Agosto foi um mês com energias essencialmente em Fogo e em Terra, com ausência de planetas em Ar e apenas Neptuno e Quíron em signo do elemento Água. O Fogo e a Terra vibram em níveis de energia muito diferentes e opostos na sua subtileza. Mas esta diferença nas suas formas de expressão não reduz a importância de um em detrimento do outro, até porque “Tudo o que existe no Universo é uma manifestação de Energia” (Lei do TAO). O Fogo simboliza a energia criativa, elemento de activação, é um princípio alquímico. O elemento Terra é apenas e tão somente a última forma de expressão desta energia criativa, a sua manifestação num elemento mais denso, onde se consegue a sua condensação e materialização. O fogo, por ser a Origem de tudo, a Consciência, é a energia que nunca se perde, apenas muda de forma, porque ele representa este principio criativo por excelência. Por isso, de tempos a tempos, as formas morrem para que níveis mais subtis e criativos de expressão possam surgir... em novas formas. Assim como acontece com a libertação da nossa Alma aquando da morte do nosso corpo físico e regressa ao Espirito (Fogo). E isto assemelha-se ao processo de Renascimento representado pela Phóenix. O Fogo que consome o "corpo" (a forma), que se transforma em cinzas para daí renascer em uma nova forma de vida. Quando não conseguimos estabelecer uma relação equilibrada entre estes dois planos, podemos ficar demasiado presos às formas e limitados às suas expressões no plano físico, e que se manifesta vulgarmente pelo medo da perda ou medo da morte (o elemento Terra), criando resistência a este processo de transmutação. Ou então, demasiado irrealistas, com uma dispersão de energia sem capacidade de contenção. Quando a nossa relação com estes dois princípios acontece de forma desequilibrada, transitamos de um oposto para o outro de forma extremista, ora demasiado contidos, ora demasiado ígneos, com dificuldade em introduzir mudanças progressivas nas nossas "formas" de vida. E se voltarmos à análise astrológica, este foi sem dúvida um mês com fortes quadraturas entre Virgem (Terra) e Sagitário (Fogo), mas com a particularidade de que, por altura do início deste “Inferno na terra” que foram os incêndios, Marte já transitava este último signo de fogo (ingresso a 2 de Agosto) e, como já foi referido, abundavam as energias nestes 2 elementos. Como regente do signo de Escorpião, Marte representa o princípio que activa o processo de destruição das formas, enquanto que Plutão (co—regente de Escorpião) assume a função de regeneração necessária ao processo de renascimento. Quando vivemos estas energias a partir do Coração, em Amor, estes são verdadeiros processos alquímicos que permitem uma enorme libertação de energia e que catapultam o indivíduo para níveis mais refinados de Consciência. Quando vivemos estas energias a partir do plexo solar ou da nossa natureza inferior, tanto as energias de Marte como de Plutão, tornam—se destrutivas e muito frequentemente expressas através das cíclicas crises vividas pela Humanidade. Aí temos o fogo que queima ao invés do fogo que vivifica. Ambos libertam energia, no entanto, o primeiro propaga-se de forma descontrolada, o segundo consome apenas as impurezas de forma a eliminá-las e a purificar a matéria. Ao transitar por Sagitário, um signo de Fogo, Marte activa este processo através deste elemento, e que simbolicamente podemos associar ao fogo físico (extremamente expansivo e com dificuldades de ser circunscrito). Neptuno em Peixes em aspecto difícil com os planetas que transitam estes dois signos (Virgem e Sagitário) acrescenta o caos, o desespero e a confusão (temática que tem vindo a ser desenvolvida em outros artigos desde que Neptuno e Saturno formaram quadratura entre si), sendo muito difícil definir limites a esta expressão ígnea e de conseguir uma actuação atempada e organizada. Este caos e estas confusões neptunianas representam as emoções, o elemento Água, onde se depositam todos os desejos da nossa personalidade e do colectivo, os mais e os menos refinados. São esses desejos e emoções que alimentam o nosso “Fogo” (a nossa vontade), e que será aquele vivifica e cria ou aquele que incendeia e destrói. Sem dúvida que este foi um mês durante o qual o Fogo lavrou a Terra, e apenas me proponho a rever estes acontecimentos para que deles possamos retirar algum valor acrescentado através da sua interpretação astrológica, sem apenas os considerar infortúnios de um Verão quente e consequência de poucas medidas de prevenção. Um grande azar com muitos danos, alguns deles, irreparáveis. O que se pretende com esta leitura astrológica é compreendermos a Lei da Correspondência... Estas correspondências reflectem toda a condição humana, os seus desejos, anseios e bloqueios, que se expressa através de todas estas circunstâncias, porque mesmo que não tenhamos sido directamente afectados por elas, a dor e o sofrimento produzido através delas pretende uma reflexão por parte de toda a humanidade acerca destas temáticas. E isto não significa que não sejam tomadas medidas e apuradas responsabilidades, mas podemos ir um pouco mais além na compreensão dos acontecimentos.

