Os ativistas da luta contra o cancro saudaram a decisão da atriz Angelina Jolie de tornar pública a sua dupla mastectomia, mas advertiram que as mulheres não devem ir todas a correr fazer testes em busca de uma mutação genética que represente um risco para as suas vidas.

"Não queremos que todas digam 'quero fazer o teste'", afirmou o médico-chefe da Sociedade Americana de Cancro, Otis Brawley, em entrevista por telefone à AFP.

"Queremos que as pessoas pensem no seu histórico familiar e falem com o seu médico", que poderá encaminhá-las para um conselheiro genético de forma a determinar a necessidade do teste, disse Brawley.

"As mulheres com familiares de primeiro grau - ou seja, uma irmã ou a mãe - que tenha tinho cancro de mama ou de ovário em idade precoce deveriam especialmente ter esta conversa", afirmou. No caso de Angelina Jolie, o familiar foi a sua mãe que morreu de cancro de ovário aos 56 anos.

Num artigo intitulado "A minha opção médica", publicado no jornal The New York Times, Jolie contou ter-se submetido a testes genéticos que confirmaram que era portadora de uma mutação genética conhecida como BRCA1.

A BRCA1 costuma ser rara na população feminina, mas também é caro fazer exames para rastrear este tipo de gene.

No artigo, Jolie lamentou que o teste para detectar o BRCA1 assim como outro gene defeituoso que pode levar ao cancro, como o BRCA2, custe mais de 3.000 dólares nos Estados Unidos (cerca de 2.300 euros), o que representa "um obstáculo para muitas mulheres".

Um laboratório americano, o Myriad Genetics, é o único no país a oferecer este teste e, atualmente, trava uma polémica batalha jurídica no Supremo Tribunal sobre os direitos de patente dos genes BRCA1 e BRCA2. O parecer é aguardado para junho.

Embora o laboratório tenha-se recusado a confirmar ou desmentir se foi o responsável pelo teste feito à atriz, as ações da Myriad Genetics subiram 4% esta terça-feira na bolsa eletrónica Nasdaq para 34,45 dólares, o melhor nível desde meados de 2009, antes de recuar um pouco.

"Acreditamos firmemente que o uso apropriado de muitos dos nossos testes de diagnósticos poderia ajudar a reduzir as doenças, hospitalizações e intervenções caras e potencialmente baixar o custo do tratamento", informou a empresa, em comunicado.
Outros laboratórios na Europa oferecem o mesmo teste, segundo a American Civil Liberties Union, que enfrenta a ação de patentes da Myriad Genetics na justiça.

Segundo o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos, estima-se que 12% de todas as mulheres no país vão desenvolver cancro em algum momento da sua vida, embora a probabilidade seja 5 vezes maior para as poucas que têm a mutação BRCA1 e BRCA2, segundo informações divulgadas no site oficial do instituto.

As duas mutações podem ocorrer também em homens, aumentando o risco de desenvolverem cancro de mama, pâncreas, testículos e próstata.