No mundo contemporâneo não existe outro sentimento em que se fale mais do que no amor. Seja qual for o lugar, o tempo, a época, seja na TV, na Internet, na rádio, em livros ou revistas, praticamente tudo gira à volta do tema do amor (e amor neste artigo não se refere somente ao amor romântico mas também ao amor que sentimos pela nossa família e pelos nossos amigos). Até agora, nada de anormal, certo? E não digo “mundo contemporâneo”, como se antigamente não tivesse sido a mesma coisa.

Sempre foi a assim, sempre será assim. Já a Bíblia nos ensina “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Marcos 12:30-31). Em todo o lado, principal- mente nas plataformas sociais, mas também em revistas, filmes, poemas e músicas, encontram-se mensagens de amor, ensinamentos, frases, conselhos, histórias, bons exemplos, maus exemplos, de como viver uma vida mais preenchida de amor, bondade e paz. um exemplo é a plataforma do Facebook, onde as pessoas publicam diariamente lindas frases de grandes personalidades históricas, músicas (que em 99% dos casos giram à volta do amor), etc. Até agora, mais uma vez, nada de anormal.

Até agora não estou a relatar nada que seja fora do normal, ou que alguém não saiba, pois não? Todos conhecemos esta realidade. E no entanto, se olharmos para as pessoas que nos rodeiam no nosso dia-a-dia, as pessoas que conhecemos e que não conhecemos, quer morem longe ou morem perto, basta ligar a TV para observar- mos alguns exemplos (por exemplo as telenovelas, os reality-shows), pratica- mente todas elas se queixam da mesma coisa. Direta ou indiretamente: falta de amor.

Ou não se sentem suficientemente amadas pelas pessoas que as rodeiam, veem na família e nos amigos somente pessoas falsas e interesseiras que esperam o momento certo para lhes dar uma facada nas costas, isto para não falar do parceiro amoroso e romântico, ser que incorpora tudo que é negativo, frieza, interesse material, falsidade, infidelidade, interesse pelo prazer carnal, etc., ou sofrem do caso contrário, não conseguem encontrar as pessoas ou a pessoa que conseguem amar verdadeiramente. O único “amor” que sentem é aquele desencadeado por interesses materiais, sentimentos de culpa, sentimentos de obrigação, sentimentos de preservação ou melhoria do seu estatuto social, etc.

Se observarmos conscientemente a tragédia com que nos deparamos diariamente, a tragédia ganha mais e mais traços de uma comédia. Com isso não quero ridicularizar as fortes flutuações emocionais que afectam a pessoa comum, quero apenas destacar o seu carácter desnecessário, ao mesmo tempo que pretendo encontrar a fonte do seu problema.

A confusão comum

A fonte do problema é ao mesmo tempo, se tiver consciência dela, a sua solução. A questão reside na percepção da palavra amor, e na falta de distinção entre os dois diferentes tipos de amor. Porque as pessoas falam todas na mesma palavra, englobam nela os dois tipos completamente diferentes de amor, e não fazem uma distinção consciente destes dois tipos. Temos portanto o amor egóico e o amor verdadeiro ou universal. Se Jesus disse, que deves amar ao teu próximo como a ti próprio, Jesus referiu-se ao amor verdadeiro ou universal. Esse tipo de amor implica um estado absolutamente consciente de quem o sente, porque senão não consegue ser sentido. Só no estado desperto é que percebemos que o nosso próximo é expressão da mesma consciência universal, tal como nós próprios.

Nesse estado de consciência não existe diferença entre um e outro, tudo se torna num só, e as diferenças superficiais são encaradas tal como verdadeiramente são: subjetivas. o amor universal é o amor mais procurado pelos humanos, ao mesmo tempo que é o amor menos sentido pelos mesmos. é tão raro, que é necessário abrir a Bíblia e outros escritos religiosas como o «Tao Te Ching» para entrar em contacto com este sentimento tão enriquecedor, ao mesmo tempo que unificador, pacífico e bondoso.

Então porque existe este paradoxo? As pessoas todas procuram o mesmo amor, mas nunca o encontram. No entanto, muitas pessoas relatam que encontraram finalmente o amor, ou que amam verdadeiramente. Qual é esse amor de que as pessoas tanto falam?

O amor egóico

Basta ver uma telenovela, uma comédia romântica, etc. Basta ler um romance, ou folhear uma revista cor-de-rosa, ligar o computador e observar as plataformas sociais. Não demorará muito tempo até vermos inúmeros exemplos da outra variante do amor, o “amor egóico”. Amor egóico? Porquê este nome adicional? Egóico? Porque o amor egóico, tal como o próprio “ego” da pessoa, é nada mais do que uma projeção imaginária, e consequentemente ilusória, dos próprios pensamentos. Isto significa que ele só existe nas nossas cabeças. Não existe na realidade! o leitor poderá intervir: “Como é que não existe na realidade se toda a gente o sente?” é verdade, no entanto, toda agente sente apenas a sua própria projeção e ilusão desse tal amor. E cada projeção é diferente da outra. Este tipo de amor não significa portanto aceitar o próximo tal como ele é, com todas as suas virtudes e todos os seus defeitos, sem adicionar interpretações pessoais à pessoa em causa. Este tipo de amor significa ter uma ideia pré-estabelecida de como as coisas terão que ser, e de como a outra pessoa terá que ser, e procurar a pessoa que se encaixe nestas expectativas. Dessa forma, será que teremos sucesso em encontrar a “tal” ou o “tal”, em rodearmo-nos de amigos que realmente querem o nosso bem, ou fazermos aproximar os familiares que são bons para nós, ao mesmo tempo que afastamos os que não o são? Não, nunca.

Procuraremos durante muito tempo e nunca encontraremos quem procuramos. Porque quem procuramos não existe na realidade, somente nos nossos pensamentos. Saltaremos eternamente de relação em relação, seja ela amorosa, de amizade ou familiar.

Projetamos as nossas expectativas em cima de outra pessoa, e no início ela parece conseguir satisfazê-las, parece conseguir “fazer-nos feliz”, e preencher o vazio emocional, o “buraco”, que constantemente sentimos dentro de nós (vazio que se deve à falta de amor verdadeiro). Mas basta esperar apenas algum tempo, para cairmos novamente na desilusão da realidade, de que tal pessoa, ou tais pessoas (na verdade nenhuma pessoa), não consegue satisfazer as nossas expectativas. o ciclo vicioso começa novamente... Sem fim à vista.

A solução

Será que o leitor ficou consciente das razões por que o amor egóico nunca nos consegue trazer a verdadeira felicidade? A constante procura do “amor eterno”, que fracassará sempre, e sem razão lógica aparente ou evolução pessoal, leva à infelicidade das pessoas. quase metade dos casamentos terminam em divórcio. As estatísticas não enganam. E qual a solução para tal problema “amoroso”? ora podia esperar-se uma bela frase como: “Não deves amar de forma egóica, criando pré-juízos de outra pessoa, mas sim deves amar como amas a ti próprio...” ou algo do género. Mas a verdadeira solução não é tão poética como isso. Não é necessário fazer nada de especial, não é necessário forçar nada, ou negar algo que se sente, agir contra a própria natureza e não seguir os seus instintos, desejos, sentimentos, pensamentos, etc.

A única coisa necessária, que resolverá todos os seus problemas de um momento para o outro, é ficar consciente, é despertar.

Texto: Ricardo e Rudolf Schimassek
Revista Insights