- Este?

- Não.

- Este?

- Também não!

Quando ele já estava a perder a paciência comigo, percebi porque é que nenhum restaurante me agradava. O que eu queria mesmo era tomar o pequeno-almoço!

Na esplanada, entre sumos de laranja, cafés e croquetes, ele foi-se queixando de algumas coisas. Eu ouvi por pouco tempo: ainda estava no embalo etéreo de quem chega de viagem (por mais que as minhas viagens matinais se tenham limitado a livros e pequenos vídeos de expedições no YouTube).

- Repara bem nas tuas palavras!- repreendi-o.

- Hã?

- Vê como, nessas ninharias de que falas, estás a ser negativo e a apontar as tuas setas para baixo! Não percebes que assim estás a tornar a tua realidade má?

- ...Realmente...-

Mais tarde, junto ao mar, pediu-me um abraço e agradeceu:

- É que vocês, mulheres, vêm mais preparadas para o bem. Estão ligadas...- e, enquanto olhava para cima e fazia a mímica de um fio invisível que me une o cocuruto aos céus, coroou a ligação com um assobio.

Fiquei a pensar com que outras mulheres se dará ele, feliz por sermos todas tão sábias.

E depois lembrei-me de uma das leis do Kharma: "Sê e faz de ti mesmo aquilo que queres ter na tua vida."

Faz falta entendermos que, se queremos paz, temos que ser pacíficos; se queremos amor temos que ser amorosos; se queremos abundância temos que ser abundantes... O problema é que quase nunca paramos para pensar naquilo que a nossa alma precisa. E insistimos em tentar levá-la a comer a restaurantes caros quando tudo o que ela precisa é de um café na esplanada.

Ana Amorim Dias