O aviso, em inglês, aparece quando se tenta aceder a Howrevealing.com. «Tenha, por favor, em atenção que este site contém informação que pode ser traumatizante, perturbadora e difícil de ler», diz a mensagem de advertência. Permitir que as vítimas de assédio sexual possam partilhar as suas experiências traumáticas de forma anónima e segura, sem juízos de valor, é um dos objetivos do projeto, que também as pretende auxiliar a procurar apoio.

O nome de quem fez os relatos nunca é divulgado, nem sequer a idade, o estado civil ou até mesmo a profissão. Apenas se sabe o sexo de quem foi vítima de abuso por parte de outro(s). As informações sobre a roupa que vestia no momento do ataque, a hora do dia em que aconteceu e o local são, por vezes, indicadas, sem revelar demasiado. Mas, a avaliar pelos testemunhos, todas as alturas são potencialmente perigosas.

«Eu sinto que as ruas nunca são seguras. De dia ou de noite», refere uma das vítimas. «Ia a caminho de casa quando, do nada, surgiu um vulto numa bicicleta me apalpou o peito», prossegue. «Fiquei atónita e sem reação», desabafa. «Este incidente foi há mais de quatro anos e ainda hoje tenho medo», acrescenta ainda. Muitos dos relatos denunciam, todavia, situações de assédio sexual de menores.

«Acariciou-me entre as pernas»

«Tinha 13 ou 14 anos mas lembro-me como se fosse hoje (...) Um homem com um aspeto respeitável aproximou-se de mim de bicicleta para, educadamente, me pedir direções (...) De repente, tirou o pénis para fora», recorda. Assustada, desatou a correr pela rua aos gritos. «Um tio meu, durante uma viagem de carro, acariciou-me entre as pernas. Tinha seis anos. Senti-me muito desconfortável», recorda outra das mulheres.

«O facto dos relatos serem anónimos torna as histórias mais cruas e assustadoras», defende Urmila, uma advogada e investigadora de 29 anos que, por questões de segurança, prefere não divulgar o apelido. Em 2012, quando estudava em Deli, na Índia, ficou chocada com o caso de um gangue que violou uma mulher. Na altura, apesar de haver testemunhas, praticamente todas se fecharam em copas.

Quatro anos depois, em dezembro de 2016, lançou o site. Três meses depois, em março de 2017, já eram mais de 100 os episódios relatados. Recebe, em média, dois por dia. «Se não garantirmos o anonimato, as pessoas não falam. Não só porque estão assustadas mas também porque o trauma ainda está bem presente e é mais difícil revivê-lo se estivermos a dar a cara», afirma a mentora do projeto.

Texto: Luis Batista Gonçalves