No outro dia disse, em público, que, se me perguntassem há uns anos o que é que eu queria da vida, teria que pensar bastante e, provavelmente, daria uma extensa e pouco clara resposta. Agora é simples: quero passar o máximo de tempo possível a fazer as coisas que mais gosto.

Fazer-se o que se gosta dá uma trabalheira incrível. Desde logo porque, antes de tudo, é necessário perceber o que é que nos faz brilhar. Depois porque, a maior parte das vezes, os inícios nunca são fáceis e compensadores.

Para viver (também) é preciso dinheiro. E caçá-lo implica tempo: esse tempo que todos deveríamos usar a fazer-produzir o que mais prazer nos dá.

Sinto uma enorme alegria sempre que me deparo com quem exerce o seu ofício com prazer: é como se me estivesse a ser provado que os eixos da humanidade se estão a alinhar bem. Há, em quem ama aquilo que faz, uma certa dose de brilhantismo que supera as competências e o profissionalismo. Há, no trabalho dessas pessoas, uma dose de instinto amoroso que inspira e toca os demais.

Creio que quem está neste encantador enquadramento tem também uma responsabilidade acrescida: a de demonstrar a quem anda à deriva que é possível viver assim, maravilhado com cada novo dia de trabalho, mas que não foi o acaso que se encarregou de tudo... É que passar o máximo de tempo possível a fazer o que nos faz feliz, implica esforço, noção de prioridades, perseverança e uma força de vontade que, às vezes, vai para além do compreensível.

Para chegarmos a passar a vida assim é preciso fazer concessões, saber trabalhar para "aquecer" e saber (às vezes durante demasiado tempo) viver com muito pouco dinheiro. Mas, por outro lado, também não há dinheiro que pague uma vida mais feliz.

Ana Amorim Dias

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