O tema da entrevista é a caça furtiva de elefantes na Tanzânia. Em estúdio, no programa que Christiane Amanpour apresenta todas as noites na CNN, está o presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete. No fim, Amanpour pede licença para “uma última pergunta”.

“Os direitos dos homossexuais são um tema central neste início de século. Em África, incluindo a Tanzânia, é ilegal. As pessoas podem ser multadas ou presas durante 30 anos ou para toda a vida. A Tanzânia não deveria assumir que se trata de um direito humano e abolir as leis que criminalizam o sexo consensual entre adultos?”

Supreendido, Jakaya Kikwete responde: “Ainda vai demorar até que o nosso povo aceite as normas do Ocidente.” A jornalista insiste: “Quer que isso aconteça?” O presidente tanzaniano sorri e diz “não sei”. “Não é a altura certa para discutir este tema”, acrescenta Jakaya Kikwete. “Pela nossa parte, continuaremos a perguntar”, remata a jornalista.

O programa foi para ar esta quinta-feira à noite e o vídeo está disponível no site de Christiane Amanpour.

A Tanzânia, que faz fronteira a Sul com Moçambique, é considerado pela associação Human Rights Watch um país anti-gay cujo discreto perfil internacional torna a discriminação invisível .

?Não é a primeira vez que a jornalista aborda estes temas. A 6 de janeiro dedicou um programa à questão dos direitos dos homossexuais na Nigéria e entrevistou Bisi Alim, um cidadão nigeriano que se assumiu como homossexual em 2004 na televisão do seu país. Terá sido a primeira pessoa a fazê-lo na Nigéria.

Depois da revelação, Bisi Alim ficou desempregado e sem possibilidades de arranjar novo emprego. “A minha vida passou a estar em perigo. Bateram-me, fui preso pela polícia e depois libertaram-me”, disse Bisi Alim na CNN. Acabou por pedir asilo político ao Reino Unido, onde vive agora.

A Nigéria aprovou no início do ano uma lei anti-gay, segundo a qual “são proibidas demonstrações públicas de afeto entre pessoas do mesmo sexo, de forma direta ou indireta”. A lei foi confirmada pelo presidente Goodluck Jonathan e proíbe também o casamento entre homossexuais e a existência de manifestações pró-gay. Quem as organizar incorre numa pena de prisão até 10 anos.

“A Nigéria é um estado laico, mas quantas pessoas conseguem elaborar sobre a sexualidade fora dos conceitos que lhes são dados pelas pelo Alcorão e pela Bíblia?", questionou Bisi Alim na CNN.

Bruno Horta