Hajjati tem 23 anos e é transexual. Durante grande parte da sua vida achou que era homossexual, uma vez que adorava maquilhar-se às escondidas dos pais. Mas há três anos atrás, quando descobriu a sua verdadeira identidade de género, decidiu confrontar a família sobre o assunto. Uma conversa que não teria relevância se não vivesse no Uganda, considerado um dos países mais homofóbicos a nível mundial e onde a homossexualidade dá direito a pena de prisão.

“Falei com a minha família mas a sua reação foi cruel. Expulsaram-me de casa. Tentei falar com alguns amigos mas eles também não quiseram saber de mim”, afirmou o jovem em entrevista ao jornal espanhol 'El País' ao falar daquele que deveria ter sido um dos momentos mais importantes e libertadores da sua vida.

À semelhança do que acontece com outros transexuais, Hajjati foi obrigado a deixar tudo para trás e a procurar refúgio nos arredores da cidade onde praticamente vive em isolamento. Sem qualquer tipo de apoio financeiro, uma vez que o governo se recusa a empregar pessoas com base na sua identidade e orientação sexual, o jovem acabou por optar pela prostituição para poder sobreviver.

Cada vez que tem de se deslocar aos arredores da cidade para se encontrar com clientes, a sua vida, e a de todos que se prostituem por necessidade, é posta em risco. “As pessoas sabem que podem fazer o que quiserem connosco, que temos poucas armas para nos defendermos”, conta Edwine sobre a falta de segurança, humilhação e discriminação que sente no seu dia a dia.

Apesar de atualmente já existirem organizações que se dedicam a dignificar a vida da comunidade transexual a viver no Uganda, como é o caso da Transgender Equality, a verdade é que isso não chega para derrubar o preconceito e ódio de uma sociedade inteira.

“Sempre me senti uma mulher e sempre que podia vestia-me como tal. Uma vez fui a um hotel com um cliente e quando ele descobriu que na realidade era um homem, chamou a polícia. Bateram-me até perder a consciência, chamaram a televisão local, filmaram a minha cara e publicaram o vídeo nas redes sociais”, relembra Shamim, de 20 anos, que procura consolo, apoio e conforto junto da comunidade transexual, cujos membros chama de "irmãs".

Para estas pessoas o sonho é o mesmo: poder viver a sua vida livremente, sem medo e discriminação, num país que lhe conceda os mesmos direitos que qualquer cidadão, independentemente da sua identidade sexual, deve ter.