A ideia surgiu de um acontecimento infeliz: depois de ouvir uma violenta discussão no prédio ao lado, um grupo de criativos decidiu que estava na altura de trazer para a rua a dura realidade que sofrem muitas mulheres entre paredes. Com o apoio da Associação das Mulheres Contra a Violência (AMCV) e da Lisboa Film Commission, fez-se um raio-x à violência doméstica nas ruas da Capital.

“Ouvimos objetos a partir, gritos, portas a bater e de repente percebemos que o homem tinha saído (...) e achamos inacreditável como é que aquele homem se calhar foi para o café ao lado, e pediu um café, e ninguém sabe o que tinha feito à mulher”, conta Rui Soares, diretor criativo da NRS Tailors, recordando a acesa discussão que levou a sua empresa a sugerir à AMCV uma ação publicitária de sensibilização fora do padrão.

“Quando tivemos a ideia não sabíamos muito bem como executá-la, começamos a pensar em telas, mas queríamos uma coisa fora do normal (...) quisemos fazer uma coisa diferente de forma a que o próprio formato da ação chamasse à atenção só por si”, conta Rui, explicando como a solução encontrada foi o papel que, colado diretamente nos prédios, dava vida aos edifícios e ao flagelo da violência doméstica que atravessa os vários segmentos da sociedade portuguesa. Tendo em atenção a abrangência deste problema, Rui Soares explica que para esta campanha deram a cara mulheres “de todas as idades, dos os 20 aos 60 anos”.

Margarida Medina Martins, vice-presidente da AMCV, salienta a originalidade desta ação, cuja aceitação por parte da associação foi imediata. Todavia, chamar a atenção para a questão da violência doméstica é apenas uma parte do trabalho.  “Acho que ainda está muita coisa por fazer, já se andou muito, já o país vai no quinto plano de combate à violência doméstica, portanto há muito trabalho feito, mas mesmo assim estamos longe de chegar a bom porto porque levamos em relação a muitos países europeus certa de 30 anos de atraso”, salienta Margarida Medina Martins.

Na opinião da vice-presidente da AMCV “não basta boa vontade para trabalhar nesta área. Nós defendemos que os profissionais devem ser altamente especializados e que as entidades devem ser certificadas”, sustenta, dando como exemplo a área da justiça: “Não faz sentido que a comunidade toda se organize e se especialize e depois se chegue à justiça e as pessoas não saibam do que estão a falar ”.

“Vamos fazer cinco caras ao todo” , explica Rui Soares quando lhe perguntamos qual será a abrangência desta campanha, salientando que a localização destes rostos em locais de grande visibilidade no centro da cidade apenas foi possível graças à colaboração da Câmara Municipal e da Lisboa Film Commision.

Tal como os NRS Tailors e a Câmara Municipal, todos os envolvidos neste projeto associaram-se à causa sem cobrar pelos serviços prestados.  Assim sendo, a estreita colaboração com a produtora LoveMagna, com o fotógrafo Filipe Rebelo, com a empresa de produção gráfica Fórmula P – responsável pela impressão e fixação dos cartazes, com a produtora Ameba e com a Quick Casting, tornou possível que um projeto com esta dimensão se tornasse real sem a existência de qualquer verba.