Se se tivesse de definir numa palavra seria ambicioso, ou talvez perseverante. João Montez tem 25 anos e é considerado uma das novas promessas da apresentação. Este ano cresceu a passos largos na estação de Queluz. A vitória não surgiu por acaso. João precisou de lutar. Foi radialista e estudou representação em Los Angeles. No entanto, quis o destino que se sentisse realizado como apresentador no pequeno ecrã.

Como é que eras em criança?

Era muito tímido. Ainda sou. Em pequenino a minha mãe dizia que eu ‘pintava a manta’. Era um palhaço, dava espetáculo, fazia peças de teatro, era tudo e mais alguma coisa. Era 'one man show'. Lá fora, na escola, creche, o que fosse, era muito calado.Lido muito mal com os erros, sou muito críticoEntão à frente das câmaras assumes uma personagem?

Não. É puxar o meu lado mais palhaço, mas esquecendo que estás a fazer para pessoas que não conheces. É o meu lado. Hoje em dia acho que tenho muito mais para dar do que dou. E é algo por que luto diariamente. Ainda tenho essa parte tímida e muitas vezes funciona muito melhor deixar isso de lado quando a câmara liga. Além disso, lido muito mal com os erros. Sou muito crítico.

Que erros notaste quando apresentaste o programa com a Cristina Ferreira?

Acho que acima de tudo estava com muito medo de errar e retraí-me por isso. Não exteriorizei aquilo que podia ter exteriorizado, aquilo que sou. Também por ter sido o primeiro abordei temas mais sérios, como a transexualidade. Foi um desafio.

Não vim para substituir ninguém, porque a pessoa que ocupa aquele lugar diariamente é insubstituívelAs pessoas consideram-te o futuro ‘Manuel Luís Goucha’. Como é que lidas com isso?

Não vim para substituir ninguém, porque a pessoa que ocupa aquele lugar diariamente é insubstituível. Qualquer cópia é pior do que o original. Mas sendo da pessoa por quem tenho um enorme respeito e admiração era impossível fazer uma cópia, porque iria sempre funcionar da pior forma possível. É uma responsabilidade enorme estar naquele programa diário que é feito por duas pessoas há 13 anos.

E em relação às críticas? Principalmente aquelas que afirmam que conseguiste graças à imagem ou até mesmo a cunhas?

A oportunidade que me foi dada surgiu depois de um longo período em que batalhei, pelo menos falo por mim… tirei um curso [Licenciatura] de Comunicação Social, trabalhei em rádio durante alguns anos, fui para fora [Los Angeles] estudar representação. Estou onde estou graças à minha batalha. Por exemplo, eu não me fico por enviar um currículo por email. Eu vou ao sítio. Se calhar com uma cunha tinha lá chegado mais rápido e não aconteceu.

Cunha? Onde? As pessoas não sabem do que falam, do percurso da pessoaEntão, como surgiu a oportunidade na TVI?

Estava inscrito numa agência ainda a estudar nos EUA, vim cá de férias, fiz um casting para o 'Hora Certa', um programa das madrugadas e o que me disseram foi que o projeto não ia arrancar. Voltei para Los Angeles novamente e depois de um ano, quando já cá estava, eis que recebo uma chamada da minha agência: ‘Lembras-te daquele casting que fizeste há um ano e pouco? Recebemos uma chamada da TVI a dizer que foste o escolhido para fazer este programa’.

Passadas umas horas ligaram-me da TVI para ir prestar provas novamente para ter a certeza se eu e se eles queriam que estivesse à frente do programa. Programas deste formato só tinham sido apresentados por mulheres… agarrei a oportunidade e fui para Budapeste, onde estive seis meses a fazer o programa, sempre cá e lá, cá e lá. Adorei a experiência. Acho que depois daquilo estás preparado para tudo.

Isto tudo para dizer, cunha? Onde? As pessoas não sabem do que falam, do percurso da pessoa.

O que é que aconselhas aos jovens que queiram seguir o mesmo caminho?

Precisam de aperfeiçoar várias coisas ao longo da carreira. Nunca é tudo perfeito. O meu conselho é fazer cursos, realmente perceber se é uma coisa para a qual se está disposto e também se a área gosta deles.

Tive aulas com a Teresa Guilherme, uma senhora com muitos anos de televisão e ela quando tinha alguma coisa a dizer, dizia. No meu caso era que tinha muitos tiques e que era mais bonito ao vivo do que na televisão.

Ver muitos programas, não ver só um canal de televisão. Ver vários formatos. Ver coisas estrangeiras. E acima de tudo serem perseverantes, persistentes, não se conformarem só a enviar um currículo e esperarem. Irem ao sítio, verem e serem vistos e terem a oportunidade de falarem com alguém.

Gosto de ser abordado na rua, porque é o reconhecimento do meu trabalhoNão tens medo da exposição pública que a tua profissão acaba por trazer?

Ainda sou uma amostra e espero continuar a ser por muito tempo. Prezo muito a minha vida íntima e privada e gosto de ser abordado na rua porque é o reconhecimento do meu trabalho. Desde que assim seja, não é fama nem nada disso, é o reconhecimento do trabalho. Quando acontece assim dessa forma é perfeito para mim.

As pessoas metem-se muito contigo?

Sim um pouco… ‘rica quinta’, ‘rico menino’, um pouco por aí (risos).

Alguma situação insólita com uma fã?

Sim, isto é algo que eu nunca achava que ia acontecer. Uma vez estava no cinema acompanhado e a pessoa que veio comigo chegou um pouco atrasada. Uma senhora que estava com a filha apercebeu-se de que se sentou ao meu lado. Depois em vez de estar com atenção ao filme, começou a falar comigo, ‘ah é João’… É caricato por ser no cinema.

O que é que te falta fazer?

Muita coisa. Há um ano só queria estar onde estou agora. Só que agora quero mais, a todos os níveis. Mesmo a nível profissional, tenho os pés bem assentes no chão, não me deslumbro com ‘famas’. Quero-me dar ao luxo de poder ir onde quiser. Por muita coisa que conquiste a nível de carreira espero continuar o mesmo. Quando estiver mais acima quero sempre lembrar-me daquilo que já fui. Sou muito fiel a esses princípios e valores.