Numa altura em que as mulheres afirmam cada vez mais o que querem, não admira que o prazer seja um tema central. Mas será que as inúmeras teorias e estatísticas centradas no clímax são reflexo da realidade? Em entrevista à Saber Viver, Marta Crawford, sexóloga, desmitifica alguns tabus relacionados com a sexualidade feminina. "A sexualidade tem imensos tempos e todos podem ser brilhantes até ao fim da vida", sublinha.

A apresentadora de programas televisivos sobre o tema, que também é autora de vários livros sobre sexo, analisa também aquilo que define como o "momento sublime da excitação sexual, o auge em termos de prazer", o orgasmo, que não tem forçosamente de implicar penetração. "O sexo é muito mais abrangente, não é apenas o coito", assegura. Aprenda a tirar (maior) partido do seu corpo e vibre de prazer!

Qual é a importância do orgasmo?

O orgasmo não é o objetivo principal. Pode até não ocorrer e a relação ser satisfatória. Contudo, mesmo numa relação ocasional, todo o envolvimento entre as pessoas é importante para atingir o clímax.

Quais são as principais fases até o clímax?

O desejo, a excitação e o orgasmo. Por vezes, a excitação surge antes do desejo. Através da estimulação, a excitação é provocada e o desejo da relação sexual acontece. O desejo é estar disponível para interagir sexualmente e recetivo à vontade do outro. Neste processo, há alterações fisiológicas, nomeadamente ao nível da respiração, da tensão muscular, da lubrificação na mulher e da ereção no homem.

O corpo prepara-se para a relação sexual. O auge é o momento em que as alterações físicas atingem o nível máximo, isto é, o clímax. O orgasmo é subjetivo, uma vez que cada pessoa o vivência à sua maneira, mas é um momento em que há uma espécie de descarga.

O que distingue o orgasmo feminino do masculino?

A mulher com a sua capacidade de ter vários orgasmos vive-os de forma mais interessante. O homem vive a sua sexualidade de um modo mais linear, rápido, como se atingir o orgasmo fosse o prémio de consolação.

Que relação existe entre o ponto G e o orgasmo?

Tenho um certo descrédito quanto ao ponto G. Penso que o prazer deve existir no sentido de estimular mais a mulher e não de estimular um determinado ponto em particular.

É possível atingir o clímax via internet?

Sim, estes meios estão cada vez mais em foco e através da masturbação atinge-se o orgasmo. Diante do ecrã, as pessoas desprendem-se dos seus medos e, como consequência, as conversas tornam-se rapidamente mais íntimas e erotizadas. A única vantagem é impedir as doenças sexualmente transmissíveis.

Que fatores podem impedir o orgasmo?

Os problemas educacionais, medos e preconceitos relativamente à sexualidade podem dificultar o momento de prazer supremo. Se a mulher fez autodescoberta do corpo, se sente bem quando está nua e na relação com outra pessoa isso leva-a a libertar-se para o orgasmo. Quando não é o caso, é complicado atingir o ponto máximo de excitação.

Como podemos superá-los?

Através do diálogo, da capacidade de perceber que há um problema e técnicos específicos para ajudar. É preciso aprender outras alternativas para viver uma sexualidade em pleno. Interessa é que cada um consiga encontrar o equilíbrio no qual ambos tenham satisfação na relação.

A que especialista se deve recorrer?

A um sexólogo ou terapeuta sexual para avaliar e tentar resolver o problema. As abordagens dependem do caso e podem ser muito complexas, todavia muitas questões estão relacionadas com o foro sexual e com relacionamento, nomeadamente na conjugalidade, na gestão do quotidiano, nas questões de poder, nas relações com filhos ou na comunicação.

A dificuldade em atingir o orgasmo pode dever-se a problemas de saúde?

Normalmente, a maior parte das pessoas que procura ajuda já tem a noção de que, eventualmente, se trata de uma questão psicológica ou vivencial. Pode haver razões físicas, a nível clitoriano, por exemplo, em situações como radioterapia sobre a pélvis, lesões dos nervos da região pélvica e genitália externa, como consequência de acidente, doenças crónicas ou lesão medular.

A forma como se vive o orgasmo muda ao longo da vida?

A sexualidade tem imensos tempos e todos podem ser brilhantes até ao fim da vida. As vivências não têm que ter sempre a mesma forma e intensidade. Com o avançar da idade a mulher sente-se mais confiante com o corpo, com a vida e consigo. Terá mais maturidade para uma vivência sexual mais intensa.

Que técnicas ajudam a melhorar o orgasmo feminino?

O lubrificante normal facilita a sexualidade, aumenta a excitação e torna mais fácil atingir o orgasmo. Fundamentais são os preliminares! Diretamente ligados ao tipo de relação que se tem com o parceiro ou parceira, o respeito que existe entre o casal, a manutenção da relação e as pequenas atenções do dia a dia.

Sexo é sinónimo de orgasmo?

O sexo é muito mais abrangente, não é apenas o coito. Tudo é sexo desde que os dois queiram e se sintam bem no que estão a fazer independentemente de haver coito ou não. Sexo oral, masturbação, carícias, beijos são comportamentos sexuais e todos eles permitem chegar a um ponto alto de excitação e ao orgasmo.

Um último conselho para as leitoras da revista Saber Viver...

Olhe para si, descubra como é a sua vagina, a sua vulva, aprenda a acariciar-se sem ter vergonha de o fazer, porque, de facto, primeiro somos um e, só depois, é que somos dois.

Texto: Leonor Noronha