O serviço militar deveria ser reabilitado para que as elites políticas tivessem uma noção menos ingénua da vida. “Os empresários, os políticos e as elites que hoje nos governam não cumpriram o serviço militar, o que é uma receita para o desastre”, diz Camille Paglia. “Como o pensamento bélico não existe, cria-se a ilusão de que as pessoas são boas e amáveis e que se as tratarmos com deferência elas respondem da mesma maneira. As elites não têm a mínima noção de que há maldade e delinquência.”

Camille Paglia, de 66 anos, tornou-se conhecida nos EUA em 1990 ao publicar o ensaio “Personas Sexuais”, que só em 2007 seria traduzido em Portugal. É professora de Humanidades e Media na Universidade de Filadélfia e quando escreve ou faz intervenções públicas costuma emitir opiniões polémicas.

A sua mais recente entrevista não foge à regra. Foi publicada há dias na edição online de The Wall Street Journal.

A ensaísta defende que todas as pessoas, sejam homens ou mulheres, “precisam de estar permanentemente à defesa” porque “o mundo está cheio de potenciais perigos e desgraças.”

Seguindo uma linha de argumentação que lhe é conhecida, Camille Paglia reafirma que os problemas das sociedades Ocidentais – da norte-americana, pelo menos – se devem à influência negativa de certas correntes do feminismo. Paglia é lésbica e considera-se uma feminista heterodoxa. De acordo com The Wall Street Journal, tem um filho de 11 anos, Lucien, cuja educação partilha com a ex-companheira, a artista Alison Maddex.

“As questões de género tal como hoje são ensinadas nas faculdades procuram neutralizar a masculinidade”, diz, o que gera homens “acanhados e com medo de falar”. “A masculinidade está a tornar-se algo que se imita a partir do que se vê nos filmes. Já não sobra nada. Deixou de haver espaço para qualquer manifestação de masculinidade.”

O resultado, conclui a ensaísta, está em que os homens não comunicam com as mulheres e buscam refúgio na pornografia online. A pornografia é, aliás, o único terreno em que homens e mulheres podem hoje encontrar a “energia primária” que a nossa cultura assexuada quer esconder, acentua Paglia.

A origem destes problemas está no predomínio de correntes do feminismo que “protegem um estilo de vida burguês”, criam uma “mentalidade infantil” e um ambiente social “desumano e antisséptico”.

Bruno Horta