As relações surgem apaixonadas, intensas e com o passar dos tempo a rotina, impõem-se, a paixão esmorece, encontram-se os defeitos e é aí que as dificuldades aparecem. O compromisso é difícil de manter porque implica investimento na relação e a idealização inicial passa a uma realidade menos perfeita que exige esforço, negociação e cedências.

Aquela pessoa que parecia tão “certa”, vê-se a uma luz mais sombria e frequentemente as pessoas preferem iniciar um novo caminho em busca de uma melhor, na esperança de ser mais “certa” desta vez.

Evidentemente que perceber que uma relação não nos faz bem e ter a coragem para recomeçar é um sinal importante de auto-estima e auto-cuidado, mas e quando esta mudança surge porque achamos que precisamos sempre de algo perfeito e melhor? E quando esta mudança surge porque achamos que ainda não encontrámos a pessoa certa?

Corremos o grande risco de a procura ser eterna, e as nossas relações não passarem de incontáveis experiências passageiras e pouco satisfatórias, na busca de perfeição em perfeição, de pessoa em pessoa…

Creio que é natural desejarmos encontrar alguém suficientemente compatível connosco, mas só podemos procurar até um certo ponto. Se a cada relação que encontramos, achamos que podemos encontrar algo melhor, poderemos estar a deixar passar uma grande oportunidade para investir e construir algo mais sólido e quiçá mais satisfatório com a pessoa que temos à nossa frente.

As escolhas implicam sempre algum ganho e alguma perda e o compromisso é isto mesmo: uma escolha que leva à perda de outras possíveis pessoas (melhores ou piores) e ao ganho da relação em que se investe.

Contudo, existem pessoas que efectivamente podem ser mais ou menos “certas” para cada um de nós. Será alguém muito semelhante ou muito diferente? Quais serão as características?

Algns estudos indicam que os casais, para além da atraccção física e sentimentos que nutrem mutuamente, beneficiam de um emparelhamento de um determinado tipo de similitudes e diferenças.

Neste sentido, pessoas mais abertas, criativas e que procuram novos desafios e oportunidades parecem ser muito compatíveis com pessoas que balançam estas características, nomeadamente pessoas mais preventivas, cuidadosas, planificadoras, que evitam cometer erros e que oferecem segurança (Bohns, 2013).

Este tipo de pares podem parecer à partida muito distintos, e na realidade têm uma grande margem para as coisas correrem mal… Se por exemplo ele quer correr o risco de iniciar algo novo, ela pode querer permanecer com o que sabe que já funcionou, se ele é um optimista, ela pode ser mais céptica, se ele é mais impulsivo e espontâneo, ela prefere viver segundo planificações, ele quer acelarar e avançar e ela põe os travões para garantir que as coisas vão na direcção certa… As oportunidades para conflito são imensas...

Contudo, segundo as ivestigações estas parecem ser as conjugações de características que benefeciam relações mais adaptativas e mutuamente satisfatórias, uma vez que parecem possibilitar a concretização de várias actividades e objectivos na vida de forma complementar, em que ambos os pares de características são importantes, podendo-se ajudar mutuamente. Desta forma cada pessoa na relação pode desempenhar as tarefas em que é mais forte, sabendo que o outro cobre o resto. Por exemplo, ele pode marcar uma viagem excitante e ela garante os passaportes e o itenerário planeado.

Por outro lado, apesar de todas estas diferenças, há similitudes essencias a ter em conta: os valores e objectvos de vida. Estes casais necessitam partilhar valores comuns e confluirem sobre o que querem na vida. A diferença está na forma como podem lá chegar (o que os pode complementar).

As pessoas perfeitas não existem, e a “pessoa certa” irá depender em grande parte da forma como também nos sentimos e nos vemos a nós próprios, da forma como nos comprometemos com o outro e com o nosso próprio sentido de vida e disponibilidade para construir algo que requer uma parte de nós.

Nesta “equação” das relações, há ainda um elemento essencial, o Amor, e este depende tanto de compromisso, escolhas, paixão, como também de alguma magia… e esta requer mais ser sentida do que explicada. Permita-se sentir…e talvez encontre a pessoa “certa”…

Vanessa Damásio

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Conjugal e Familiar