“Não aplaudam a personagem transexual de Jared Leto”, escrevia há dias o jornalista Steve Friess na edição eletrónica da revista “Time”. Não foi a primeira vez que o ator foi alvo de críticas por ter encarnado Rayon, uma mulher transexual e seropositiva, no filme “O Clube de Dallas” (2013), de Jean-Marc Vallée.

No último domingo, Jared Leto ganhou o Óscar para Melhor Ator Secundário e em janeiro recebera um Globo de Ouro na mesma categoria. Ao contrário do que seria de esperar, nem todas as pessoas transexuais reagiram bem à personagem e aos prémios. O artigo da “Time” deu voz plena às críticas.

“Dentro de pouco tempo, a atuação de Leto como Rayon, uma personagem insolente e tão trágica quanto ridícula, pertencerá a um infame panteão”, escreveu Steve Friess. “Os liberais de Hollywood, quer os do cinema quer os do jornalismo, percebem muito pouco da vida da minoria que acham que estão a lisonjear.”

Na opinião do jornalista, a personagem de Jared Leto está infestada de lugares-comuns – à maneira do que até há poucos anos acontecia no cinema com os homossexuais. “Não há estereótipo sobre as mulheres transexuais a que a construção de Leto não dê vazão. É uma versão exagerada e banal do comportamento dos homens quando querem fazer-se passar por mulheres, por oposição àqueles que se sentem profundamente mulheres.”

Ainda antes da atribuição dos Óscares, a ativista transexual Paris Lees escrevia no jornal britânico “The Independent” que “é muito bom termos uma personagem transexual num filme para o grande público”. Mas deixava a crítica, sob a forma de pergunta: “É triste que mais uma vez seja um homem a fazer o papel de uma mulher transexual? Um pouco.”

No dizer de Paris Lees, os produtores de “O Clube de Dallas” trabalharam de perto com consultores transexuais. Mas isso não chega. “Se querem retratos fiéis de pessoas transexuais, escolham atores transexuais”, escreveu.

Jared Leto tinha sido vaiado no início de fevereiro durante o festival de cinema de Santa Bárbara, na Califórnia. Uma mulher não identificada acusou-o de “transmisóginia”, segundo o jornal “O Globo”. O facto de ele ser um homem e aceitar fazer a personagem de uma mulher transexual foi o motivo da crítica. Na ocasião, Jared Leto reagiu com uma pergunta: “Uma pessoa gay ou lésbica não pode fazer personagens heterossexuais?”

Bruno Horta