Os elementos naturais das paisagens florestais podem servir de mote à criação de jardins diferenciadores. A sétima edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, um dos eventos que anualmente mais visitantes atrai a esta vila minhota com cerca de 2.800 habitantes, em 2011, foi bem exemplo disso. Os jardins apresentados, 12 no seu todo, localizavam-se num parque ribeirinho junto ao Rio Lima, também este merecedor de uma visita cuidada.

No Ano Internacional das Florestas, o tema do Festival foi, obviamente, a floresta, no sentido de reforçar a perceção dos problemas e mais-valias deste setor económico. Assim, o festival de jardins cumpre o objetivo de aliar arte a um conjunto de mensagens inovadoras e simultaneamente provocar a reflexão para além dos lugares comuns. Dos 12 projetos, 11 foram selecionados entre 58 propostas, oriundas de 12 países. O 12º jardim, intitulado Kaos Suspenso, foi o mais votado no ano anterior e permanece dois anos consecutivos, como é regra do festival.

O conjunto nasceu no âmbito da Requalificação Paisagística das Margens do Rio Lima e constitui uma importante referência na região, com vista à preservação do meio ambiente. A Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos venceu, na altura, o Prémio Novo Norte, na categoria Norte Sustentável.

O jardim dos sobreiros

O projeto «Reckless Orchard» de Les Baker, diretor da Reckless Orchard e arquiteto paisagista, representa a Inglaterra. Trata-se de uma homenagem sublime ao montado de sobro, feita por uma equipa inglesa. A paisagem do Alentejo está representada na cor dos elementos, no tanque de água, nas pranchas de cortiça sabiamente amontoada, nas árvores e pegadas do lince. O poema de António Ramos Rosa homenageia as árvores, como só os poetas sabem fazer e parafraseando Jorge Paiva, podemos também afirmar que «os montados são a floresta amazónica da Europa».

A melodia da floresta

A proposta alemã elaborada por Katharina Schütze, arquiteta paisagista e artista, Uwe Müller, jardineiro e artista e Jürgen Stellwag, arquiteto e artista, leva-nos a entrar numa floresta de bambus, densamente plantada. Passeamos entre as canas e ouvimos os sons da floresta. Há troncos que abanam ao vento e à nossa passagem. Há o cheiro da casca verde, jogos de luz e sombra, brisas e movimento com o intuito de sermos levados até à floresta real.

A floresta de infância

Sensibilizar as crianças para o futuro da floresta pode ser o lema desta proposta franco-italiana, realizada pelas arquitetas Elise Le Duc, Laura Feliciani e Silvia Petrini. Cadeirinhas, muitas, entre a vegetação, convidam a descansar e a pensar no futuro deste valioso património natural, tantas vezes abandonado e vulnerável às calamidades de toda a ordem.

É a floresta que esconde a árvore

Este é um projeto francês da autoria de Ludovic Smagghe, arquiteto e cenógrafo, Nicolas Menu, arquiteto paisagista e pelas arquitetas cenógrafas Camille Thomas e Julie Meigneux. Uma floresta feita de camadas, o andar arbóreo com as copas e troncos, o andar arbustivo com os grandes e pequenos arbustos e o andar herbáceo, mais próximo do solo, que o protege da erosão e é o suporte de uma intensa vida animal. É esta simbiose entre os vários estratos da vegetação que possibilita a continuidade da floresta.

Contudo-todavia, no entanto, não obstante

Segundo os seus autores, António Maia e Graça Veiga, professores da Escola Secundária de Ponte de Lima, este jardim assenta na dicotomia as árvores não deixam ver a floresta e a floresta não deixa ver as árvores. Um alerta também para os fogos florestais e para a sobreexploração dos recursos naturais, mas no entanto fica a mensagem, positiva, da enorme capacidade que a floresta tem em se regenerar, tal como o ser humano tem a capacidade de renovação e mudança.

Antropia X Entropia

O seu autor, o arquiteto paisagista brasileiro Ricardo Marinho, assenta a proposta, na enorme capacidade que temos de transformar o mundo que nos rodeia. Será a antropia. Já a entropia estabelece o princípio de que a energia não pode ser criada nem aniquilada e que não há limitações de transformação de uma forma de energia numa outra.

