Existem muitas diferenças entre homens e mulheres e não são apenas físicas. Saiba o que os distingue na saúde e na doença. É, por exemplo, verdade que os homens precisam mais de sexo do que as mulheres? A pergunta é uma das 163 dúvidas fundamentais do livro "Por que é que os homens têm mamilos?", escrito por Mark Leyner e pelo médico Billy Goldberg, publicado em Portugal pela Plátano Editora.

A resposta, suportada por um estudo da publicação especializada Nature Neuroscience, é taxativa. "É claro que sim!", garantem os autores da investigação. Além desta, há outras outras diferenças óbvias, na utilização de cosméticos e maquilhagem, no uso de sapatos de salto alto e, sobretudo, nos aspetos físicos mais evidentes. Homens e mulheres têm também fisiologias distintas e algumas doenças têm mesmo sexo.

Algumas patologias afetam mais um género do que outro, como foram alertando investigadores, cientistas e médicos ao longo das últimas décadas. Em determinadas áreas, a comunidade científica ainda está a despertar para estas subtilezas, mas os últimos anos têm sido de avanços, começando inclusivamente a surgir centros de investigação e especializações em medicina de género em diferentes partes do mundo.

O coração

O principal inimigo da mulher são as doenças do aparelho circulatório, uma das primeiras causas de morte no feminino em Portugal. Por ano, mais de 22.000 mulheres, em média, são vítimas de doenças cardiovasculares, com o acidente vascular cerebral (AVC), o enfarte ou angina de peito no topo das complicações mais comuns. Três pessoas por hora, em média, sofrem um AVC. Muitas delas são mulheres.

"Surpreendentemente", assinala Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, "morrem mais quatro mil mulheres que homens por ano em Portugal com estes problemas" e "nove vezes mais mulheres com doenças cardiovasculares do que por cancro da mama", afirmou o cardiologista português em declarações à edição impressa da revista Saber Viver. Os números alarmam.

A cardiologia é justamente uma das especialidades em que o conhecimento das diferenças entre géneros está mais desenvolvido, mas os métodos de diagnóstico refletem ainda pouco essas diferenças. "Os sintomas na mulher são mais difíceis de valorizar", frisa Manuel Carrageta. Por exemplo, em caso de enfarte na mulher, é frequente não haver a "típica dor retroesternal", sublinha.

As técnicas de diagnóstico têm igualmente menor eficácia na condição feminina. "O tratamento, quer médico quer de intervenção ou cirúrgico, tem menos sucesso e o prognóstico é mais reservado" alerta. Em Portugal, segundo dados divulgados nos primeiros meses de 2019, o enfarte do miocárdio é, anualmente, responsável pela morte de quase 2.000 mulheres. Nos fumadores, o risco é 60% superior.

As hormonas

As hormonas e a sua ligação com os genes têm uma grande influência em todos os processos, nomeadamente nas doenças que afetam mais a população feminina. Os mesmos estrogénios que dão às mulheres mais defesas imunológicas, com uma resposta mais rápida e mais sólida, podem ser, simultâneamente, responsáveis pelos erros que permitem o surgimento de doenças autoimunes, alertam os especialistas.

Margarida Carneiro, investigadora na área da imunologia, em especial da artrite reumatóide, indica que as doenças autoimunes afetam principalmente mulheres. E é, justamente, durante as fases em que as hormonas estão mais ativas que estas atacam. O síndroma de Sjrögen, reconhecido pela secura nos olhos e boca, é o que afeta mais pessoas, 2% a 3% da população, na proporção de seis mulheres para um homem.

A artrite reumatóide, com inflamação nas articulações, afeta 1% da população e três mulheres para um homem. Cerca de 0,2% da população tem lúpus, na proporção de oito mulheres para um homem. Em todas estas doenças, a recomendação da investigadora, é simples. Consulte, de imediato, um reumatologista. Estas doenças têm de ser detetadas logo no início, para haver melhores resultados do tratamento.

O cérebro

Existem muitas diferenças entre os cérebros feminino e masculino, sendo que ao nível funcional e comportamental se encontram as maiores desigualdades, indica Nelson Lima, neuropsicólogo. "As doenças neurológicas e psiquiátricas afetam [também] homens e mulheres distintamente", sublinha o especialista, exemplificando com a hiperatividade e a síndrome de Asperger, doenças mais masculinas.

Do lado oposto, surgem a bulimia nervosa e o alzheimer, tradicionalmente mais femininas. Mas não é só o sexo que influi. "As diferenças hormonais, biológicas e também sociais e comportamentais resultantes da cultura, das condições e dos estilos de vida" entram neste jogo. Truques? "Ler, passear, fazer amigos, conviver com os mais novos, uma dieta sadia ou uma sesta a meio do dia", recomenda a especialista.

Uma coisa é certa, quanto mais usar o cérebro, mais jovem ele se manterá. "A mente pode ser reforçada por atividades sociais, novas aprendizagens e evitando rotinas entediantes. Tudo isto insere-se na chamada neuróbica", explica o neuropsicólogo. "Os exercícios mais estruturados de treino mental, como a meditação activa, pertencem à categoria de neurofitness e podem ser aprendidos com instrutores habilitados", acrescenta.

Outras diferenças entre X e Y

Sabia que a osteoporose, uma doença tradicionalmente mais associada às mulheres, pode ser evitada com um estilo de vida saudável, com uma dieta rica em cálcio e vitamina D e com a prática de exercício físico regular? Descubra, de seguida, outras curiosidades que exemplificam bem a diferença entre os géneros:

- Apesar das doenças cardiovasculares serem comuns no sexo feminino, o especialistas em cardiologia são, na sua maioria, homens. Em 2005, o Instituto Nacional de Estatística contabilizava 585 cardiologistas homens e 167 cardiologistas mulheres em Portugal.

- A diabetes mata, em média, mais mulheres do que homens.

- As mulheres têm oito vezes mais hipóteses de sofrerem de osteoporose, uma doença que torna os ossos mais frágeis e quebradiços, do que os homens.

- A asma e o estado de mal asmático provocaram a morte de 73 mulheres e 39 homens em Portugal em meados da década de 2000, enquanto que a gripe esteve na origem da morte de 31 mulheres e 17 homens em 2005. Nos últimos anos, a tendência não difere muito.

- O cancro da próstata é uma doença comum no sexo masculino, que fez 1.636 vítimas em meados da década de 2000. Anualmente, em média, mata cerca de 1.800 homens em Portugal.

- Não são só as mulheres que têm cancro da mama, embora liderem a tabela. 19 homens e 1.479 mulheres foram vítimas dessa patologia em 2005. A proporção, passados todos estes anos, segue a mesma tendência.

- Só as mulheres é que podem engravidar, isto não é novidade nenhuma, mas é a dois que, habitualmente, isso (ainda) mais acontece. Um casal normalmente fértil tem apenas 25% de hipóteses de conceber a cada mês.

- Em 2005, morreram mais homens do que mulheres com sida, doenças crónicas das vias aéreas inferiores, doenças do aparelho digestivo, doenças crónicas do fígado, acidentes de transporte e tuberculose.

- A infertilidade não se limita ao sexo feminino. Em 40% dos casos deve-se à mulher e em 40% ao homem. Nos restantes 20% fica a dever-se a ambos ou fica por explicar, garante especialistas nacionais e internacionais.

Texto: Joana Andrade com Manuel Carrageta (cardiologista), Margarida Carneiro (investigadora em imunologia) e Nelson Lima (neuropsicólogo)