É tão importante falar sobre tudo isto antes de avançar para a interpretação sobre o movimento retrógrado de Mercúrio em Virgem porque as suas simbologias estão profundamente relacionadas. Depois de tantos estragos e destruição resultantes do Fogo que consumiu a Terra (de forma real e simbólica para todos nós) contabilizam-se as perdas, analisam-se os danos causados e procura-se Re-ver as falhas, Re-analisar detalhes (e ao detalhe), vamos Re-pescar os antigos planos de trabalho para Re-pensar naquele aspecto ou pormenor, compreender uma forma de nos Re-organizarmos para aperfeiçoar o nosso “modus operandi”. Mas este (Virgem) é um signo Yin, por isso mesmo que apliquemos a sua energia sobre o ambiente externo, ele remete para a vida interior, para a vigilância dos nossos processos internos de modo a objectivar as imperfeições da nossa personalidade e trabalharmos sobre a melhor forma de aperfeiçoar o sistema. Assim como as nossas florestas necessitam de Vigilância, de cuidado e de limpeza, também nós necessitamos de vigiar, cuidar e limpar o nosso "terreno" interno. O Fogo de que falámos, a energia de activação e criação, é alimentado pelos nossos recursos internos (atitudes, emoções e pensamentos). A limpeza (purificação) do nosso terreno interno traduz a qualidade dos nossos recursos, que por sua vez vai determinar o carácter destrutivo ou reconstrutivo, do nosso "Fogo". Este é o verdadeiro significado de "Trabalho" associado ao signo de Virgem.

Ainda assim, obviamente que este é um trabalho que terá necessariamente reflexos no exterior, mas o processo começa internamente. Portanto, com Mercúrio retrógrado, Re-analisamos métodos, e metodologias para evitar desperdícios e gastos desnecessários, quer de tempo quer de recursos. Afinal, Virgem faz parte da Tríade que compõem o elemento Terra, o signo que medeia o processo entre os recursos que temos à nossa disposição (Touro) e o sucesso que através deles, e com eles, conseguimos obter (Capricórnio). Como utilizar esses recursos de forma eficiente, qual a forma de melhor servir através deles e assim conseguir estruturar de modo eficaz a vida (pessoal e colectiva, social). Principalmente depois de tanta perda de recursos (Touro), estas Re-avaliações (Virgem) tornam-se essenciais para hierarquizar prioridades e ultrapassar obstáculos e dificuldades (Capricórnio) A notícia publicada no dia 8 de Agosto desperta-nos igualmente para o desenvolvimento de outras qualidades durante o trânsito de Mercúrio em Virgem, e para Re-pensarmos na nossa relação com o elemento Terra durante o seu movimento retrógrado:
«Em 221 dias, a humanidade esgotou o orçamento ecológico anual que a Terra garante, isto é, a partir de hoje estaremos a consumir mais recursos que aqueles que o planeta consegue renovar num ano. (...) "Emitimos mais dióxido de carbono para a atmosfera do que aquilo que os nossos oceanos e florestas podem absorver. Pescamos e colhemos mais e mais rapidamente do que aquilo que conseguimos reproduzir e fazer reflorescer". (...) Se a pegada ecológica da humanidade seguisse a tendência australiana nem cinco planetas iguais à Terra seriam suficientes para nos sustentar. Se seguíssemos o exemplo da Índia, ser-nos-ia, contudo, mais do que suficiente um único globo terrestre. Em geral, ao ritmo atualmente adotado, a população mundial exige quase duas Terras» comunicado da Global Footprint Network (CFN)

