente sozinho. A imagem que eu posso descrever, é como se tivesse ficado num mundo escuro, sem nada, sem ninguém à minha volta e estava lá em cima num pedestal que era o pouco terreno onde eu tinha os meus pés.

Como é que se ultrapassa isso?

Nuno Gama: Não é muito fácil. É como se de repente tivéssemos um apagão na nossa vida.
Em que é preciso ir buscar os pozinhos todos que estão lá no fundo, escondidos, que nunca foram usados. É a nossa infância, é a nossa família, um abraço amigo, são pequeninas coisas que nos reacendem novamente e que me fizeram pensar: “bora aí arregaçar as mangas, porque eu continuo cá e tudo o que eu fiz posso refazer melhor. Quando se percebe isso, foi como se deixasse de estar tudo apagado para se acenderem as luzinhas todas de uma forma muito bonita, com música, com fadas, com todos os sonhos que vêm ao de cima. A sensação de estar tudo apagado é a sensação quase de morte. A situação inversa é o ligar tudo. É tipo aquela música “e a igreja estava toda iluminada” (risos). As forças voltam, percebemos que tudo tem uma solução na vida, somos muito mais poderosos do que pensamos.

Eu posso refazer sempre tudo! Esses são os momentos que mais nos fortalecem, a viragem do jogo: passar do hemisfério negativo para o positivo.

Só tenho esta vida, não tenho outra, tenho mais é que acreditar, lutar. As pessoas às vezes confundem obstinação com persistência. Estas coisas, temos de aprender a perceber as diferenças e fazer disto uma aprendizagem. Penso que, se perdi uma coisa, tenho direito a uma coisa nova.
Acho que sou uma pessoa extremamente forte, pelo meu carácter e personalidade, pela mãe que tive. A minha mãe também dizia que não podia desistir, porque um Gama nunca desiste, tem de provar o quão nobre é como ser humano, isso é uma coisa que eu ouvi muitas vezes, felizmente.

Que conselhos dá a um empreendedor que tenha perdido o sorriso por qualquer motivo?

Nuno Gama: Eu acho que um empreendedor nunca perde o sorriso, pode desligar um bocadinho, mas a “massa” de um empreendedor é uma “massa especial”. A grande maioria das pessoas prefere não se chatear, não se incomodar e as pessoas que se tornam empreendedores são pessoas que não têm medo de arriscar naquilo em que acreditam. Eu tenho prazer de compartilhar com as outras pessoas a minha teoria que eu tenho em relação à roupa. Se é boa, se é má, não interessa, é a minha. E eu gosto de a compartilhar com os outros, o meu sucesso é chegar com essa mensagem aos meus clientes. Um empreendedor é isto: ter ousadia, coragem, respeito pela sua diferença a ponto de o querer compartilhar com as outras pessoas.

Acho que por muitas dificuldades que tenhamos, acho que há algo dentro que nos empurra. A seguir ao incêndio estive uns anos parado, uma vez fui à Moda Lisboa e saí dali a pensar: “eu pertenço aqui, quero estar aqui, é isto que eu quero fazer, tenho de regressar de qualquer maneira e tenho de trabalhar para isso”. E foi o que fiz. Não havia solução, era maior do que eu.

O quê é que lhe falta fazer?

Nuno Gama:Tanta coisa. (risos) Eu já não tenho aquela busca da medalha de ouro. Neste momento trabalho muito para o meu cliente. A opinião e o bem-estar deles é importante para mim.

Gostava imenso de deixar o legado Nuno Gama de um dia ser uma marca internacional, uma marca reconhecida como portuguesa, que pudesse ajudar a que os portugueses tivessem mais orgulho consigo próprios, apesar das intempéries todas.

A nobreza do nosso povo é gigantesca comparativamente a muitas outras culturas, gostaria de o reafirmar numa sociedade contemporânea e é para isso que trabalho todos os dias.

Entrevista: Mafalda Agante

Mafalda Agante

Associação Sorrir