Adquirimos a enorme capacidade de intervir no meio ambiente e na floresta e nem sempre o resultado nos foi favorável. A destruição da floresta amazónica é uma constante e no caso português as espécies autóctones são substituídas por outras, mais indicadas para a indústria, mas que degradam o nosso meio ambiente.

Jardim radiante

Os estudantes Fabian Schicker e Philipp Stöger e o assessor do Institute of Landscape Architecture, University of Natural Resources and Applied Life Sciences (Áustria), DI Roland Wück apresentaram uma proposta que nos coloca muitas questões. Técnica e esteticamente muito válida, aborda o ciclo da vida e da morte, no âmbito dos fogos florestais, problema que nos atinge muito particularmente.

Há, no entanto, que realçar o renascimento da vida após os incêndios. Neste jardim, há a terra vermelha, mas também o novo coberto verde. Co-existem troncos queimados, mas um pequeno jardim surge junto à habitação queimada.

Welcome to the jungle

Este projeto italiano elaborado por Federico Brancalion, arquiteto paisagista, Miranda Di Prinzio, engenheira florestal, Francesca Moretti, arquiteta paisagista e Rodolfo Roncella, arquiteto, é uma verdadeira metáfora da floresta tropical húmida. Tubos negros, flexíveis dão vida a oito grandes árvores artificiais, que simbolizam os gigantes deste tipo de floresta. Suspensos nos ramos há todo um conjunto de plantas epifítas e trepadeiras.

O solo avermelhado é também suporte de variadas espécies que se desenvolvem em busca da luz natural. Esta jardim é uma homenagem à floresta tropical húmida, essencial ao equilíbrio ambiental do planeta, mas ela própria é um ecossistema muito frágil, precisando de medidas eficazes de proteção.

A floresta pop-up

Este é o nome de um projeto português realizado pelo designer de comunicação Bruno Santos e pelos arquitetos paisagistas Carla Rodrigues, Marina Costa e Radu Matt. Um livro que nos transporta à floresta. Um livro de papel, filho da indústria de transformação dos produtos florestais. Um livro pop-up que sintetiza a interação dos elementos naturais.

A vegetação, as estações do ano e as duas personagens principais da fábula de Sophia de Mello Breyner Andresen. Uma conceção de grande impacto visual, que pode ser lida, ouvida e observada, para melhor entendermos o que é a floresta.

O (tri)ciclo da bolota

Este é mais um projeto com assinatura portuguesa, realizado pelas arquitetas paisagistas Ana Lindeza, Elisa Bairrinho, Marília Conceição, Sara Velho e pela, na altura, estudante de arquitetura paisagista, Isabel Castro. A proposta pretende simbolizar a vegetação correspondente à Região Biogeográfica Atlântica do carvalhal de zona húmida e leva-nos também a refletir sobre o ciclo da floresta, desde a germinação das sementes ao desenvolvimento das espécies arbóreas e à sua extinção.

Entramos neste gracioso e original jardim através de um túnel frondoso, visitamos o Jardim do Nascimento/Água, percorremos o Jardim da Vida/Terra e, por fim, desfilamos pelo Jardim da Morte/Fogo. Memórias da floresta Trata-se de uma floresta propriamente dita elaborada por duas arquitetas paisagistas portuguesas, Marta Malheiro e Francisca Figueira. Entramos num universo de troncos, copas e ramos, continuamos numa passadeira vermelha até à clareira, lugar preferencial do homem. Aqui, surge o seu jardim e um espelho que reflete a nossa imagem e a da floresta.

Kaos suspenso

Foi o jardim mais votado num dos anos e, por essa razão, esteve em exposição por duas vezes. O Kaos, da autoria dos arquitetos José Pedro Torres, Pedro Negrão e Teresa Aroso, inspirou-se nas ramadas do vinho verde de Ponte de Lima, no ambiente natural do rio, assim como na chamada ordem desconhecida do Universo. Este jardim é um labirinto de cabos de aço, que formam túneis, com trepadeiras. Todo este conjunto é refletido num jogo de espelhos que multiplicam infinitamente todos estes volumes.

Texto: Elsa Severino com Francisco Caldeira Cabral (fotografia)