O signo de Virgem fala igualmente de humildade, que é muito diferente de "pobreza" ou "escassez", significa tão-somente saber viver com a consciência de usar apenas os recursos de que verdadeiramente necessitamos, sem excessos nem desperdícios. Com referência a Saturno em Sagitário, significa que teremos que perceber que existem limites Reais à nossa necessidade de expansão, e nesse sentido, é imperioso Re-ver a forma como o fazemos. Esta Consciência (Fogo), requer novas formas de viver a vida (Terra). O entorpecimento que o nosso dia-a-dia, as nossas rotinas, o nosso trabalho e agendas possam ter durante o tempo em que Mercúrio transita retrógrado, reflectem o abrandamento necessário para que voltemos atrás e Re-analisemos estes processos. Quer analisemos com referência à nossa micro ou macro realidade, esta é uma oportunidade para Re-vermos a utilização que damos aos nossos recursos, seja qual for a sua natureza, como os estamos (e nos estamos) a consumir. A nossa concepção mental sobre a forma como a vida está e deve ser organizada deve ser objecto de Re-apreciação com apelo ao sentido de crítica construtiva. Re-fazer algo permite sempre aprofundar um pouco mais o que inicalmente tinha sido feito, permite-nos voltar atrás para que não avancemos sobre o mesmo erro ou falha. Por todo o potencial que sempre está implicito na astrologia (e com isto quero dizer na utilização da sua simbologia para compreender as experiências que a vida nos traz) faço questão de relembrar que mais do que pensarmos nas formas de fugir aos incómodos que possam surgir deste movimento Retrógrado (até porque isso é uma ilusão), é pensarmos nas suas potencialidades para que todo o "mal" se converta em "bem".
Re-pensemos nisto
Sobre a autora:

Ana Paula Pestana sempre desenvolveu a sua actividade académica e profissional na área das ciências, mas a sua busca espiritual e o interesse pelos símbolos levou-a a mudar todo o sentido e orientação que sua vida tinha até então. Aconteceu no dia em que assistiu à sua primeira aula de astrologia no Quíron com Maria Flávia de Monsaraz, em 2006. Desde então completou vários estudos em astrologia passando igualmente pela Faculty of Astrological Studies (Londres) e pelo AlmaSoma (Instituto de Transpessoal) para o desenvolvimento de ferramentas ligadas à psicologia e à espiritualidade. Desenvolve o seu conhecimento e prática astrológica (em consultas, formação, palestras e workshops) com base nos princípios do esoterismo porque, no seu entender, a astrologia é mais do que um conhecimento, é uma filosofia de vida que a fez sentir-se em Amor com a Vida. Paralelamente desenvolve um projecto de ensino em astrologia e desenvolvimento transpessoal em conjunto com a AlmaSoma (Instituto de Transpessoal) que terá início em Setembro de 2016 e que oferece ao estudante de astrologia uma estrutura de ensino profunda e completa (consulte o seu blog para mais informações).
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ASCENDENTE, Astrologia para um Desenvolvimento Consciente ® - www.ascendentt.wordpress.com
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